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BENJAMIN STEINBRUCH
Frio na barriga
Não dá para saber "se" nem "quando" os novos presságios do oráculo Greenspan poderão se tornar realidade
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É CURIOSO observar que a expressão "exuberância irracional", a mais famosa cunhada
por Alan Greenspan durante seu
longo período como presidente do
BC americano, foi dita em dezembro
de 1996, em discurso na American
Enterprise Institute. Mas ela só foi
popularizada quase quatro anos depois, em 2000, quando o professor
Robert Shiller, que influenciou
Greenspan em 1996, usou-a no título de um livro, pouco antes do estouro da bolha da internet.
Na semana passada, o oráculo falou novamente. Greenspan disse
que o ritmo atual de crescimento da
economia mundial não poderá durar para sempre. E confessou temer
por uma "contração dramática" no
mercado de ações da China, que estaria vivendo uma bolha. Ele próprio, porém, usou a velha técnica de
bater e assoprar ao acrescentar que
a economia global tem chance de
"sair ilesa" de possível desaceleração da China se for suficientemente
flexível para absorver as flutuações.
Se não fosse criativo, Greenspan
poderia ter usado a mesma palavra,
exuberância, para definir o momento atual das economias e dos mercados mundiais. É fato que a economia
global, puxada pelos países emergentes, com a locomotiva da China,
vai se tornando assustadoramente
exuberante.
Segundo previsão da revista "The
Economist", os dez principais países
emergentes, entre eles o Brasil, terão no fim do ano reservas de quase
US$ 3 trilhões. O Brasil terá ao menos US$ 150 bilhões, valor suficiente
para liquidar toda a dívida externa
pública e ainda manter mais de US$
80 bilhões em caixa. Isso ocorre porque os emergentes, que tantas vezes
quebraram nas últimas décadas do
século passado, produzem agora
enormes superávits comerciais. A
China apresentou superávit de US$
207 bilhões nos últimos 12 meses, e
o Brasil, de US$ 46,7 bilhões.
Exuberância é observada também
no bloco dos desenvolvidos. O grupo
dos 30 países mais ricos do mundo
vai crescer em média 2,7% neste
ano, nível ligeiramente acima do verificado no ano passado. Haverá um
recuo na taxa de expansão americana, mas compensado pelo avanço da
União Européia e do Japão.
Nesse cenário de crescimento,
uma preocupação diz respeito à inflação mundial, decorrente do aumento do preço dos alimentos. Por
ironia, a saudável corrida ao etanol
provocou elevação de 86% nos preços do milho nos EUA no primeiro
trimestre, com reflexos em toda a
cadeia de commodities agrícolas.
Outra preocupação é o déficit americano, que atingiu US$ 827 bilhões
nos últimos 12 meses e continua a
ser financiado, sobretudo, pelo superávit chinês.
Internamente, apesar dos indicadores igualmente positivos, as preocupações brasileiras são os juros
exageradamente altos, que desajustam o câmbio, a falta de investimentos públicos em infra-estrutura e a
carga tributária, que desestimula investimentos privados.
Quando cunhou a "exuberância
irracional", a profecia de Greenspan
se cumpriu em pouco menos de
quatro anos, com o estouro das
ações das empresas pontocom. Desta vez, o alerta do velho sábio fez tremer os mercados mundiais durante
dois dias.
Não dá para saber "se" nem
"quando" os novos presságios poderão se tornar realidade. De minha
parte, faço votos de que jamais se
cumpram, de que a prosperidade
continue por décadas afora e de que
o Brasil, com coragem e sem conservadorismos exagerados, saiba aproveitar melhor essa fase, enquanto
durar. Mas, na verdade, a fala do oráculo dá frio na barriga.
BENJAMIN STEINBRUCH , 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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