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"OPERAÇÃO BONECA"
Empresas compram produtos da China e informam que procedência é do Uruguai, que oferece vantagens fiscais
Importação subfaturada de brinquedo é alvo da Receita
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
As fraudes na importação de
brinquedos, que envolvem o subfaturamento de preços, a pirataria
e até operações irregulares para
"esquentar" notas no Uruguai
preocupam empresários da indústria e do comércio. Fabricantes já pedem à Polícia e à Receita
Federal uma "Operação Boneca"
-em alusão a ações realizadas
por auditores e policiais para
combater a sonegação fiscal.
Levantamento da Abrinq (associação da indústria de brinquedos), a partir de dados do Ministério da Fazenda, mostra que, de
janeiro a julho deste ano, foram
abertos 218 processos envolvendo
93 empresas por problemas na
importação. A Wal-Mart Brasil
Ltda. e a Cotia Trading S.A. estão
nessa lista, apurou a Folha.
"O setor vive um momento de
bandalheira geral. Esses 218 processos abertos pela Receita se referem a importações que passaram pelo canal vermelho da fiscalização. E o que entra pelo canal
verde [em média 85% das importações] e nunca é fiscalizado?",
questiona Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq.
A cotação internacional do quilo de brinquedo é, em média, de
US$ 10. Mas os produtos entram
no Brasil por US$ 2,90 o quilo, segundo Batista da Costa.
A Receita diz que o setor é
"complicado" e que vai apertar a
fiscalização a partir de setembro
-às vésperas do Dia da Criança.
Ronaldo Lázaro Medina, coordenador-geral de administração
aduaneira da Receita, diz que o
subfaturamento de preços, a pirataria e a importação de "quinquilharias" são os principais problemas enfrentados nesse setor.
"Há casos em que o subfaturamento chega à proporção de um
para dez do valor da mercadoria.
Se o brinquedo custa US$ 10 o
quilo, entra no país por apenas
US$ 1", afirma Medina.
Testes
Para tornar a vigilância mais eficiente, os fiscais vão encaminhar
brinquedos apreendidos para testes em laboratórios. Vão verificar
se o produto importado é o que
está descrito nas notas fiscais.
"Estamos preparando novos procedimentos de fiscalização. Em
caso de suspeita, vamos fazer o
teste de qualidade do produto."
A Receita apreendeu de janeiro
a julho R$ 3,425 milhões em brinquedos trazidos aos portos brasileiros de forma fraudulenta. Os
fabricantes estimam que esse valor represente 10% das importações irregulares feitas no Brasil.
Só no porto de Santos foram
apreendidos 18 mil quilos de brinquedos, no valor de R$ 136 mil, de
janeiro a julho. No ano passado
todo, foram nove apreensões de
7.839 quilos de brinquedos, no
valor de R$ 80 mil.
Na última terça-feira, a Fera
(Força Especial de Repressão
Aduaneira) encontrou mais de
100 mil itens pirateados na alfândega do porto de Santos. Entre as
falsificações, estavam brinquedos
das marcas Hello Kitty, KeroKero
e Power Rangers. Os produtos de
origem chinesa vinham dos EUA.
"O comércio de brinquedos ilegal está fora de controle no país.
Basta olhar o que está à venda nas
esquinas de São Paulo", diz Ricardo Sayon, diretor comercial da Ri
Happy, rede com 73 lojas. "Minha
teoria é que essa situação só se resolve com uma campanha de educação pública para coibir a compra de produtos piratas, sem selo
de qualidade e subfaturados."
O empresário defende a importação regular -com o recolhimento de impostos e o pagamento de royalties- como forma de
manter o mercado atualizado.
"Não fabricamos no Brasil carro
de controle remoto, nem olho,
nem cabelo de boneca. Esses produtos precisam ser importados."
Notas "quentes"
Para subfaturar a importação de
brinquedos, as empresas compram os produtos na China, mas
informam, nas notas fiscais, que
os brinquedos vieram do Uruguai, país que oferece vantagens
fiscais no comércio exterior.
Exemplo: o importador compra
de um fabricante chinês a mercadoria por US$ 100. O produto é
enviado ao Brasil, mas as notas
vão para uma trading uruguaia.
Ao mesmo tempo, o importador brasileiro declara à Receita
que a compra foi feita por US$ 30,
como confirmam as notas que
chegam do país vizinho.
"É uma operação ilícita porque
só ocorre no papel para esquentar
as notas fiscais. Há sites especializados que ensinam a fazer essas
operações", diz Batista da Costa.
Na estimativa da Abrinq, 40% dos
260 importadores que trouxeram
brinquedos ao país em 2004 fizeram compras via Uruguai. "Prestei depoimento à PF para detalhar
como funciona esse esquema."
A Receita diz que a prática de
subfaturamento envolve, principalmente, empresas de pequeno e
médio portes e "laranjas".
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