São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2001

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TRABALHO

Deputados se insultam e público quase quebra vidro das galerias da Câmara durante debate da lei que altera CLT

Deputado atira Carta de 88 na testa de colega

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um exemplar da Constituição rasgado e atirado contra um deputado, tumulto nas galerias do plenário e tropa do Batalhão de Operações Especiais para impedir a entrada de manifestantes no prédio. A votação do projeto que flexibiliza a CLT manteve a temperatura alta ontem na Câmara.
Durante o dia, cerca de mil pessoas, segundo a avaliação dos manifestantes, e 400, de acordo com a Polícia Militar, cercaram uma das entradas da Casa. A manifestação foi tranquila.
Quando a sessão para votar o projeto teve início, o clima de tensão começou a dominar o ambiente, com a agitação de sindicalistas nas galerias. Eles batiam no vidro que isola o plenário.
"Deputado que votar nós vamos denunciar". "Dornelles [ministro do Trabalho, Francisco Dornelles", ladrão, meu dinheiro não. Dornelles, salafrário, ministro de banqueiro e empresário", gritavam os manifestantes.
Deputados temiam que o vidro se rompesse. A segurança entrou no plenário afastando os congressistas do local onde, se quebrado, o vidro poderia atingir alguém. Nas galerias, os seguranças agiram para controlar a manifestação e prenderam um sindicalista da CUT (Central Única dos Trabalhadores), liberado minutos depois.
Ainda sob o impacto da confusão, os presentes no plenário assistiram ao deputado Paulo Paim (PT-RS) rasgar a Constituição. Exaltado e nervoso, ele despedaçou o livro na tribuna e atirou-o contra um deputado.
A cena ocorreu quando discursava contra o projeto que flexibiliza a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). O deputado afirmava que estavam rasgando o artigo 7º da Constituição, que trata dos direitos trabalhistas, e retirou a página que mostra o dispositivo. Ao vê-lo rasgar o texto constitucional, o deputado Ricardo Izar (PTB-SP) disse que se tratava de uma "molecagem" e que Paim era "moleque sem vergonha", segundo versão do próprio Izar.
Na versão de Paim, Izar o chamou de "cachorro f.d.p.". Ainda, segundo Paim, houve o seguinte diálogo: "Repete se for homem", teria dito Paim. "Cachorro f.d.p.", teria repetido Izar.
Paim então jogou a Constituição em direção a Izar, atingindo o deputado André Benassi (PSDB-SP). Deputados e seguranças intervieram para evitar uma possível briga entre os deputados. Paim pediu desculpas a Benassi.
O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), anunciou que vai apresentar representação contra Paim por falta de decoro parlamentar. Enquanto Paim e Izar discutiam no plenário, nas galerias o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), tentava resolver o confronto entre seguranças e manifestantes.
Na entrada lateral da Câmara, a tropa do Bope reprimiu uma tentativa de invasão do prédio por cerca de 500 manifestantes. Houve empurra-empurra, mas nenhum incidente foi registrado.



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