São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

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Brasil torce para que "brancos" resolvam a crise

DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O Brasil vai à cúpula do G20 na torcida de que os "brancos" resolvam a crise que criaram, para usar a expressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Não há muito o que o país possa fazer para ajudar no combate à crise em si. Os planos de estímulo à demanda já foram lançados, mas o governo sabe que o pleno efeito deles depende da recuperação da economia global para a qual o Brasil pouco pode contribuir.
O país tampouco pode ajudar na eliminação dos chamados "ativos tóxicos" que entopem o sistema financeiro, porque seus bancos não os possuem, até onde se sabe.
De todo modo, o governo comemora que uma de suas principais preocupações foi publicamente anunciada pelo premiê Gordon Brown, o anfitrião do encontro. Trata-se de um pacote, em princípio de US$ 100 bilhões, para financiar o comércio exterior.
O Brasil sente-se duplamente atingido pela secura do crédito ao comércio: diretamente porque os bancos internacionais com sede no Brasil levaram seus recursos para as matrizes, o que prejudicou o financiamento em geral, inclusive para o comércio. Além disso, os países em desenvolvimento sentem idêntica restrição, o que prejudica o comércio Sul-Sul, que se tornou importante nos anos Lula.
O governo também festeja o fato de que está decidida uma ampla reforma do sistema de regulação e supervisão do sistema financeiro, que não deixará à margem nenhum setor. Pega "hedge funds", pega capital de risco, pega derivativos, pega agências de avaliação de risco e vai até os paraísos fiscais.
O que não estava claro até ontem, no entanto, era a forma de regulação, se haverá algum organismo supranacional, como preferia o Brasil, ou se haverá apenas princípios internacionalmente aceitos que cada país aplicará de acordo com seus padrões.
A mais recente cúpula europeia aprovou relatório que prevê o estabelecimento de um Conselho Europeu de Risco Sistêmico, sob o controle do Banco Central Europeu e supostamente como poderes de vigilância sobre toda a economia europeia. Mas Gordon Brown já disse que o Conselho fixará linhas gerais, mas sua aplicação caberá aos organismos nacionais.
Também não ficou resolvido até agora o futuro papel do G20. Para o governo brasileiro, importa consolidar o grupo como fórum de líderes, em vez de ser apenas uma reunião de ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais, como o foi desde a sua criação (1999).
Para o Brasil, a convocação de uma nova cúpula ainda neste ano, após a de Londres, seria a definitiva entronização do G20 como diretoria econômico-financeira do planeta, papel (informal) desempenhado pelo G8, o clube dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia. (CR)


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