|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RODÍZIO
Antes voltados só à produção de lã, empresários ampliam oferta de carne de qualidade, que ganha espaço nos cardápios
Criação e consumo de cordeiro aumentam
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O brasileiro começa a descobrir
a carne de cordeiro. Uma atividade importante há algumas décadas no Brasil, principalmente no
Sul, a ovinocultura reaparece,
mas com outro enfoque: o da produção de carnes de qualidade para o consumo.
Ainda longe dos padrões e da
quantidade consumida pelos líderes mundiais, a situação brasileira
deverá ser bem diferente dentro
de uma década. É o que prometem os empresários que se lançam
em novos e grandes investimentos no setor.
O consumo nacional de carne
de cordeiro não passa de 700 gramas per capita por ano, muito
abaixo dos 18 quilos consumidos
na Nova Zelândia. No Rio Grande
do Sul, a média, no entanto, é de 7
quilos per capita por ano.
Detentor de um rebanho de 20
milhões de cabeças de ovelhas no
início dos anos 90, o país terminou a década passada com apenas
14 milhões. Voltado antes apenas
para a produção de lã, esse setor
sentiu a forte concorrência das fibras sintéticas e da redução dos
preços no mercado externo.
Com isso, a indústria gaúcha, líder nacional, praticamente parou.
Há 20 anos, o Rio Grande do Sul
tinha 26 cooperativas de produtores de lã. Hoje são apenas três, que
não operam com toda a capacidade instalada.
Não é só churrasco
Mas os investidores nos novos
projetos de ovinocultura prometem tirar a carne de cordeiro apenas dos churrascos semanais e colocá-la no dia-a-dia dos consumidores brasileiros.
Valdomiro Poliselli Júnior, dono da VPJ, um investidor na pecuária e que há dois anos optou
também pela ovinocultura, diz
que a oferta de carne está limitada
atualmente apenas a restaurantes
e a hotéis, mas que em dez anos o
Brasil vai ter boa oferta interna e
começar a "incomodar" os grandes produtores mundiais, a exemplo do que está fazendo com as
carnes bovina, suína e de frango.
Com o rebanho brasileiro em
cerca de 15,5 milhões de cabeças, a
oferta interna de carne ainda é reduzida, o que força restaurantes e
hotéis a complementar a demanda com importações de Uruguai,
Chile, Argentina e Nova Zelândia.
A oferta do produto nos supermercados também é restrita e
com preços pouco convidativos
aos consumidores. As estatísticas
no setor são precárias, mas se estima que de 50% a 90% da carne
consumida nos grandes centros
seja importada.
"Cresce muito o consumo de
carne de cordeiro no Brasil, e o
problema é a continuidade no
fornecimento, já que a demanda é
maior do que a oferta", diz Belarmino Iglesias, da rede de restaurantes Rubaiyat.
Esse aquecimento da demanda
é confirmado também por Jandir
Dalberto, diretor de operação do
grupo Fogo de Chão. Há dez anos,
consumíamos de 100 a 200 quilos
de carne de cordeiro por mês.
Atualmente, consumimos 4.000
quilos por mês em cada uma das
nossas unidades, diz Dalberto.
O diretor do Fogo de Chão diz
que, apesar do crescimento da demanda, não tem havido problema
no abastecimento, já que todos os
produtores querem vender para a
rede, que é uma vitrina para eles.
Já o Rubaiyat, que tem produção própria de quase toda a matéria-prima que utiliza na rede de
restaurantes, acaba de incluir as
ovelhas na Fazenda Rubaiyat.
Uma verdadeira Arca de Noé, a
fazenda produz boi, porco, javali,
frango caipira, arroz, feijão e, em
quatro meses, deverá auto-abastecer-se de carne de cordeiro.
Iglesias diz que o consumidor
está cada vez mais exigente e, por
isso, o Rubaiyat quer manter escala de produção com qualidade
constante. Os cordeiros serão
abatidos com 40 dias.
Poliselli Júnior admite que a
carne de cordeiro ainda é cara,
mas que projetos atuais de produção vão permitir oferta maior e
preço menor. Após avaliar criações no Canadá, na África do Sul,
na Nova Zelândia e na Austrália, o
proprietário da VPJ diz que a ovinocultura "tem tudo para um
bom desenvolvimento no Brasil".
O empresário, que já importou
animais da Austrália, espera para
setembro a chegada de 3.000 embriões da África do Sul.
Genética
Paulo Afonso Schwab, criador e
presidente da ABCO (Associação
Brasileiro de Criadores de Ovinos), também acredita no bom
desempenho futuro para a ovinocultura no país. "Houve redução
no tamanho do rebanho nos últimos anos, mas a genética é comparada à dos melhores países produtores", diz ele.
Esse melhoramento da genética
vai permitir grande avanço da
produção, diz Schwab. Ele acredita que o rebanho possa passar dos
atuais 15,5 milhões de cabeças para 100 milhões rapidamente.
"É possível imaginar, até, uma
ovelha para cada boi, o que elevaria o rebanho brasileiro para cerca
de 200 milhões de cabeças", segundo ele.
João Paulo Garcia, veterinário
da Emater em Pelotas (RS), afirma que um dos suportes desse
avanço da ovinocultura pode ser a
nova mentalidade do produtor.
Há 20 anos, a atividade era considerada como secundária. Hoje
recebe muito mais atenção dos
criadores.
Fábio Schlick, da Emater de Bagé (RS), diz que a cadeia passa por
uma reorganização, voltada principalmente para o abate. Com a
entrada da chamada "propriedade familiar" na ovinocultura, busca-se a melhoria da genética, da
alimentação e das pastagens.
Texto Anterior: Acerto com o Leão: Isentos começam a declarar IR na quinta Próximo Texto: Ovelha rende 5 vezes mais que boi Índice
|