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Alta de gastos causa temor de freio na queda do juros
Para membros da equipe econômica, afrouxamento no rigor fiscal pode gerar inflação
Aumento do dinheiro em circulação traria risco de alta nos preços, e autoridade
monetária poderia adotar política mais conservadora
KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Caso se confirme um afrouxamento no rigor fiscal no segundo mandato do governo Lula, o temor dentro de parte do
governo é que essa medida gere
inflação e leve o Banco Central
a reduzir o ritmo de queda das
taxas de juros no próximo ano.
Essa preocupação já foi manifestada por membros da
equipe econômica a analistas
do mercado, já que o atual Banco Central sempre deu um peso
considerável à questão fiscal na
definição da taxa de juros -registrado em mais de uma ata do
Copom.
"Vai quebrar a cara" e "estão
na direção errada" foram expressões ouvidas pela Folha
dentro do próprio governo na
hipótese de a equipe econômica não definir ações para compensar as medidas de expansão
de gastos encomendadas pelo
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
Por enquanto, a equipe econômica está dividida em relação a uma possível redução do
superávit primário. Técnicos
da Fazenda e do Planejamento
são contra a queda na meta, hoje de 4,25% do PIB (Produto
Interno Bruto).
Os ministros da área de infra-estrutura (Transporte e
Minas e Energia, principalmente) são favoráveis, apoiando-se na possibilidade de o governo elevar os recursos destinados ao PPI (Projeto Piloto de
Investimentos) de 0,2% para
0,5% do PIB.
Pelo acordo firmado com o
FMI (Fundo Monetário Internacional), os recursos investidos em projetos do PPI podem
ser levados em conta na hora
de apurar o superávit primário.
Assim, se o valor do PPI subir
para 0,5%, o superávit primário em 2007, na prática, poderia ser de 3,75%, a mesma meta
do governo FHC.
Seria um retrocesso, na avaliação de membros da equipe
econômica e de economistas
do mercado. Sinalizaria um
menor comprometimento do
governo com o ajuste fiscal e,
conseqüentemente, mais dinheiro circulando na economia
do país.
A reação imediata do mercado seria a alta da taxa de juros
futura e do risco Brasil, pressionando a inflação. Aí, como já
alertou em outras ocasiões, o
Banco Central poderia ser mais
conservador e interromper,
ainda no início do primeiro semestre de 2007, o processo de
queda nas taxas de juros para
compensar os efeitos do afrouxamento da política fiscal.
Em seu primeiro mandato,
Lula não fez uso do mecanismo
acertado com o FMI para reduzir a meta de superávit primário, que sempre ficou acima dos
4,25%. Agora, poderia fazê-lo
em busca de recursos para investimentos.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) tem se mostrado favorável a, pelo menos, algum tipo de redução, posição que não
é compartilhada por técnicos
do Tesouro Nacional, da Secretaria de Política Econômica e
do Ministério do Planejamento. A decisão final caberá ao
presidente.
Reunião
Essa discussão, porém, não
deve interferir na reunião do
Copom (Comitê de Política
Monetária) que começa hoje e
termina amanhã, quando deve
ser anunciada a 12ª queda consecutiva da taxa de juros. A expectativa é que ela caia 0,50
ponto percentual -de 13,75%
para 13,25%.
O impacto na inflação de
uma mudança na política fiscal
ficaria para o próximo ano,
quando já é esperada uma redução no ritmo de queda mensal da taxa de juros, de 0,50 para 0,25 ponto percentual no
início de 2007.
O mercado, por sinal, não
acredita em quedas constantes
de 0,25 ponto percentual em
todas as oito reuniões do próximo ano. A última pesquisa de
mercado feita pelo BC aponta
uma taxa de juros no final de
2007 de 12%, o que daria uma
queda de 1,25 ponto percentual
em todo o ano.
Se fossem feitos cortes de
0,25 ponto a cada encontro do
Copom, o BC cortaria os juros
em dois pontos percentuais,
terminando 2007 numa taxa de
11,25%, mais próxima da que é
defendida pela ala desenvolvimentista do governo.
Taxa real
Com uma inflação projetada
para o final de 2007 na casa dos
4%, juros de 11,25% representariam uma taxa real de 7%. Em
conversas reservadas, a ala desenvolvimentista chegou a defender uma taxa real de 5% no
final do próximo ano. Recuou
depois de ser repreendida pelo
presidente.
Esse grupo, por sinal, defende mudanças no BC exatamente para tornar o órgão mais flexível e menos conservador.
Atribui a um excesso de conservadorismo do banco o baixo
crescimento deste ano, que deve ficar em torno de 3% do PIB.
Lula, porém, já manifestou
que deseja manter no comando
do BC o presidente Henrique
Meirelles, contrariando a vontade dos desenvolvimentistas.
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