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EUA investigam trabalho escravo no Brasil
Deputados democratas encabeçarão investigações sobre uso de mão-de-obra escrava em carvoarias da Amazônia
Carvão é usado para a fabricação de componente de aço usado por gigantes norte-americanas como a GM e a Whirlpool
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O Congresso dos EUA investigará denúncia de que partes
de peças fabricadas no Brasil e
usadas em carros, tratores, implementos agrícolas, banheiras
e pias nos EUA são feitas com
mão-de-obra escrava. O assunto será uma das prioridades dos
democratas no novo Legislativo, que toma posse em janeiro e
terá maioria do partido.
A afirmação foi feita pelos
congressistas democratas que
encabeçarão a petição, Eliot
Engel (Nova York) e Dennis
Kucinich (Ohio). Engel disse
que quer usar seu mandato para lutar contra o trabalho escravo no Brasil: "O governo pode
usar seu poder de persuasão
para mudar práticas complacentes das empresas".
Doug Gordon, assessor de
Kucinich, disse que "a denúncia é motivo de grande preocupação para o congressista, que
vai investigar esse assunto com
muito cuidado tão logo tome
posse". O democrata já tinha
declarado que há "provas gritantes" de que o material exportado do Brasil é feito com
mão-de-obra escrava -"o pior
exemplo de globalização".
Eles investigam a acusação
de que parte do carvão produzido na Amazônia, usado na fabricação do ferro-gusa, principal componente do aço, é feita
com trabalho escravo. Parte do
produto é comprada por montadoras com atividade nos EUA
ou americanas, como Toyota e
General Motors. A denúncia foi
feita em reportagem da agência
de notícias Bloomberg no dia 2.
Os repórteres acompanharam uma blitz do Grupo Móvel
de Fiscalização do Ministério
do Trabalho brasileiro na carvoaria Transcametá, em Tucuruí (PA). Ali, segundo a fiscalização brasileira, foram encontrados 29 trabalhadores em regime de semi-escravidão, sem
direito a alojamento, eletricidade ou água encanada. Numa
carvoaria próxima, a J. Pereira
Ancião, outros dez operários
foram libertados pelo grupo.
Os proprietários de ambas as
carvoarias já pagaram as indenizações devidas, segundo a
Justiça, R$ 100 mil no primeiro
caso, R$ 35 mil no segundo. O
problema é que a principal
compradora das duas carvoarias, segundo a reportagem, é a
Siderúrgica do Pará S.A. (Cosipar), a terceira maior exportadora de ferro-gusa do Brasil.
Além disso, 90% do produto
exportado pela Amazônia vem
para os EUA. Entre seus clientes, além da Toyota e da GM, estão nomes conhecidos nos EUA
como a Whirlpool, maior fabricante de implementos agrícolas do mundo, e a Kohler, que
faz pias e banheiras. O Ato Tarifário de 1930 proíbe a importação de produtos feitos por trabalho forçado.
A Kohler, que usava uma empresa que tinha a Cosipar como
fornecedora, interrompeu suas
compras. A GM interrompeu
provisoriamente, para as retomar depois de considerar satisfatórias as explicações dadas
pela compradora texana da Cosipar.
A denúncia encontra eco no
novo Congresso dos EUA, com
bancada democrata importante eleita no começo do mês com
bandeiras trabalhistas. Dela fazem parte tanto Kucinich, 60,
em seu sexto mandato e membro do Comitê de Reforma Governamental, quanto Engel, 59,
também em sexto mandato,
que deve tronar-se presidente
do subcomitê para a América
Latina da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
A plataforma econômica dos
democratas prevê uma revisão
de todos os acordos comerciais
e benefícios tarifários em vigor
à luz de três fatores determinantes: as condições trabalhistas do país em que o produto
exportado foi feito, o número
de empregos que tal acordo
custa aos EUA e os danos ao
ambiente causados na produção do bem exportado.
Se levar o Congresso a tomar
algum decisão desfavorável ao
Brasil, a denúncia atingirá um
setor caro ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que fez da
luta contra a mão-de-obra escrava uma bandeira de seu governo.
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