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BB terá de baixar "spread" para ter recurso
Governo vai condicionar liberação de verbas do FAT para bancos públicos federais a corte no custo dos empréstimos
Instituições disporão de
R$ 4 bi do FAT para programas
de geração de emprego e
renda, mas Lupi diz que vai
"exigir" redução no "spread"
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo decidiu endurecer
com os bancos oficiais e promete só liberar recursos do FAT
(Fundo de Amparo ao Trabalhador) se as instituições reduzirem os "spreads" nas operações com dinheiro do fundo.
Segundo o ministro Carlos Lupi (Trabalho), a decisão será
anunciada na próxima reunião
do Codefat (Conselho Deliberativo do FAT), em maio.
Estudo técnico elaborado pelo Codefat aponta que os
"spreads" -diferença entre o
custo de captação de capital pelos bancos e aquele cobrado nos
empréstimos a clientes- nas linhas para programas de geração de emprego e renda variam
de 2 a 43,39 pontos percentuais. As taxas, no entanto, foram autorizadas pelo conselho
por meio da aprovação de planos de trabalho apresentados
pelos bancos ou de resoluções
do órgão colegiado.
"Vamos exigir a redução do
"spread". Será condição para liberarmos novos recursos do
FAT", disse Lupi à Folha. Neste ano, os bancos disporão de
R$ 4 bilhões do FAT para programas de geração de emprego
e renda. Por lei, só bancos públicos federais podem operar
com recursos do FAT.
A taxa de "spread" considerada mais abusiva pelo Ministério do Trabalho é a de 24% ao
ano cobrada pelo Banco do
Brasil na linha de capital de giro para micro e pequenas empresas. Embora os recursos do
FAT para capital de giro venham sendo cada vez mais direcionados para linhas de investimento, a taxa fixada destoa muito das do mercado.
A Folha apurou que esses
dados foram apresentados ao
presidente Lula e teriam sido
um dos motivos para a troca no
comando do BB. No ranking do
Banco Central de taxas cobradas em operações prefixadas de
capital de giro, o "spread" cobrado pelo BB aparece em 21º
lugar na ordem crescente de taxas no período março-abril.
O "spread" anual do BB fica
em 12,26%. Para o Ministério
do Trabalho, uma evidência de
que o próprio banco reconhece
que o custo de captação está
superdimensionado nessa linha foi o fato de ter fixado em
11% o "spread" na operações de
capital giro do recém-criado
socorro do FAT aos revendedores de automóveis.
Procurado pela Folha, o BB
não se manifestou. Para o presidente do Codefat, Luiz Fernando Emediato, a discussão
sobre os altos "spreads" nas
operações do FAT é antiga. "A
boa notícia é que parece que
agora o assunto voltará ao centro do conselho", disse Emediato, representante da Força
Sindical no Codefat.
Os "spreads", segundo avaliação de estudo do conselho,
podem ser reduzidos por ao
menos três motivos. O primeiro deles é a não incidência de
compulsório sobre os recursos
do FAT aplicados pelos bancos.
Como não há a exigência do
recolhimento do dinheiro ao
BC, não há a despesa correspondente, avaliam os técnicos,
e os bancos poderiam repassar
o benefício aos tomadores de
crédito. Na composição do
"spread", o custo do compulsório tem peso de 3,6 pontos.
O outro motivo citado no estudo é o risco de inadimplência. Os programas de geração
de emprego e renda contam
com cobertura de fundo de aval
e seguro de crédito para garantir até 100% da operação. Dessa
forma, os empréstimos poderiam ter o "spread" desonerado
proporcionalmente à redução
do risco de inadimplência.
Por exemplo, em uma operação coberta 80% pelo fundo de
aval (Funproger), o risco do
banco cai para 20%. O peso da
inadimplência no "spread", diz
o estudo, poderia cair nesse caso de 37,35% para 7,47%.
O último fator apontado é o
menor custo administrativo
dos bancos oficiais nos empréstimos do FAT. Por não ter
ônus na captação dos recursos,
os custos não são comparáveis
às demais operações de mercado. Assim, o peso desses custos
deveriam receber uma nova
ponderação na composição do
"spread".
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