São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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Ajuste fiscal preocupa, diz diretor do BC

do FolhaNews

As maiores dúvidas do mercado financeiro estão relacionadas à questão fiscal do próximo ano e à capacidade de o governo manter intocado o cofre público. Essa é a opinião do diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, que participou de seminário ontem em São Paulo.
Segundo ele, essas dúvidas se originam na lógica de que o mercado tem de pensar sobre resultados anteriores (experiências passadas). "O sistema ainda age como se houvesse muito dinheiro externo de curto prazo em circulação, o que não acontece mais."
Com relação ao hedge (proteção) no sistema financeiro, Figueiredo afirmou que o Banco Central tem uma visão de longo prazo para diminuir essas operações. De acordo com ele, as empresas, em especial as multinacionais, fazem hedge de seu patrimônio buscando proteção. Outras companhias atuam no mercado quando a taxa de câmbio está muito alta.
"É um erro achar que o câmbio sempre está em alta e que é preciso se proteger. O câmbio é flutuante. Quando o câmbio chega a R$ 1,95 é sinal de que o termômetro está quebrado. Nesse patamar, a taxa é um overshooting. Esse processo faz parte da aprendizagem com o câmbio flutuante."
Segundo Figueiredo, a busca por hedge pode ter colaborado para elevar a taxa de câmbio nos últimos dias. Ele disse ainda que as empresas terão de adotar uma política de proteção que atenda suas expectativas.
"Não se pode fazer hedge a qualquer preço. Quando o câmbio era fixo, as empresas faziam hedge e perdiam no máximo 1%. Agora, com o câmbio flutuante, elas podem perder até 5%."

Credibilidade
Figueiredo afirmou ainda que a credibilidade do Brasil já está restabelecida dos efeitos negativos da desvalorização cambial. Segundo ele, hoje o país tem sobra de capital externo e as projeções de inflação estão entre 12% e 13% para o IGP-M e entre 6,5% e 7% para o IPC da Fipe.
"Essas taxas de inflação estão dentro do esperado e a recuperação do Brasil foi melhor do que a dos demais países que passaram por processo semelhante", disse.
Figueiredo afirmou que o saldo da balança comercial deve ser positivo no próximo ano. Segundo ele, isso deve acontecer pela recuperação dos preços das commodities e pela volta do crescimento econômico na Ásia, que é o principal importador do país.
O Banco Central se reuniu anteontem à noite para discutir o desenvolvimento dos mercados secundários de títulos. A reunião foi quase conclusiva sobre as modificações que o BC pretende fazer no sistema. Segundo Figueiredo, quando a proposta estiver pronta será levada para discussão com representantes do mercado financeiro. "Já contamos com apoio de muitos bancos e de instituições de classe."
De acordo com Figueiredo, haverá mudanças nos leilões que são realizados pelo BC e nos papéis que são ofertados. "O Banco Central também está estudando uma nova forma de operar no mercado overnight e de não apenas oferecer papéis, mas comprá-los." O objetivo da mudança, segundo ele, é fazer com que o mercado de títulos se torne transparente.


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