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VAREJO
Diretor de marketing de rede de supermercado passa uma semana na residência de cliente para conhecer hábitos de consumo
Loja põe "Big Brother" na casa do consumidor
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante uma semana em novembro do ano passado, Alexandra Jacob Santos, 32, diretora de
marketing do CompreBem/Sendas participou de uma "internação" na casa de uma família de
classe média baixa em Irajá, bairro da zona norte do Rio.
Com planilha na mão, acompanhou o dia-a-dia da mãe, do pai e
dos dois filhos pequenos que vivem na casa. Do início da manhã
até o final da novela das oito, a
"visita" fez parte de um projeto
com ar de "Big Brother".
Nele, onze executivos da rede
acompanharam o cotidiano de
onze famílias do Rio de Janeiro
por sete dias. Comeram, beberam, levaram os filhos à escola ao
lado da mãe, foram à casa do vizinho juntos "para apurar, da forma mais próxima possível tudo o
que aquele consumidor faz, gosta
e quer", diz Santos.
Com base nas percepções, e em
dados de pesquisas anteriores, fizeram mudanças na cara que a loja tem hoje. O projeto teve apoio
da consultoria Data Popular, incluía um reembolso à família
(próximo a meio salário mínimo)
e seguia os moldes da primeira
ação ocorrida em São Paulo, em
novembro de 2004.
Tudo amarrado no recente processo de reestruturação das lojas
Sendas e CompreBem, ambas do
grupo Pão de Açúcar, a maior rede de varejo do Brasil.
"Percebemos, por exemplo, a
importância da questão do lazer e
da beleza para as mulheres cariocas. Nas últimas reformas de nossas lojas do Rio, a área de perfumaria foi parar na frente do ponto-de-venda", explicou a diretora.
Uma intervenção radical, como
a da rede de supermercados, é um
exemplo das novas ferramentas
lançadas pelo mercado para monitorar o cotidiano do consumidor. O que se quer é entender os
hábitos de compra dos clientes
para acertar o bolso e a venda
acontecer. Nessa tentativa, a moda agora são as "pesquisas atitudinais" -que retratam aquilo
que um grupo selecionado de
clientes deseja comprar.
É um levantamento de "castas",
quase individualizado, do hábito
de consumo do cliente -algo comum em mercados com um comércio varejista mais amadurecido, como Inglaterra e EUA.
"Estamos trabalhando pesado
nessa análise de dados extremamente segmentados. Não é só
uma divisão de hábitos diferentes
entre brancos e negros, mas, por
exemplo, dos homens brancos,
que ganham de R$ 10 mil a R$ 15
mil mensais, moram na zona sul,
gostam de viajar, e assim por
diante", afirma Rodrigo Toni, diretor-geral da Ipsos.
Tendências de mercado
Grandes companhias, como a
Ipsos, têm departamentos que
acompanham de perto o comportamento do consumidor e transformam isso em estudos de tendências de mercado. Eles são vendidos para empresas como Unilever, Nestlé, Procter&Gamble, entre outras, que podem adquirir os
dados coletados até diariamente.
Na ACNielsen, empresa de análise de mercado, quinzenalmente
um grupo de cerca de cem pesquisadores vai a 8.500 lares em sete
regiões no país (cada região compreende diferentes cidades) com
um questionário na mão.
De maneira geral, fazem perguntas aos moradores da casa e
escaneiam (desde outubro de
2004 usam um scanner próprio
para isso) todos os produtos na
despensa. Os resultados vão direto para o banco de dados da companhia. Com base nisso, conseguem ver mudanças no volume,
marca ou produto adquirido nas
regiões. Podem traçar análises sobre o presente e tentar fazer alguma previsão sobre o desempenho
de um produto, por exemplo.
As mesmas famílias são visitadas todas as vezes pela empresa e
nada se paga pela ajuda dos moradores. Há uma "forma de agradecimento" que a empresa não diz
qual é, mas nega ser dinheiro.
"Recebemos pessoas dizendo
que querem fazer parte do levantamento, mas a seleção é um processo estatístico e não pagamos
pela ajuda", diz Marisa Holzknecht, gerente de produto da ACNielsen. "O engraçado é que como esse contato é muito freqüente entre pesquisadores e a família,
em muitos casos, acabam ficando
amigos", afirma Holzknecht.
Na LatinPanel/Ibope, 8.200 entrevistas são feitas a cada semana
-em domicílios escolhidos em
pré-seleção pelo país- com dia e
hora marcados. Também há premiação. O morador que mais dados dá e permite visita integral a
todos os cômodos da casa, ganha
um "bônus" -não se trata de dinheiro também.
Se aquele lar sai do perfil analisado -a empresa quer saber as
marcas mais compradas por famílias pobres e o morador comprou um carro novo, por exemplo-, o domicílio é substituído
na amostra.
Inferências podem ser feitas
com base nas informações coletadas, diz Margareth Utimura, diretora comercial da LatinPanel.
"Um lar de uma dona de casa até
29 anos é mais aberto a novidades, lançamentos. No caso dos
domicílios em que a mulher tem
mais de 40 anos, a posição é mais
conservadora", diz ela.
Com essas conclusões, a indústria se arma com lançamentos focados para aquilo que o público
alvo quer. Nos pontos-de-venda,
as degustações da indústria alimentícia usam jovens, com linguagem moderna, que tenham
identificação com esse público.
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