São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003


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TAXA

Desaceleração é perigo maior do que a volta da inflação, diz ata do Copom

Medo de que a economia "parasse" fez juro cair mais

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central cortou os juros em 1,5 ponto percentual na semana passada devido a preocupações em relação à capacidade da economia em retomar o crescimento, segundo avaliação da ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, realizada no último dia 19. A taxa de juros caiu de 19% para 17,5% ao ano.
A maior parte dos analistas de mercado apostava no corte de um ponto percentual. Mesmo dentro do Copom, comitê formado pelos nove membros da diretoria do BC, a redução de 1,5 ponto não foi consensual: dois diretores defenderam queda menor.
Ontem, o BC divulgou a ata da reunião com os motivos que levaram à decisão. "Em sua maioria, os membros do Copom entenderam que o balanço de riscos para a atividade e a inflação justificava desde já um impulso expansionista complementar", diz a ata.
Traduzindo: o "balanço de riscos" é a avaliação do BC de que, dadas as atuais circunstâncias, a desaceleração da economia é um perigo maior do que o de uma possível volta da inflação. "Impulso expansionista complementar" é o jargão usado para se referir ao corte adicional nos juros.
A decisão foi tomada uma semana antes de o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciar que o crescimento da economia no terceiro trimestre ficou em apenas 0,4% em relação ao trimestre anterior. O número surpreendeu, já que alguns analistas falavam que o PIB (Produto Interno Bruto) poderia ter crescido até 3% no período.
O BC já havia agido de maneira semelhante em agosto: uma semana antes de se tornar público que o PIB do segundo trimestre havia registrado a primeira queda desde a crise asiática, o Copom reduziu os juros em 2,5 pontos (esperava-se o corte de 1,5 ponto).
O BC afirma que a economia ainda não sentiu, por completo, os efeitos dos recentes cortes nos juros. Desde junho, a taxa Selic -utilizada nos empréstimos praticados entre o BC e os bancos- caiu nove pontos percentuais.
Além disso, o documento divulgado ontem diz que existem "incertezas importantes" em relação à magnitude dos efeitos que a política monetária tem sobre a economia, o que explicaria a cautela do BC para reduzir os juros.

Retomada
O BC se baseia em indicadores industriais divulgados pelo IBGE e pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) para traçar um cenário positivo em relação à retomada do crescimento.
"A expansão da atividade econômica deverá ter seguimento nos próximos meses", diz o documento, embora ressalte que essa recuperação se dará em um ritmo mais lento do que o observado em setembro. O texto não explica o motivo dessa ressalva e não apresenta estimativa para o crescimento esperado neste ano.
O comportamento do PIB no terceiro trimestre já fez com que integrantes do governo temam que não haja crescimento neste ano. Como a Folha publicou ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou decepcionado com o crescimento de apenas 0,4%.
Sobre o preço dos combustíveis e das tarifas públicas, as projeções do BC sofreram ligeiras mudanças. A previsão de alta da gasolina para 2003 caiu de 1,5% para 0,8%.
No caso das tarifas de telefonia fixa, o reajuste projetado caiu de 25,5% para 19,1%, diante da decisão judicial que impediu que a alta seguisse a variação do IGP-DI.


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