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VINICIUS TORRES FREIRE
Quem quer dinheiro?!
Chovem pedidos de desconto de impostos e aumentos de salário e rendas sociais para Lula; assim, pacote naufraga
O GOVERNO LULA 2 , que nem começou de fato, está sendo sitiado por pedidos de aumentos de salários, de isenções fiscais
para empresas, de desconto de impostos para a classe média. Costuma
ser normal em todo final de ano, ainda mais quando a virada do ano
coincide com mudança de governo.
Como de resto o presidente Lula pediu um crescimento de 5% a Papai
Noel, o saguão do lobby está cheio de
empresas. Para piorar, a cúpula do
Judiciário e o Congresso demonstram mais uma vez o seu senso de
realidade e de justiça social. Tentam
pendurar mais uma conta de aumento de salário no já estourado Orçamento dos governos.
Um senador que cuida em tese de
relatar a lei do Orçamento federal,
um inominável, para dizer o menos,
quer reajustar a tabela do IR (Imposto de Renda) em 10%. Agora está
na companhia das centrais sindicais,
que pedem um reajuste de 7,7% e a
criação de novas faixas de alíquotas
do IR. Hoje, são de 15% e de 27,5%.
As centrais querem alíquotas de
10%, 20%, 25% e 27,5%. Dizem que é
para tornar mais justo o IR e para
aliviar a classe média.
Um reajuste de 10% na tabela do
IR vai dar um desconto mensal de
imposto de 50 pratas por mês para
quem ganha acima de uns R$ 3.000.
Ou melhor, como alerta Marcos Cézari, colega desta Folha craque em
impostos, R$ 50 para quem tem
renda líqüida superior a R$ 3.000
(isto é, o que sobra depois dos descontos do INSS e o devido a dependentes).
Para dar esses R$ 50 por
mês para a parcela mais rica da população, o governo tende a perder
uns R$ 2 bilhões por ano em arrecadação (as estimativas variam de
R$ 1,5 bilhão a R$ 2,6 bilhões). Parêntese: de 70% a 80% da população brasileira que trabalha tem
renda média de uns R$ 800.
O projeto das centrais é pior. Haveria redução de imposto até para
aquele 1% do topo da escala dos
rendimentos do trabalho (que, no
ano passado, segundo a Pnad, recebia em média R$ 10.405 por mês).
Nota-se, pelo exemplo, quem as
centrais sindicais representam.
O sistema tributário brasileiro é
injusto principalmente devido a
impostos indiretos, que pesam sobre os mais pobres. Eles não pagam
Imposto de Renda. Pagam a barafunda de impostos indiretos que
pesam sobre o produto brasileiro,
como ICMS.
Alguém pensou em reduzir os
impostos que encarecem a comida,
a sandália e a camiseta do miserável? Não. Miserável em geral não
tem sindicato, associação, movimento e muito menos lobby.
Descontos de impostos podem
ser aceitáveis, talvez, se muito bem
estudados, em casos específicos.
Impostos que aliviem o investimento podem, talvez, ressalte-se,
ser socialmente relevantes se incrementarem o parque produtivo
do país. Mas, muita vez, dado o poder de lobby da grande empresa,
tais isenções revelam-se apenas capazes de incrementar a rentabilidade de um negócio ou setor. O
empresário embolsa a isenção, só.
As contas públicas estão à beira
do estouro. Não estouraram ainda
porque o governo reduz o investimento à míngua. Contas públicas a
perigo redundam em mais despesa
com juro e menos investimento. A
conta cai na cabeça do miserável.
vinit@uol.com.br
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