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EQUILÍBRIO PRECÁRIO
Pesquisadora mapeou atividade no Rio
Mototáxi torna-se alternativa ao tráfico para jovens na Rocinha
SERGIO COSTA
DA SUCURSAL DO RIO
Eles se equilibram sobre duas
rodas entre a "droga da economia", que produz desemprego, e a
"economia da droga", que atrai
para o tráfico muitos jovens de
comunidades carentes. Os mototáxis inventaram um mercado e
viraram objeto de estudo.
Essa "invenção de mercado"
chamou a atenção da cientista social Natasha Fonseca, 27, formada
em Ciências Sociais pela Uerj
(Universidade do Estado do Rio
de Janeiro). A experiência na Rocinha, favela na zona sul do Rio de
Janeiro onde trabalham pelo menos 350 mototáxis, foi transformada em dissertação de mestrado
na Ence (Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE).
Os dados do desemprego juvenil (entre 15 e 24 anos) no Brasil
ajudam a entender esse novo
mercado. Entre 1990 e 2001, o índice de desocupação nesta faixa
pulou de 5,3% para 15,1% e tem se
mantido sem variações significativas desde então. No Rio de Janeiro, 40,3% dos que não têm
ocupação são jovens.
As alternativas de emprego na
cidade não são muito atraentes:
vendedores de lojas ou mercados,
ajudantes de obras, carregadores,
escriturários, auxiliares administrativos, garçons, copeiros ou
contínuos -as principais ocupações de jovens de acordo com os
levantamentos feitos pela PNAD
(Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílio) do IBGE.
"Emprego de otário"
Estas atividades são consideradas por muitos dos entrevistados
para o estudo como "empregos de
otário". Uma definição mais do
que direta para 10 horas ou mais
de serviço em troca de uma remuneração média de R$ 373. Os ganhos do mototáxi variam entre
R$ 400 e R$ 1.100 ou mais. A outra
opção tem sido o tráfico.
"São jovens pobres que enfrentam as maiores dificuldades de
acesso e permanência no mercado formal do trabalho. Eles são
mais vulneráveis à atração exercida pela criminalidade, como forma de superar sua invisibilidade
social e ter acesso, ainda que fugaz, aos circuitos de consumo,
prestígio social e poder", analisa
Fonseca.
"Para os jovens pobres, o mototáxi articula a inserção econômica, reconhecida como socialmente útil, à afirmação dos sentidos de
virilidade, liberdade e autonomia,
que tendem a ser fortemente valorizados por esses jovens", explica
a cientista social.
Ou, na tradução livre de um de
seus entrevistados: "Ser mototáxi
é ganhar ou perder a vida. É viver
na tensão entre a polícia e o bandido, entre o sol e a chuva, entre o
hoje e o amanhã", define o "piloto" identificado apenas como A.
Os mototáxis da Rocinha trabalham em média 12 horas por dia,
de seis a sete dias por semana. Eles
realizam entre 30 a 40 viagens por
dia, a maior parte delas dentro da
própria comunidade. Mas ninguém reclama.
O trabalho ali muitas vezes se
confunde com o lazer por ser feito
ao ar livre, pela diversidade de
pessoas e lugares, além do tempo
que ficam conversando e brincando entre si enquanto esperam
passageiros.
A concorrência é com as lotações feitas por kombis. Uma corrida de moto dentro da favela sai
por R$ 1, enquanto a lotação tem
o custo R$ 1,80. O preço da passagem de ônibus no Rio foi reajustado para R$ 1,90 a partir deste mês.
Nas viagens para fora, o preço
sobe. Ir da Rocinha ao Leblon
(bairro que fica na zona sul do Rio
de Janeiro) na garupa de uma moto custa R$ 6. De kombi, sai por
R$ 4,50. A vantagem competitiva
neste caso é o serviço imediato e
personalizado. O passageiro não
precisa esperar no ponto e é deixado na porta de onde precisa ir.
Isso se a polícia não parar a moto,
já que as viagens representam um
tipo de atividade informal, que
não é legalizada.
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