São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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MERCADO TENSO
Valor é o maior desde 8 de março; BC anuncia intenção de emitir novo lote de bônus no exterior
Dólar fecha semana cotado a R$ 1,94

da Sucursal de Brasília

da Reportagem Local

O dólar comercial voltou a apresentar alta consistente ontem, fechando a R$ 1,941, seu valor mais alto desde 8 de março.
A diferença é que em março a moeda vinha em queda, após atingir pico de R$ 2,16 com a liberação do câmbio. Agora, o dólar vem apresentando alta.
Em relação a anteontem, o valor de fechamento representou uma elevação de 1,15%. Desde o início de agosto, a moeda apresenta valorização acumulada de 7,71%.
Não houve exatamente fatos novos para justificar a alta do dólar ontem, segundo operadores de câmbio.
A possibilidade de a Colômbia extinguir o regime de banda cambial e a renegociação da dívida externa equatoriana trouxeram algum nervosismo para o mercado brasileiro, mas não foram causas primárias da elevação.
A situação política pouco favorável ao presidente Fernando Henrique Cardoso e a falta de uma votação de impacto no Congresso continuam sendo apontadas como motivos de preocupação, que levam bancos e empresas a buscarem proteção no dólar.
O mercado sem liquidez (o único vendedor de grandes lotes nas últimas semanas foi o BC) pressionou a cotação mais uma vez: uma operação de saída de US$ 100 milhões feita por um banco nacional já ditou os rumos dos negócios ontem.
"Não há nada extraordinário. Os bancos estão tendo demanda de seus clientes por dólar pronto", afirmou José Roberto Leme Ferraz, da Safic Corretora.
O governo voltou a promover um leilão antecipado de NBC-Es (Notas do Banco Central, série Especial), títulos públicos que oferecem proteção cambial e juros prefixados.
O lote oferecido foi de R$ 1,035 bilhão, mas o mercado absorveu apenas R$ 1,027 bilhão, com juros de 14% ao ano (0,27 ponto percentual a menos que os pagos no leilão de quarta-feira).
Os títulos só serão emitidos em setembro (o leilão foi antecipado pelo BC). Por isso influenciou pouco no mercado ontem.
Uma medida divulgada pelo Banco Central pode dar alívio ao câmbio, com a entrada de mais dólares no país.
O BC anunciou que pretende fazer uma nova emissão de bônus da República no mercado europeu. A data não está marcada.
Duas instituições financeiras européias, o ABN-Amro e o Paribas, foram contratadas para liderar a colocações de papéis brasileiros, segundo comunicado divulgado ontem pelo BC.
O BC declarou que resolveu fazer uma nova emissão de papéis "após o sucesso da emissão em euro, em julho último". Nessa colocação, o BC arrecadou em euros o equivalente a US$ 853 milhões.
Embora pague juros mais altos, o dinheiro captado pelo BC por meio da emissão de títulos têm maior utilidade que os empréstimos levantados no acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), pois podem ser usados integralmente para atenuar movimentos de alta do dólar.
A declaração oficial não faz nenhuma menção a prazos e custos. A assessoria de imprensa do BC afirmou que as condições serão definidas no momento favorável.
Nesta semana, a própria assessoria do BC havia negado que o BC iria lançar brevemente bônus no mercado europeu. A notícia havia sido veiculada por agências internacionais, que atribuíram a informação a fontes do ABN.
Essa será a terceira emissão de títulos no exterior feita pelo governo desde a desvalorização do real, ocorrida em janeiro passado. A volta da União ao mercado de capitais ocorreu em abril, quando o BC vendeu R$ 3 bilhões em bônus globais.
Do total, R$ 2 bilhões ingressaram como dinheiro novo e R$ 1 bilhão foi destinado à troca de papéis que teriam vencimento nos próximos anos.
Segundo o memorando de política econômica divulgado na terceira revisão do acordo com o FMI, as emissões de títulos feitas pelo BC têm o objetivo de rolar a dívida que vencerá no próximo semestre e também criar taxas de referência às captações de empresas no exterior.
O BC já informou que pretende fazer mais de uma captação até o final do ano, caso as condições de mercado sejam favoráveis.
O BC fez um pedido de registro para a SEC (órgão regulador do mercado de capitais dos EUA) para a colocação de até US$ 10 bilhões em papéis denominados em dólar. Esse limite poderá ser usado aos poucos.


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