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BB avança em folha de salário de governos
Instituição responde pelo pagamento de mais de cem prefeituras e 12 Estados; bancos levantam polêmica sobre favorecimento político
Venda de folhas de salário do funcionalismo público reforça os cofres de Estados e prefeituras; vantagem de bancos é ganhar com serviços
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O avanço do Banco do Brasil
num segmento rentável e bastante disputado pelas instituições financeiras, a administração da folha de salários de Estados, prefeituras e estatais, acirrou os ânimos entre os grandes
bancos de varejo, que, agora, levantam a polêmica sobre favorecimento político da instituição controlada pela União.
Nas últimas semanas, o BB
deu dois passos que incomodaram a concorrência: fechou
contrato com os governos da
Bahia e de Minas Gerais, deixando para trás seus principais
rivais Bradesco e Itaú, os responsáveis pelo pagamento do
funcionalismo nesses Estados.
No começo do ano, o Bradesco
perdeu a conta do Maranhão.
Com isso, o BB passa a administrar a folha de pagamento de
12 Estados, 10 deles comandados por petistas -como Acre e
Bahia- ou por políticos da base
aliada -casos de Mato Grosso,
Paraná, Tocantins e Maranhão.
O banco é o responsável pela
folha de mais de cem prefeituras. Recentemente ampliou em
dois anos o contrato com a Prefeitura de Belo Horizonte (comandada pelo petista Fernando Pimentel há dois mandatos),
para prestar serviços até 2012,
também para administração
indireta do município.
Até o final de 2005, a conta
era do Itaú. O BB pagou R$ 35
milhões para assumi-la e, na segunda fase da negociação, desembolsou mais R$ 38 milhões.
O secretário de Finanças da
prefeitura, José Afonso Bicalho, diz que não há nenhuma
orientação política para favorecer o BB e trata-se de um negócio para os Estados e municípios. "Não há tintura ideológica
ou partidária. É uma questão de
valor econômico e comodidade. O governador de Minas Gerais [Aécio Neves, do PSDB]
substituiu o Itaú pelo BB."
Segundo ele, o setor público,
muitas vezes, sente mais conforto ao fazer negócio com outro "ente público", como o BB,
porque evita um longo processo e até questionamentos dos
órgãos fiscalizadores.
"A relação entre entes públicos é mais normal. Se for fazer
licitação, tem que se cercar de
uma série de pareceres para
não ser acusado de favorecer
uma instituição privada."
Com o BB, a negociação é direta, e não por meio de leilão.
Além disso, ele diz que o preço
pago pelo banco é o de mercado
e a instituição, em muitos Estados e prefeituras, é a que tem
condições de atender melhor a
população por estar presente
em todas as regiões.
"Se o BB ou a Caixa não oferecessem um valor de mercado,
aí faríamos uma licitação", diz
Bicalho, rebatendo as críticas
de que o setor público poderia
arrecadar mais num leilão.
As folhas de salário do funcionalismo público e a administração do caixa se tornaram um
ativo importante para governadores e prefeitos. O interesse
na venda desse serviço aumentou depois que que eles ficaram
impossibilitados pela legislação de reforçar o cofre, como no
passado, com operações de antecipação de receita orçamentária -com comprometimento
das receitas futuras para tomar
empréstimos bancários.
Contrapartidas
Segundo a Folha apurou,
além de receberem à vista dos
bancos, alguns prefeitos exigem nos editais de licitação ou
nas negociações diretas a conclusão de obras em hospitais e
até a construção de pontes.
Segundo relato de um executivo da área financeira que pediu para não ser identificado,
há casos no interior de São
Paulo em que, para ganhar a
conta da prefeitura, a instituição teve de se comprometer a
fazer o cabeamento de fibra
ótica da cidade. Em Goiás, foi
exigida a construção de um
prédio para o Judiciário local.
Os bancos pagam caro para
vencer a disputa. A folha de
uma prefeitura como a de São
Paulo vale mais de R$ 600 milhões. A de um Estado pode subir para bilhões de reais. Tudo
porque compram o acesso a
uma clientela numerosa, cativa, com boa remuneração e estabilidade na renda.
Assim, rapidamente o banco
consegue conceder empréstimos com baixo risco de perdas,
vender seguros, planos de previdência, capitalização e vários
outros produtos. Ganha, da
noite para o dia, milhares de
clientes que o fazem subir no
ranking do mercado. Somente
na Prefeitura de São Paulo são
210 mil funcionários.
Nas três empreitadas com
governos estaduais feitas neste
ano, o BB conseguiu 890 mil
clientes, sendo cerca de 100 mil
servidores do Estado do Maranhão, 250 mil da Bahia e 540
mil de Minas Gerais. Ao todo, o
banco já conta com 5 milhões
de servidores públicos na sua
base de clientes.
Na disputa por esse mercado,
alguns governantes estão quitando contratos antes do tempo para vender o serviço para a
concorrência. No Paraná, o governo havia renovado o contrato com o Itaú, mas o atual governador, Roberto Requião (PMDB), que é da base aliada
do presidente Lula, resolveu
rompê-lo e negociar com o BB.
A alegação em defesa do BB
dentro da equipe econômica é
que a decisão foi do governador
paranaense, que pediu uma
proposta ao banco. O BB já perdeu para a concorrência neste
ano cerca de 60 mil servidores
com a substituição da instituição por outra privada.
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