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TAXA
Desaceleração é perigo maior do que a volta da inflação, diz ata do Copom
Medo de que a economia "parasse" fez juro cair mais
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central cortou os juros
em 1,5 ponto percentual na semana passada devido a preocupações em relação à capacidade da
economia em retomar o crescimento, segundo avaliação da ata
da reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária) do Banco
Central, realizada no último dia
19. A taxa de juros caiu de 19% para 17,5% ao ano.
A maior parte dos analistas de
mercado apostava no corte de um
ponto percentual. Mesmo dentro
do Copom, comitê formado pelos
nove membros da diretoria do
BC, a redução de 1,5 ponto não foi
consensual: dois diretores defenderam queda menor.
Ontem, o BC divulgou a ata da
reunião com os motivos que levaram à decisão. "Em sua maioria,
os membros do Copom entenderam que o balanço de riscos para a
atividade e a inflação justificava
desde já um impulso expansionista complementar", diz a ata.
Traduzindo: o "balanço de riscos" é a avaliação do BC de que,
dadas as atuais circunstâncias, a
desaceleração da economia é um
perigo maior do que o de uma
possível volta da inflação. "Impulso expansionista complementar" é o jargão usado para se referir ao corte adicional nos juros.
A decisão foi tomada uma semana antes de o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciar que o crescimento
da economia no terceiro trimestre
ficou em apenas 0,4% em relação
ao trimestre anterior. O número
surpreendeu, já que alguns analistas falavam que o PIB (Produto
Interno Bruto) poderia ter crescido até 3% no período.
O BC já havia agido de maneira
semelhante em agosto: uma semana antes de se tornar público
que o PIB do segundo trimestre
havia registrado a primeira queda
desde a crise asiática, o Copom reduziu os juros em 2,5 pontos (esperava-se o corte de 1,5 ponto).
O BC afirma que a economia
ainda não sentiu, por completo,
os efeitos dos recentes cortes nos
juros. Desde junho, a taxa Selic
-utilizada nos empréstimos praticados entre o BC e os bancos-
caiu nove pontos percentuais.
Além disso, o documento divulgado ontem diz que existem "incertezas importantes" em relação
à magnitude dos efeitos que a política monetária tem sobre a economia, o que explicaria a cautela
do BC para reduzir os juros.
Retomada
O BC se baseia em indicadores
industriais divulgados pelo IBGE
e pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) para traçar um
cenário positivo em relação à retomada do crescimento.
"A expansão da atividade econômica deverá ter seguimento
nos próximos meses", diz o documento, embora ressalte que essa
recuperação se dará em um ritmo
mais lento do que o observado em
setembro. O texto não explica o
motivo dessa ressalva e não apresenta estimativa para o crescimento esperado neste ano.
O comportamento do PIB no
terceiro trimestre já fez com que
integrantes do governo temam
que não haja crescimento neste
ano. Como a Folha publicou ontem, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ficou decepcionado com
o crescimento de apenas 0,4%.
Sobre o preço dos combustíveis
e das tarifas públicas, as projeções
do BC sofreram ligeiras mudanças. A previsão de alta da gasolina
para 2003 caiu de 1,5% para 0,8%.
No caso das tarifas de telefonia
fixa, o reajuste projetado caiu de
25,5% para 19,1%, diante da decisão judicial que impediu que a alta seguisse a variação do IGP-DI.
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