São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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RODÍZIO

Antes voltados só à produção de lã, empresários ampliam oferta de carne de qualidade, que ganha espaço nos cardápios

Criação e consumo de cordeiro aumentam

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O brasileiro começa a descobrir a carne de cordeiro. Uma atividade importante há algumas décadas no Brasil, principalmente no Sul, a ovinocultura reaparece, mas com outro enfoque: o da produção de carnes de qualidade para o consumo.
Ainda longe dos padrões e da quantidade consumida pelos líderes mundiais, a situação brasileira deverá ser bem diferente dentro de uma década. É o que prometem os empresários que se lançam em novos e grandes investimentos no setor.
O consumo nacional de carne de cordeiro não passa de 700 gramas per capita por ano, muito abaixo dos 18 quilos consumidos na Nova Zelândia. No Rio Grande do Sul, a média, no entanto, é de 7 quilos per capita por ano.
Detentor de um rebanho de 20 milhões de cabeças de ovelhas no início dos anos 90, o país terminou a década passada com apenas 14 milhões. Voltado antes apenas para a produção de lã, esse setor sentiu a forte concorrência das fibras sintéticas e da redução dos preços no mercado externo.
Com isso, a indústria gaúcha, líder nacional, praticamente parou. Há 20 anos, o Rio Grande do Sul tinha 26 cooperativas de produtores de lã. Hoje são apenas três, que não operam com toda a capacidade instalada.

Não é só churrasco
Mas os investidores nos novos projetos de ovinocultura prometem tirar a carne de cordeiro apenas dos churrascos semanais e colocá-la no dia-a-dia dos consumidores brasileiros.
Valdomiro Poliselli Júnior, dono da VPJ, um investidor na pecuária e que há dois anos optou também pela ovinocultura, diz que a oferta de carne está limitada atualmente apenas a restaurantes e a hotéis, mas que em dez anos o Brasil vai ter boa oferta interna e começar a "incomodar" os grandes produtores mundiais, a exemplo do que está fazendo com as carnes bovina, suína e de frango.
Com o rebanho brasileiro em cerca de 15,5 milhões de cabeças, a oferta interna de carne ainda é reduzida, o que força restaurantes e hotéis a complementar a demanda com importações de Uruguai, Chile, Argentina e Nova Zelândia.
A oferta do produto nos supermercados também é restrita e com preços pouco convidativos aos consumidores. As estatísticas no setor são precárias, mas se estima que de 50% a 90% da carne consumida nos grandes centros seja importada.
"Cresce muito o consumo de carne de cordeiro no Brasil, e o problema é a continuidade no fornecimento, já que a demanda é maior do que a oferta", diz Belarmino Iglesias, da rede de restaurantes Rubaiyat.
Esse aquecimento da demanda é confirmado também por Jandir Dalberto, diretor de operação do grupo Fogo de Chão. Há dez anos, consumíamos de 100 a 200 quilos de carne de cordeiro por mês. Atualmente, consumimos 4.000 quilos por mês em cada uma das nossas unidades, diz Dalberto.
O diretor do Fogo de Chão diz que, apesar do crescimento da demanda, não tem havido problema no abastecimento, já que todos os produtores querem vender para a rede, que é uma vitrina para eles.
Já o Rubaiyat, que tem produção própria de quase toda a matéria-prima que utiliza na rede de restaurantes, acaba de incluir as ovelhas na Fazenda Rubaiyat.
Uma verdadeira Arca de Noé, a fazenda produz boi, porco, javali, frango caipira, arroz, feijão e, em quatro meses, deverá auto-abastecer-se de carne de cordeiro.
Iglesias diz que o consumidor está cada vez mais exigente e, por isso, o Rubaiyat quer manter escala de produção com qualidade constante. Os cordeiros serão abatidos com 40 dias.
Poliselli Júnior admite que a carne de cordeiro ainda é cara, mas que projetos atuais de produção vão permitir oferta maior e preço menor. Após avaliar criações no Canadá, na África do Sul, na Nova Zelândia e na Austrália, o proprietário da VPJ diz que a ovinocultura "tem tudo para um bom desenvolvimento no Brasil".
O empresário, que já importou animais da Austrália, espera para setembro a chegada de 3.000 embriões da África do Sul.

Genética
Paulo Afonso Schwab, criador e presidente da ABCO (Associação Brasileiro de Criadores de Ovinos), também acredita no bom desempenho futuro para a ovinocultura no país. "Houve redução no tamanho do rebanho nos últimos anos, mas a genética é comparada à dos melhores países produtores", diz ele.
Esse melhoramento da genética vai permitir grande avanço da produção, diz Schwab. Ele acredita que o rebanho possa passar dos atuais 15,5 milhões de cabeças para 100 milhões rapidamente.
"É possível imaginar, até, uma ovelha para cada boi, o que elevaria o rebanho brasileiro para cerca de 200 milhões de cabeças", segundo ele.
João Paulo Garcia, veterinário da Emater em Pelotas (RS), afirma que um dos suportes desse avanço da ovinocultura pode ser a nova mentalidade do produtor.
Há 20 anos, a atividade era considerada como secundária. Hoje recebe muito mais atenção dos criadores.
Fábio Schlick, da Emater de Bagé (RS), diz que a cadeia passa por uma reorganização, voltada principalmente para o abate. Com a entrada da chamada "propriedade familiar" na ovinocultura, busca-se a melhoria da genética, da alimentação e das pastagens.


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