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Brasil torce para que "brancos" resolvam a crise
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
O Brasil vai à cúpula do G20
na torcida de que os "brancos"
resolvam a crise que criaram,
para usar a expressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Não há muito o que o país
possa fazer para ajudar no combate à crise em si. Os planos de
estímulo à demanda já foram
lançados, mas o governo sabe
que o pleno efeito deles depende da recuperação da economia
global para a qual o Brasil pouco pode contribuir.
O país tampouco pode ajudar
na eliminação dos chamados
"ativos tóxicos" que entopem o
sistema financeiro, porque
seus bancos não os possuem,
até onde se sabe.
De todo modo, o governo comemora que uma de suas principais preocupações foi publicamente anunciada pelo premiê Gordon Brown, o anfitrião
do encontro. Trata-se de um
pacote, em princípio de US$
100 bilhões, para financiar o comércio exterior.
O Brasil sente-se duplamente atingido pela secura do crédito ao comércio: diretamente
porque os bancos internacionais com sede no Brasil levaram seus recursos para as matrizes, o que prejudicou o financiamento em geral, inclusive
para o comércio. Além disso, os
países em desenvolvimento
sentem idêntica restrição, o
que prejudica o comércio Sul-Sul, que se tornou importante
nos anos Lula.
O governo também festeja o
fato de que está decidida uma
ampla reforma do sistema de
regulação e supervisão do sistema financeiro, que não deixará
à margem nenhum setor. Pega
"hedge funds", pega capital de
risco, pega derivativos, pega
agências de avaliação de risco e
vai até os paraísos fiscais.
O que não estava claro até
ontem, no entanto, era a forma
de regulação, se haverá algum
organismo supranacional, como preferia o Brasil, ou se haverá apenas princípios internacionalmente aceitos que cada
país aplicará de acordo com
seus padrões.
A mais recente cúpula europeia aprovou relatório que prevê o estabelecimento de um
Conselho Europeu de Risco
Sistêmico, sob o controle do
Banco Central Europeu e supostamente como poderes de
vigilância sobre toda a economia europeia. Mas Gordon
Brown já disse que o Conselho
fixará linhas gerais, mas sua
aplicação caberá aos organismos nacionais.
Também não ficou resolvido
até agora o futuro papel do
G20. Para o governo brasileiro,
importa consolidar o grupo como fórum de líderes, em vez de
ser apenas uma reunião de ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais, como o
foi desde a sua criação (1999).
Para o Brasil, a convocação
de uma nova cúpula ainda neste ano, após a de Londres, seria
a definitiva entronização do
G20 como diretoria econômico-financeira do planeta, papel
(informal) desempenhado pelo
G8, o clube dos sete países mais
ricos do mundo e a Rússia.
(CR)
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