São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS

Conquista

ALOIZIO MERCADANTE

A crise política vem impedindo a análise isenta das realizações do governo Lula. Sob o manto do denuncismo, desaparecem fatos positivos de grande relevância, frutos do trabalho árduo do governo e do país. Esse descompasso entre a realização e o seu devido reconhecimento é especialmente evidente no campo da política externa. No plano mundial, o claro salto qualitativo do protagonismo internacional do Brasil é saudado como fato promissor na luta contra as assimetrias da globalização. Porém, no plano interno, alguns teimam em não reconhecer as realizações dessa política, como o extraordinário crescimento das exportações e a conquista de novos mercados para produtores brasileiros.
Com efeito, em apenas três anos o atual governo praticamente dobrou as exportações, as quais passaram de US$ 60 bilhões, em 2002, para US$ 118 bilhões, em 2005, gerando superávit comercial de US$ 103 bilhões em três anos. Esse desempenho contribuiu para dinamizar cadeias produtivas, gerar empregos e reduzir a vulnerabilidade externa da economia. Saliente-se que, nos oito anos do governo passado, as exportações cresceram somente 38,6%, o que, somado ao grande aumento das importações, resultou num déficit de US$ 8,6 bilhões. Um ponto positivo a ser destacado refere-se às exportações de manufaturados, que aumentaram ligeiramente acima da média, demonstrando que essa performance comercial baseia-se não apenas em commodities, mas também em produtos de média e alta tecnologia.
Alguns críticos argumentam que o governo está aproveitando conjuntura internacional favorável. É verdade. Contudo as exportações brasileiras vêm crescendo num ritmo bem superior à média global. Nesses três anos do governo Lula, estima-se que as exportações mundiais tenham crescido cerca de 60%, ao passo que as exportações brasileiras aumentaram 96%. Já no biênio 2003-2004, nossas exportações cresceram ao redor de 60%, tendo ficado, conforme dados da OMC, acima da média mundial (40%) e das exportações de México (17,7%), EUA (18,1%), Argentina (34,1%), Japão (35,8%), Mercosul (37,1%), Comunidade Andina (40,2%), UE (41,8%) e até mesmo da Índia (53,5%). Em comparação, no biênio 1995-1996, auge do Plano Real, as exportações brasileiras cresceram somente 9,6%, mesmo numa conjuntura internacional na qual as exportações aumentaram 26%. Aproveitar cenários favoráveis não é, pois, algo fácil e automático.
Outros críticos alegam que, embora nosso comércio venha crescendo nos mercados novos, temos perdido terreno nos mercados de parceiros tradicionais. Ora, o aumento das exportações brasileiras para EUA, UE, Canadá e Japão foi de mais de 60% nos últimos três anos, cifra expressiva, qualquer que seja o parâmetro considerado.
Na realidade, o Brasil está desbravando mercados em todas as frentes, sem, no entanto, ceder às pressões para assinar acordos que, com a promessa de ganhos setoriais de curto prazo, comprometeriam, no longo prazo, nossas autonomia e soberania. Não há crise política que possa deslustrar essa grande conquista do governo e do país.


Aloizio Mercadante, 51, é economista e professor licenciado da PUC e da Unicamp, senador por São Paulo e líder do governo no Senado Federal.
Internet: www.mercadante.com.br
@ - mercadante@mercadante.com.br


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