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A NOVELA DO CALOTE
Credores estudam usar precedentes do Peru e do Congo para arrestar bens argentinos em caso de moratória
Credores da Argentina ameaçam ir à Justiça
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Credores internacionais decidiram armar-se para um conflito
judicial contra a Argentina. Com
medo de um calote do ministro
Domingo Cavallo, um grupo de
credores anunciou já estar contratando advogados de peso para
assessorá-los ou para pedir na
Justiça o congelamento de contas
e remessas externas da Argentina
se o país decretar a moratória.
Um dos advogados consultados
é David Boies, o mesmo que obteve a condenação da Microsoft na
Justiça e defendeu o ex-vice-presidente Al Gore durante o conflito
eleitoral que transtornou as eleições presidenciais norte-americanas no ano passado.
"Ainda não decidimos que caminho tomar, mas conversamos
com Boies e outros dois advogados sobre assessoria jurídica e sobre um possível processo", disse à
Folha Hans Humes, do Van Eck
Emerging Market Funds, um dos
fundos de investimento envolvidos no processo.
A Folha apurou que outro especialista consultado é o professor
Andreas Lowenfeld, da Faculdade
de Direito da Universidade de
Nova York. Lowenfeld representou o fundo de investimentos
Elliot Associates no processo que
congelou remessas do governo do
Peru no ano passado.
Ontem, o grupo de credores
-criado no âmbito da Associação dos Credores de Mercados
Emergentes- enviou cartas ao
FMI e à Secretaria do Tesouro dos
EUA pedindo que seus direitos
sejam assegurados na reestruturação da dívida argentina.
Se forem à Justiça, eles devem
invocar precedentes recentes de
tribunais de Nova York e de Bruxelas em casos contra o Peru, o
Panamá e o Congo. Esses precedentes permitiram a credores
apreender judicialmente recursos
financeiros desses países mesmo
depois de eles terem decretado
moratórias ou deixado de pagar
títulos específicos.
"Estamos nos protegendo. Até o
momento, não fizemos parte das
negociações sobre o problema da
Argentina", disse Humes. "Enquanto isso, o governo argentino
vem sendo assessorado por bancos de investimento e por um conhecido escritório de advogados
que já ajudou países a decretarem
moratórias."
O escritório a que Humes se referiu como sendo o representante
da Argentina é o Gottlieb, Steen &
Hamilton, de Nova York, o mesmo cujo principal advogado, Lee
C. Buchheit, defendeu o Peru.
Humes não quis dizer quem são
os credores privados da Argentina envolvidos no processo, mas
sugeriu que poderá ocorrer uma
batalha jurídica no dia seguinte a
uma eventual moratória do país.
Sem confirmar nem negar ter
sido consultado pelos credores da
Argentina, Lowenfeld disse que as
chances de os credores privados
obrigarem o país a pagar sua dívida externa, mesmo depois de decretar calote, depende do tipo de
contratos embutidos nos títulos
emitidos pelo governo.
"É preciso que exista a indicação expressa da Justiça de Nova
York como a jurisdição escolhida
para solucionar os conflitos.
Quanto maior o volume de títulos
com essa provisão, mais problemas o governo argentino terá."
O advogado disse ainda que, para entrar com uma ação contra o
governo argentino, é preciso haver outra cláusula garantindo ao
detentor de um título os mesmos
benefícios que o país oferecer a
outros credores.
"Às vezes, um governo beneficia credores que aceitaram pacificamente a troca de títulos depois
de uma moratória. Garantias especiais são oferecidas em troca de
títulos de valor mais baixo."
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