São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 2006

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Alta de gastos causa temor de freio na queda do juros

Para membros da equipe econômica, afrouxamento no rigor fiscal pode gerar inflação

Aumento do dinheiro em circulação traria risco de alta nos preços, e autoridade monetária poderia adotar política mais conservadora


KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Caso se confirme um afrouxamento no rigor fiscal no segundo mandato do governo Lula, o temor dentro de parte do governo é que essa medida gere inflação e leve o Banco Central a reduzir o ritmo de queda das taxas de juros no próximo ano.
Essa preocupação já foi manifestada por membros da equipe econômica a analistas do mercado, já que o atual Banco Central sempre deu um peso considerável à questão fiscal na definição da taxa de juros -registrado em mais de uma ata do Copom.
"Vai quebrar a cara" e "estão na direção errada" foram expressões ouvidas pela Folha dentro do próprio governo na hipótese de a equipe econômica não definir ações para compensar as medidas de expansão de gastos encomendadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por enquanto, a equipe econômica está dividida em relação a uma possível redução do superávit primário. Técnicos da Fazenda e do Planejamento são contra a queda na meta, hoje de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto).
Os ministros da área de infra-estrutura (Transporte e Minas e Energia, principalmente) são favoráveis, apoiando-se na possibilidade de o governo elevar os recursos destinados ao PPI (Projeto Piloto de Investimentos) de 0,2% para 0,5% do PIB.
Pelo acordo firmado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), os recursos investidos em projetos do PPI podem ser levados em conta na hora de apurar o superávit primário. Assim, se o valor do PPI subir para 0,5%, o superávit primário em 2007, na prática, poderia ser de 3,75%, a mesma meta do governo FHC.
Seria um retrocesso, na avaliação de membros da equipe econômica e de economistas do mercado. Sinalizaria um menor comprometimento do governo com o ajuste fiscal e, conseqüentemente, mais dinheiro circulando na economia do país.
A reação imediata do mercado seria a alta da taxa de juros futura e do risco Brasil, pressionando a inflação. Aí, como já alertou em outras ocasiões, o Banco Central poderia ser mais conservador e interromper, ainda no início do primeiro semestre de 2007, o processo de queda nas taxas de juros para compensar os efeitos do afrouxamento da política fiscal.
Em seu primeiro mandato, Lula não fez uso do mecanismo acertado com o FMI para reduzir a meta de superávit primário, que sempre ficou acima dos 4,25%. Agora, poderia fazê-lo em busca de recursos para investimentos.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) tem se mostrado favorável a, pelo menos, algum tipo de redução, posição que não é compartilhada por técnicos do Tesouro Nacional, da Secretaria de Política Econômica e do Ministério do Planejamento. A decisão final caberá ao presidente.

Reunião
Essa discussão, porém, não deve interferir na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que começa hoje e termina amanhã, quando deve ser anunciada a 12ª queda consecutiva da taxa de juros. A expectativa é que ela caia 0,50 ponto percentual -de 13,75% para 13,25%.
O impacto na inflação de uma mudança na política fiscal ficaria para o próximo ano, quando já é esperada uma redução no ritmo de queda mensal da taxa de juros, de 0,50 para 0,25 ponto percentual no início de 2007.
O mercado, por sinal, não acredita em quedas constantes de 0,25 ponto percentual em todas as oito reuniões do próximo ano. A última pesquisa de mercado feita pelo BC aponta uma taxa de juros no final de 2007 de 12%, o que daria uma queda de 1,25 ponto percentual em todo o ano.
Se fossem feitos cortes de 0,25 ponto a cada encontro do Copom, o BC cortaria os juros em dois pontos percentuais, terminando 2007 numa taxa de 11,25%, mais próxima da que é defendida pela ala desenvolvimentista do governo.

Taxa real
Com uma inflação projetada para o final de 2007 na casa dos 4%, juros de 11,25% representariam uma taxa real de 7%. Em conversas reservadas, a ala desenvolvimentista chegou a defender uma taxa real de 5% no final do próximo ano. Recuou depois de ser repreendida pelo presidente.
Esse grupo, por sinal, defende mudanças no BC exatamente para tornar o órgão mais flexível e menos conservador. Atribui a um excesso de conservadorismo do banco o baixo crescimento deste ano, que deve ficar em torno de 3% do PIB.
Lula, porém, já manifestou que deseja manter no comando do BC o presidente Henrique Meirelles, contrariando a vontade dos desenvolvimentistas.


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