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OPINIÃO ECONÔMICA
Salário mínimo e emprego
JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
Um leitor da imprensa brasileira nas últimas semanas
poderia concluir que a restrição
orçamentária do poder público é
o único impedimento para maior
aumento do salário mínimo.
Sem dúvida, o aumento proposto terá conseqüências fiscais. O
acréscimo das pensões dos aposentados que ganham até um salário mínimo vai alargar o déficit
da Previdência. A Confederação
Nacional dos Municípios estimou
que o aumento anunciado provocará um gasto extra de R$ 1,1 bilhão para as prefeituras e que
municípios pequenos terão dificuldades para satisfazer a Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Mas há pouca discussão sobre o
impacto do novo mínimo no emprego. O salário mínimo é muito
baixo e o ideal seria se a economia brasileira pudesse sustentar
um mínimo muito maior do que
R$ 350. Mas a verdade é que o
custo do trabalho pouco qualificado já é muito alto para uma firma formal e por isso a maioria
dos empregos novos para trabalhadores pouco educados é gerada no setor informal. É provável
que os aumentos do salário mínimo tiveram até agora um papel
limitado nesse processo de informalização. Os tributos sobre a folha salarial, incluindo a contribuição previdenciária, e os impostos em geral tiveram um impacto maior, mas o aumento do
salário mínimo tem também um
resultado negativo sobre o emprego formal, principalmente nas regiões mais pobres.
Por outro lado, um corte na
contribuição previdenciária do
empregado e do empregador teria
efeito positivo na renda dos trabalhadores menos educados que
têm emprego formal e geraria novos empregos formais. O governo
poderia, por exemplo, isentar todos os tributos e contribuições sobre a folha que correspondam ao
primeiro meio salário mínimo de
cada trabalhador. Uma proposta
nesse sentido já constava do documento "A Agenda Perdida", escrito por um grupo de economistas em 2002.
A perda de receita conseqüente
pode ser razoavelmente estimada
e não há nada mágico na meta de
meio salário mínimo. Dependendo da avaliação de custos, o governo poderia aplicar uma isenção maior ou menor ou diminuir
o benefício para os trabalhadores
com mais renda. A queda da receita poderia ser compensada por
corte de despesas correntes, que
no Brasil já ultrapassam, sem
contarmos os juros, 30% do PIB;
fração muito elevada para um
país com o nosso nível de desenvolvimento.
Como as firmas formais são
mais eficientes do que as informais, a redução dos tributos sobre
a folha salarial aumentaria a
produtividade no país. Mas essa
diminuição dará também uma
contribuição importante para a
justiça tributária. O trabalhador
típico com pouca qualificação vai
mudar muitas vezes de emprego e
ao longo de sua vida vai permanecer desempregado ou trabalhar
no setor informal por um bom
tempo. Dificilmente conseguirá a
aposentadoria por tempo de trabalho e optará por se aposentar
com um salário mínimo, ao alcançar uma determinada idade.
Para esse contribuinte, pagamentos à Previdência são um imposto
sobre o trabalho, já que não acarretam benefício nenhum.
A taxação do trabalho pouco
qualificado é um dos aspectos
mais regressivos da nossa estrutura tributária.
A boa política econômica exige
objetivos claros e instrumentos
adequados para atingi-los. Se o
intento for aumentar as aposentadorias mais modestas e beneficiar aqueles que conseguirem
manter um emprego formal, o
aumento do mínimo é uma medida apropriada. Mas, se a meta é
melhorar a renda dos trabalhadores menos qualificados e aumentar a produtividade da economia, a redução do imposto sobre o trabalho é a melhor ferramenta.
José Alexandre Scheinkman, 58, professor de economia na Universidade
Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos domingos nesta coluna.
E-mail -
jose.scheinkman@gmail.com
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