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Mantega agora promete corte de gastos
Ministro diz que eventual segundo mandato de Lula faria corte nas despesas correntes de 0,1 a 0,2 ponto percentual do PIB
Redução de gastos mais crescimento de 5% e queda de juro real para 5% ao ano levariam déficit nominal
a zero, afirma Mantega
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Às vésperas da eleição, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que um
eventual segundo governo do
PT fará um corte anual de 0,1 a
0,2 ponto percentual do PIB
em gastos correntes, a fim de
alcançar, no futuro, o déficit
nominal zero nas contas públicas, uma das principais propostas do candidato tucano Geraldo Alckmin. Dependendo do
Orçamento, o modelo poderá
ser adotado já em 2007.
Diferentemente do tucano,
que defende um corte de gastos
de 3% do PIB ao longo de seu
possível mandato, Mantega
disse que não fará "choque fiscal" para zerar o déficit.
"É perfeitamente possível o
país atingir o déficit nominal
zero sem nenhum choque fiscal. Isso que é importante. Com
choque fiscal você faz de um dia
para o outro, mas cria uma série de inconvenientes. [Faremos] sem criar inconvenientes,
nenhum trauma na economia,
sem nenhum corte abrupto,
mas seguindo a trajetória fiscal
que está implantada."
Para Mantega, o déficit zero
será atingido com crescimento
de 5% do PIB nos próximos
anos, manutenção de superávit
primário em 4,25% do PIB (nível atual) e uma redução mais
intensa dos juros. Com uma taxa Selic menor, diz, cairão os
gastos da União com o pagamento de juros da dívida.
Mantega estima que, com um
juro real (Selic menos inflação)
de 5% ao ano -hoje está em
torno de 9%-, as despesas financeiras do governo baixarão
de 8% para 4% do PIB (ou de R$
155 bilhões para R$ 78 bilhões).
Ou seja, com uma economia
primária de 4,25% do PIB, seria
possível cobrir todo o gasto
com juros da dívida.
Há oito anos, o Brasil registra
superávit em sua conta primária -o que significa receitas
maiores do que as despesas, excluídos os gastos com o pagamento dos juros da dívida. Alcançar o déficit nominal zero
consiste no equilíbrio das contas, mesmo considerando o
gasto com a dívida pública.
A idéia, diz o ministro, é evoluir gradualmente para o déficit nominal zero. Mantega refuta um "choque fiscal ambicioso", que poderia comprometer despesas na área social.
"É claro que o governo sempre deve procurar fazer um esforço de redução de gasto corrente. E nós procuramos fazer.
Estou propondo que se coloque
um redutor de gastos correntes, modesto, não precisa ser
ambicioso, de 0,1 a 0,2 ponto
percentual do PIB ao ano."
Hoje o gasto corrente do governo está em torno de 17,6%
do PIB (R$ 341 bilhões, em
2005). O objetivo, diz o ministro, é reduzi-lo para 17,5% do
PIB já em 2007. É possível fazer o corte apenas com medidas administrativas, sem mudar a LDO (Lei de Diretrizes
Orçamentárias), segundo Mantega. "Mas isso só será possível
dependendo do Orçamento
que vier do Congresso."
Na LDO enviada ao Congresso em abril, o governo previa
redução de 0,1 ponto percentual do PIB nas despesas correntes de 2007. A proposta ainda não foi aprovada. Em agosto,
quando enviou ao Congresso a
proposta de Orçamento para
2007, o governo não considerou na previsão esse corte previsto na proposta de LDO. As
despesas aumentaram.
O corte de gastos fixos do governo é uma das principais
bandeiras do PSDB, que vê a
iniciativa (como muitos economistas) como forma de reduzir
juros, promover investimentos
e alavancar o crescimento.
Numa crítica velada a economistas tucanos, Mantega reiterou que as "contas públicas já
estão equilibradas", antes mesmo da introdução do redutor da
despesa corrente e sem prejuízo a programas sociais.
"De vez em quando, aparece
alguém dizendo: "Vou fazer um
choque fiscal, vamos fazer um
corte drástico de gastos públicos de 3% do PIB". Fazer um
corte radical não é muito difícil.
Você senta lá na cadeira e manda bala. Corta tudo, corta vários
gastos, imobiliza o governo,
corta todos os investimentos,
corta os gastos sociais. Assim,
consegue fazer essa redução,
mas acho que não é produtiva."
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