São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003


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DESENVOLVIMENTO

Economista do banco diz que Brasil está entrando em "círculo virtuoso" e que pode atingir grau de investimento

Santander vê país mais perto do mundo rico

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O Santander, 12º maior banco do mundo em capitalização, está tão entusiasmado com o Brasil e com o governo Lula que seu responsável por América Latina, Francisco Luzón, chega a dizer que o país "pode estar passando a uma etapa diferente, a de uma aproximação mais definitiva a padrões dos países desenvolvidos".
O economista-chefe do banco, José Juan Ruiz, não deixa por menos: calcula que o Brasil pode seguir a trajetória do México, que, em apenas três anos depois da mais recente crise (a do período 94/95), conseguiu o que o jargão do mercado financeiro chama de "investment grade". Ou seja, o risco de pôr dinheiro no México é perto de zero. No Brasil, ainda é de quase cinco pontos percentuais acima do padrão norte-americano, esse sim risco de fato zero.
Os dois altos funcionários do Santander faziam parte da comitiva do presidente e patriarca da instituição, Emílio Botín, que se reuniu anteontem com um pequeno grupo de jornalistas para verter otimismo sobre o Brasil.
É bom explicar que Botín, desde a primeira reunião com Lula, quando a campanha eleitoral de 2002 apenas esquentava, ficou entusiasmado com o candidato.
Não é, portanto, um recém-convertido quando diz que o Brasil está entrando em um "círculo virtuoso". Botín prevê crescimento de 4% para 2004, um aumento de 25% na concessão de créditos a juros bem mais baixos que os atuais (8% reais, ou seja, descontada a inflação) e "uma década muito importante para o Brasil, pelo que vai acontecer aqui e no resto do mundo".
É razoável supor que o otimismo incontrolável de Botín e de seus auxiliares no comando do Santander se deva ao menos em parte aos resultados do próprio banco: o lucro líquido, neste ano, será de 2,5 bilhões, "o mais alto da história do grupo".
No Brasil, o desempenho, como vem sendo a praxe para as instituições financeiras, não ficou atrás: quando comprou o Banespa, em 2001, a previsão do Santander era obter, em 2003, um lucro em torno de US$ 750 milhões. "Ficamos de 10% a 15% acima dessa cifra", diz hoje o presidente do grupo, que tem 6 milhões de clientes no país e espera chegar aos 7,5 milhões em três anos.
Botín nega que seu otimismo esteja influenciado pelos bons resultados do grupo. Luzón, o responsável por América Latina, dá as seguintes explicações para a aposta no Brasil: "A recuperação mundial, que será mais ou menos forte, durará três anos; a da América Latina, que fez o dever de casa e está mais preparada para o crescimento; e, no próprio Brasil, o fato de, neste ano, terem sido lançadas bases para um crescimento forte e sustentado".
Ou, talvez, a explicação seja só uma fé inabalável nos mercados. "Os mercados são sábios e estão apostando no Brasil", filosofa Botín, que se arriscou a desde já convidar os mesmos jornalistas para um novo encontro em novembro de 2004, quando seu otimismo já terá sido submetido ao teste da realidade.


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