São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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VAREJO

Diretor de marketing de rede de supermercado passa uma semana na residência de cliente para conhecer hábitos de consumo

Loja põe "Big Brother" na casa do consumidor

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Durante uma semana em novembro do ano passado, Alexandra Jacob Santos, 32, diretora de marketing do CompreBem/Sendas participou de uma "internação" na casa de uma família de classe média baixa em Irajá, bairro da zona norte do Rio.
Com planilha na mão, acompanhou o dia-a-dia da mãe, do pai e dos dois filhos pequenos que vivem na casa. Do início da manhã até o final da novela das oito, a "visita" fez parte de um projeto com ar de "Big Brother".
Nele, onze executivos da rede acompanharam o cotidiano de onze famílias do Rio de Janeiro por sete dias. Comeram, beberam, levaram os filhos à escola ao lado da mãe, foram à casa do vizinho juntos "para apurar, da forma mais próxima possível tudo o que aquele consumidor faz, gosta e quer", diz Santos.
Com base nas percepções, e em dados de pesquisas anteriores, fizeram mudanças na cara que a loja tem hoje. O projeto teve apoio da consultoria Data Popular, incluía um reembolso à família (próximo a meio salário mínimo) e seguia os moldes da primeira ação ocorrida em São Paulo, em novembro de 2004.
Tudo amarrado no recente processo de reestruturação das lojas Sendas e CompreBem, ambas do grupo Pão de Açúcar, a maior rede de varejo do Brasil.
"Percebemos, por exemplo, a importância da questão do lazer e da beleza para as mulheres cariocas. Nas últimas reformas de nossas lojas do Rio, a área de perfumaria foi parar na frente do ponto-de-venda", explicou a diretora.
Uma intervenção radical, como a da rede de supermercados, é um exemplo das novas ferramentas lançadas pelo mercado para monitorar o cotidiano do consumidor. O que se quer é entender os hábitos de compra dos clientes para acertar o bolso e a venda acontecer. Nessa tentativa, a moda agora são as "pesquisas atitudinais" -que retratam aquilo que um grupo selecionado de clientes deseja comprar.
É um levantamento de "castas", quase individualizado, do hábito de consumo do cliente -algo comum em mercados com um comércio varejista mais amadurecido, como Inglaterra e EUA.
"Estamos trabalhando pesado nessa análise de dados extremamente segmentados. Não é só uma divisão de hábitos diferentes entre brancos e negros, mas, por exemplo, dos homens brancos, que ganham de R$ 10 mil a R$ 15 mil mensais, moram na zona sul, gostam de viajar, e assim por diante", afirma Rodrigo Toni, diretor-geral da Ipsos.

Tendências de mercado
Grandes companhias, como a Ipsos, têm departamentos que acompanham de perto o comportamento do consumidor e transformam isso em estudos de tendências de mercado. Eles são vendidos para empresas como Unilever, Nestlé, Procter&Gamble, entre outras, que podem adquirir os dados coletados até diariamente.
Na ACNielsen, empresa de análise de mercado, quinzenalmente um grupo de cerca de cem pesquisadores vai a 8.500 lares em sete regiões no país (cada região compreende diferentes cidades) com um questionário na mão.
De maneira geral, fazem perguntas aos moradores da casa e escaneiam (desde outubro de 2004 usam um scanner próprio para isso) todos os produtos na despensa. Os resultados vão direto para o banco de dados da companhia. Com base nisso, conseguem ver mudanças no volume, marca ou produto adquirido nas regiões. Podem traçar análises sobre o presente e tentar fazer alguma previsão sobre o desempenho de um produto, por exemplo.
As mesmas famílias são visitadas todas as vezes pela empresa e nada se paga pela ajuda dos moradores. Há uma "forma de agradecimento" que a empresa não diz qual é, mas nega ser dinheiro.
"Recebemos pessoas dizendo que querem fazer parte do levantamento, mas a seleção é um processo estatístico e não pagamos pela ajuda", diz Marisa Holzknecht, gerente de produto da ACNielsen. "O engraçado é que como esse contato é muito freqüente entre pesquisadores e a família, em muitos casos, acabam ficando amigos", afirma Holzknecht.
Na LatinPanel/Ibope, 8.200 entrevistas são feitas a cada semana -em domicílios escolhidos em pré-seleção pelo país- com dia e hora marcados. Também há premiação. O morador que mais dados dá e permite visita integral a todos os cômodos da casa, ganha um "bônus" -não se trata de dinheiro também.
Se aquele lar sai do perfil analisado -a empresa quer saber as marcas mais compradas por famílias pobres e o morador comprou um carro novo, por exemplo-, o domicílio é substituído na amostra.
Inferências podem ser feitas com base nas informações coletadas, diz Margareth Utimura, diretora comercial da LatinPanel. "Um lar de uma dona de casa até 29 anos é mais aberto a novidades, lançamentos. No caso dos domicílios em que a mulher tem mais de 40 anos, a posição é mais conservadora", diz ela.
Com essas conclusões, a indústria se arma com lançamentos focados para aquilo que o público alvo quer. Nos pontos-de-venda, as degustações da indústria alimentícia usam jovens, com linguagem moderna, que tenham identificação com esse público.


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