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Setor público zera dívida em moeda
estrangeira e reduz vulnerabilidade
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O fluxo de capital externo para o
Brasil tem se mantido em níveis
recordes nos últimos meses, e o
efeito dessa abundância já é sentido nas contas públicas: no mês
passado, pela primeira vez, o setor
público (conjunto formado por
União, Estados, municípios e estatais) pôde zerar suas dívidas em
moeda estrangeira.
Isso significa que, somadas, as
aplicações cambiais feitas pelo governo superam todos os seus
compromissos assumidos em outras moedas. A conseqüência
imediata disso é a menor dependência das contas públicas a eventuais turbulências no mercado de
câmbio. Isso porque, mesmo que
a cotação do dólar dispare, a dívida não será -pelo menos por enquanto- afetada.
Em números: no mês passado, a
dívida líquida do setor público era
de R$ 1,022 trilhão, o equivalente
a 51,7% do PIB (Produto Interno
Bruto). Desse endividamento total, R$ 32,7 bilhões se referem a
compromissos corrigidos pelo
câmbio. O restante da dívida é calculada em reais.
Essa dívida cambial, por sua
vez, é mais do que compensada
pelas operações feitas pelo Banco
Central no mercado de derivativos. Nessas transações, o BC vende a bancos os chamados contratos de "swap" reverso. Esses papéis funcionam como uma aplicação financeira corrigida pelo
câmbio e, por isso, reduzem a exposição da dívida pública a oscilações do dólar.
Em fevereiro, circulavam no
mercado R$ 37,7 bilhões em contratos de "swap" reverso. Ou seja,
pelos dados do mês passado, os
ativos do governo em dólar superavam o valor de suas dívidas em
moeda americana.
Isso torna as contas do governo
menos vulnerável a oscilações no
mercado financeiro, embora essa
vantagem não seja permanente:
numa eventual crise, o governo
pode, rapidamente, optar por voltar a se endividar em dólar para
conter uma possível desvalorização do real.
Operações do BC
Em 2002, quando houve eleição
presidencial, o BC começou a
vender contratos de "swap" para
tentar conter a disparada que o
dólar registrava naquela ocasião
por causa da força da candidatura
Lula, cuja imagem nos mercados
era muito pior que a atual. A idéia
era relativamente simples: por
meio desses papéis, o BC se comprometia a pagar aos bancos toda
a variação do dólar que ocorresse
em determinado período. O objetivo era desestimular a compra de
dólares, o que poderia conter a alta da cotação, que acabou disparando.
No ano passado, a situação se
inverteu. Os juros altos provocaram uma desaceleração da economia, reduzindo também a procura por mercadorias importadas.
Com a economia mundial crescendo a taxas recordes, as exportações brasileiras tiveram forte
expansão. Combinados, esses fatores produziram um saldo recorde da balança comercial, o que resultou num forte ingresso de dólares no país.
Diante desse ingresso de recursos, o BC começou a tomar medidas para tentar evitar que o real se
valorizasse excessivamente. Uma
das iniciativas foi a compra direta
de dólares no mercado de câmbio. No ano passado, foram adquiridos US$ 21,5 bilhões, dinheiro esse que foi depositado nas reservas internacionais.
As reservas são uma espécie de
poupança em moeda estrangeira
de onde o governo tira o dinheiro
necessário para os pagamentos da
dívida externa. Com o aumento
dessas reservas, o BC e o Tesouro
Nacional decidiram antecipar o
resgate de boa parte de seu endividamento no exterior.
Além disso, o BC passou a vender contratos de "swap" reverso.
Ao contrário do "swap" tradicional, esses papéis fazem com que
os bancos se comprometam a pagar ao BC a variação que for registrada pelo dólar em certo espaço
de tempo. De 2005 para cá, foram
colocados no mercado mais de R$
70 bilhões em contratos de
"swap" reverso.
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