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Após carreira "no grito", operador tenta vaga em corretoras
DA REPORTAGEM LOCAL
"Vejo com muita tristeza isso
que está acontecendo. É um pedaço da minha história que vai ser
enterrada." Luiz Spósito, 66, é o
símbolo do desconsolo por que
passam operadores de diferentes
épocas que ganharam a vida "no
grito" por muito tempo.
Spósito começou a trabalhar no
mercado em 1960. Hoje é um dos
pouco mais de 40 operadores que
pouco têm o que ainda fazer no
pregão da Bovespa. Futuro?
"Na minha idade, não sei de que
forma serei reaproveitado na corretora em que trabalho. Como já
sou aposentado, nem acho que
meu caso seja o mais grave. Mas
tem gente aí muito assustada,
com uns 40 anos, temerosa de
perder o emprego. E é difícil se recolocar no mercado nessa idade."
Para Ramiro Lopes, diretor-executivo do Simc (Sindicato dos
Trabalhadores do Mercado de
Capitais de São Paulo), o fim do
pregão viva-voz vai gerar mais desemprego entre os profissionais
da área.
"Muitos profissionais foram demitidos e hoje têm que atuar como autônomos, pois durante
mais de 20 anos viveram dentro
do mercado e só sabem fazer isso", disse Lopes.
Além de fazer sua vida no mercado, Spósito viu dois de seus filhos seguirem o mesmo caminho.
Mas os filhos do operador -possivelmente o profissional com
mais tempo de mercado- já não
atuam no pregão viva-voz, mas
dentro das corretoras.
Saudades
Spósito mostra grande nostalgia
ao relembrar momentos que passou no pregão da Bolsa. "Quando
havia um fato novo, como a descoberta de um poço da Petrobras,
a correria era imensa. Já vi gente
perder sapato, derrubar mesa,
cair no chão, tudo na tentativa de
fechar um negócio."
Segundo o conselheiro da Bovespa e diretor da corretora Bradesco, Aníbal Santos, a desativação do viva-voz atende ao desejo
das próprias corretoras. Além disso, o sistema tem hoje uma representatividade muito pequena no
total de negócios.
Santos afirma, porém, que muitos dos operadores que atuavam
no viva-voz foram realocados pelas corretoras, passaram a atuar
no pregão da quase vizinha
BM&F ou foram absorvidos pela
própria Bovespa no programa de
popularização do mercado de
ações "Bolsa Vai até Você".
O diretor do Simc afirma, porém, que os operadores que saíram do pregão para participar do
programa da Bolsa paulista reduziram "significativamente" seus
rendimentos. "Mas não adianta
querer lutar contra uma tendência mundial. Não tem como ser
contra o avanço do sistema eletrônico", conclui Santos.
Para Spósito, aposentar símbolos da Bolsa de Valores como o telefone sem fio sempre à mão (com
o qual se entra em contato com a
mesa de operações da corretora)
não vai ser uma tarefa simples.
"Minha história se confunde com
quase 40% da história da própria
Bovespa", afirma.
Rotina ainda viva
Na BM&F, onde ainda há um
pregão viva-voz bem ativo, o dia-a-dia do operador é dividido em
duas etapas: a primeira vai das
10h às 13h, e a segunda, das 14h às
16h. "O ideal é não deixar o pregão no horário de negociação.
Mesmo uma emergência, como
precisar ir ao banheiro, é melhor
ser adiada o quanto for possível",
afirma Masato Hishijima, operador da BM&F. "Sair do pregão
pode significar deixar de fechar
um negócio rentável."
Colaborou a Folha Online
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