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LG ameaça trocar Manaus por Argentina
Fabricante diz que AM cassou inscrição estadual em meio a disputa com rivais sobre incentivos; Philips vê ação "infantil'
Estado nega medida, e empresa, que pôs 3.000 funcionários em licença remunerada, vê "retaliação" após expansão no país
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Numa disputa que expõe o
que tributaristas chamam de
"caos tributário" brasileiro, a
indústria sul-coreana LG Electronics suspendeu ontem, por
tempo indeterminado, a produção de aparelhos eletroeletrônicos e condicionadores de
ar na fábrica instalada na Zona
Franca de Manaus (AM) e deu
licença remunerada para cerca
de 3.000 empregados.
A decisão foi tomada depois
que, segundo a empresa, o governo do Amazonas cassou a
inscrição estadual da indústria,
impossibilitando a venda dos
produtos aos fornecedores. O
governo nega a medida, mas diz
que a LG está inadimplente no
fisco estadual.
O diretor de relações institucionais da LG no Brasil, Dilson
Suplicy Funaro, disse ontem
em Manaus que a matriz da
empresa, a LG da Coréia, estuda a transferência de produção
da Zona Franca de Manaus para a Terra do Fogo (Argentina).
"O único lugar que dá para
produzir TV no Brasil é em Manaus, porque o incentivo é muito alto. Então ou você produz
em Manaus ou deixa de produzir. Nos autorizaram [a LG da
Coréia] a analisar a Terra do
Fogo. Em termos de quilometragem [até os principais mercados do Brasil], Manaus e Terra do Fogo são praticamente
equivalentes", afirmou Funaro.
A concorrente Philips classificou de "infantil" a decisão da
LG.
A gota d'água da paralisação
da LG foi uma liminar concedida na quinta-feira ao Sindicato
dos Metalúrgicos suspendendo
benefício fiscal da LG, obtido
em 2003, que lhe garantia o regime de "regressividade" do
ICMS baseado no crédito presumido até 2012. O juiz alegou
grave distorção na concorrência entre os fabricantes de TV.
Antes, no último dia 15, outro
juiz havia suspendido uma medida cautelar, concedida a favor
da LG, e determinado ao Amazonas executar uma dívida ativa de R$ 40 milhões da empresa. Por causa disso, a LG ficou
inadimplente perante o fisco
estadual. A empresa pode fazer
o desembaraço de mercadorias,
mas não recebe certidão negativa, o que impede a venda dos
produtos aos fornecedores.
As decisões favorecem diretamente as empresas concorrentes, que alegam que, com a
isenção de 80% do ICMS, a LG
tem ganhos de US$ 100 milhões por ano. Desde abril, Philips, Semp Toshiba, Gradiente e
Samsung pressionam o governador Eduardo Braga (PMDB)
a mudar o regime fiscal da LG
por se sentirem prejudicadas
-elas têm isenção de 55%. A
Philips ameaçou fechar a fábrica de Manaus.
Ontem, Braga disse, por meio
da assessoria de imprensa, que
o governo é réu na ação do sindicato. Mas até o fechamento
da reportagem o governo não
havia recorrido da decisão judicial. Em 24 de abril, o governo
cedeu às pressões das concorrentes e aumentou para 60% a
base de cálculo do ICMS da LG.
Em nota, o presidente da LG
Electronics no Brasil, Choong
Bong Cho, disse que a medida
do governo faz parte das "retaliações" que a empresa vem sofrendo desde que optou pelo
antigo regime fiscal. "A LG está
sendo penalizada injustamente, uma vez que tomou decisões
corretas, amparadas em lei.
Acredito que estamos sofrendo
retaliações pelo nosso crescimento e excelente desempenho no mercado brasileiro", diz
a nota.
Concorrentes afirmam que a
LG ganhou fatia de mercado
justamente por causa dos benefícios fiscais extras obtidos em
Manaus.
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