São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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Imóveis freiam economia dos EUA no 3º tri

Investimento em construção de casas cai 17,4%, a maior retração desde 1991, e taxa anualizada do PIB avança só 1,6%

Expansão da economia norte-americana é a menor desde o 1º trimestre de 2003; analistas apontam risco maior de recessão


MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia norte-americana cresceu 1,6% no trimestre passado. A taxa é menor do que a esperada pelos analistas do setor privado, que previam 2%, e bem mais baixa do que a do segundo trimestre, quando a maior economia do planeta registrou crescimento de 2,6%. A última vez em que os EUA cresceram tão pouco foi no primeiro trimestre de 2003.
O Departamento de Estatísticas dos EUA divulga taxas anualizadas, ou seja, elas mostram o quanto a economia cresceria em um ano caso a velocidade de um trimestre se repetisse nos próximos trimestres.
Os resultados do terceiro trimestre mostram que o desaquecimento do setor imobiliário já causa estragos. Os investimentos em construção de casas, os grandes responsáveis pelo fraco desempenho do terceiro trimestre, registraram a quarta queda consecutiva e o pior resultado desde o primeiro trimestre de 1991. Desta vez, eles encolheram 17,4%, retração bem maior do que os 11,1% do segundo trimestre.

Déficit
O outro grande fator negativo foi o setor externo. O déficit comercial dos EUA ficou em US$ 639,9 bilhões, contra US$ 624,2 bilhões do segundo trimestre. Como resultado, o setor externo teve contribuição negativa de 0,58 ponto percentual para o resultado do PIB (Produto Interno Bruto).
Os resultados confirmam o que todos os analistas já previam: o impacto negativo que o ajuste do mercado imobiliário teria sobre a economia. Mas não há consenso agora sobre o que os números do terceiro trimestre significam. Para alguns, o setor imobiliário e a economia dos EUA chegaram ao vale do atual ciclo econômico, ou seja, ao fundo do poço, e devem recuperar-se a partir de agora. Para outros, a recessão passou a ser um risco um pouco maior.
"Espere hoje [ontem] pela tradicional corrida dos otimistas com o conto de fadas sobre uma recuperação no quarto trimestre. Mantenho minhas previsões de que o crescimento no quarto trimestre estará entre 0% e 1% e que a economia entrará em recessão no primeiro trimestre de 2007 ou, no máximo, no segundo", avalia em relatório o pessimista Nouriel Roubini, economista da Universidade de Nova York.
"Com a procura provavelmente acelerando no quarto trimestre por conta da queda dos preços de energia, esperamos que o crescimento seja maior nos próximos trimestres, com os fatores negativos diminuindo", avalia, em outro relatório, Peter Andersen, economista do Danske Bank.
A grande incógnita continua sendo o mercado de imóveis. Os que se alinham com Roubini avaliam que a retração do setor, cedo ou tarde, contaminará o consumo, na medida em que as famílias passarem a gastar menos. Por enquanto o consumidor não se abalou com a queda nos preços dos imóveis. O resultado de ontem mostrou os gastos de consumo subindo a um ritmo de 3,1% ao ano, resultado ainda superior, portando, aos 2,1% do trimestre anterior.
A boa notícia é que a inflação parece sob controle. O índice de preços medido pelo relatório de ontem mostra alta de 2% no trimestre, metade da registra no segundo trimestre. O núcleo da inflação, medida que exclui oscilações de preços de alimentos e de energia, também cedeu: era de 2,9% no segundo trimestre e caiu para 1,9% no trimestre passado.
Não parece mais haver dúvidas de que o aperto monetário promovido pelo Federal Reserve (BC americano) tenha surtido os efeitos desejados: reduzir o crescimento e segurar a inflação. De junho de 2004 a junho deste ano, o Fed elevou a taxa básica de juros dos EUA de 1% para 5,25% ao ano. Começam agora as especulações sobre o quanto a economia vai se retrair por conta da alta e, mais, quando o Fed decidirá reduzir as taxas, dando novo alento ao nível de atividade.
"Dado o baixo crescimento, o enfraquecimento do mercado imobiliário e o desempenho do setor externo, parece forte o argumento para que o Fed comece a reduzir a taxa de juros", aconselha Josh Bivens, economista do Instituto de Política Econômica.


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