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RETRATO DO BRASIL
Número dos que têm renda familiar per capita abaixo de R$ 251 passa dos 7,5 milhões na região metropolitana
SP ganha mais de 200 mil pobres em um ano
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A proporção de pobres na região metropolitana de São Paulo
passou de 41% para 41,6%, segundo estudo da economista Sônia
Rocha, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade),
com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A variação parece pequena, mas
mostra que migraram para a pobreza 214 mil pessoas. Na capital
paulista e no seu entorno, havia
7,292 milhões de pobres em 2003,
segundo o critério utilizado pela
pesquisadora para definir pobreza. O contingente subiu, em apenas um ano, para 7,506 milhões
de pessoas. Na Grande São Paulo
vivem aproximadamente 18,2 milhões de pessoas.
Rocha traçou uma linha de pobreza que, para São Paulo, correspondia a um rendimento familiar
per capita de R$ 250,79. Esse valor
é diferente para cada região do
país, sendo mais baixo onde o
custo de vida é menor, como no
Nordeste e em áreas rurais.
Dos pobres instalados nas dez
grandes metrópoles do país,
35,8% estavam em São Paulo em
2004 -esse percentual era de
34,5% em 2003.
Para Rocha, a fraca geração de
postos de trabalho (menos do que
no resto do país), a evolução desfavorável do rendimento na região e o aumento do custo de vida
em São Paulo proporcionalmente
maior do que em outras áreas levaram a maior cidade do país a
não reduzir o número de pobres.
No país como um todo, a proporção de pobres caiu de 35,6%
em 2003 para 33,2%, principalmente por causa do crescimento
do emprego, da valorização do salário mínimo e da expansão das
bolsas pagas pelo governo, como
as do programa Bolsa-Família.
Emprego sem fôlego
Para Rocha, o emprego em São
Paulo evolui menos do que em
outras regiões. "A criação de postos de trabalho em São Paulo
apresentou expansão de 1,9%,
bem aquém da média de 3,3%",
diz a economista, ao justificar o
desempenho pior da região.
Para ela, São Paulo só não gerou
mais pobres porque a população
cresceu menos: "O arrefecimento
do crescimento demográfico contribuiu para que o agravamento
da pobreza não fosse ainda mais
acentuado. Na verdade, São Paulo
tornou-se menos atrativa aos migrantes, apesar das tradicionais
redes de solidariedade que acolhem os recém-chegados e da percepção positiva deles quanto às
vantagens oferecidas por São
Paulo", disse a economista.
Outro ponto citado por ela foi o
rendimento, que ficou estável em
2004 no Brasil, mas caiu no conjunto das metrópoles, especialmente em São Paulo e no Rio. A
renda na capital paulista caiu
5,3% em 2004 ante o ano anterior.
Um dos fatores que mais contribuíram, segundo Rocha, foi a inflação dos mais pobres, que subiu
relativamente mais em São Paulo
do que em outras capitais. "Houve um aumento relativamente
forte do custo de vida dos pobres
em São Paulo", disse Rocha.
Para ilustrar, ela compara a cidade com Salvador. De 2003 para
2004, a linha de pobreza de São
Paulo apresentou aumento relativamente forte (5,29%), passando
de R$ 238,20 para R$ 250,79. Em
Salvador, a linha de pobreza, que
se situa em um nível bem mais
baixo, também subiu, mas em
num ritmo menor (3,75%).
A pesquisadora argumenta, por
fim, que as bolsas e transferências
do governo para a população
mais pobre tiveram menos impacto em São Paulo do que no resto do país, já que seus valores são
únicos para todas as regiões e o
custo de vida paulista é maior.
Até o aumento real do salário
mínimo, que teve forte impacto
na redução da pobreza em 2004
no restante do país, não teve o
mesmo efeito, diz ela. Isso porque, em 2004, o mínimo era de
R$ 260 em setembro de 2004, apenas 3,7% superior à linha de pobreza em São Paulo. Em Salvador,
o salário mínimo era 43,5% maior
do que o rendimento das famílias
per capita. O mesmo, diz Rocha,
vale para outras transferências,
como o Bolsa-Família.
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