São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresas de emergentes triplicam captação

Alta no financiamento estrangeiro foi registrada entre 2003 e 2006, segundo o Banco Mundial; volume atingiu recorde no ano passado

Brasil foi um dos países que atraíram o maior volume de recursos, US$ 165,1 bilhões de 1998 a 2006, só perdendo para a Rússia e a China

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A quantidade de dinheiro que empresas de países em desenvolvimento conseguiram levantar no exterior por meio de empréstimos e emissão de bônus triplicou entre 2003 e 2006, quando atingiu o recorde de US$ 400 bilhões.
Relatório do Banco Mundial divulgado ontem aponta o acesso sem precedentes dessas corporações ao financiamento estrangeiro como a principal marca do fluxo internacional de capitais para o mundo emergente no ano passado.
Empresas brasileiras estiveram entre as que mais se beneficiaram desse movimento.
No período de 1998 a 2006, companhias nacionais obtiveram US$ 165,1 bilhões no mercado internacional por meio do lançamento de ações, emissão de bônus e contratação de empréstimos bancários. A cifra só é inferior à registrada por Rússia (US$ 175,8 bilhões) e China (US$ 166,5 bilhões).
O crescimento da fatia abocanhada pelo setor corporativo foi acompanhado do encolhimento da demanda por financiamento do setor público, que era responsável pela maior parte dos bônus emitidos no exterior até o início desta década.
"A crescente visibilidade dessas companhias, tanto públicas quanto privadas, em finanças e investimentos globais é a característica definidora do atual ciclo de fluxo de capitais para países em desenvolvimento", diz o estudo "Global Development Finance 2007: The Globalization of Corporate Finance in Developing Countries" (Financiamento do Desenvolvimento Mundial 2007: A Globalização do Financiamento Corporativo nos Países em Desenvolvimento).
No total, o volume de recursos privados destinado a países em desenvolvimento na forma de investimento direto, empréstimos, aplicação em ações e compra de bônus atingiu US$ 647 bilhões em 2006, alta de 17% em relação a 2005.
Apesar de ser recorde, a cifra representa uma desaceleração em relação ao ano anterior, quando o fluxo de capitais para os emergentes havia crescido 34%, para US$ 551,4 bilhões.
O Banco Mundial afirma que houve uma profunda mudança no perfil do endividamento externo desses países, que na maior parte do pós-guerra foi dominado por empréstimos contraídos pelos governos.
O cenário começou a se alterar a partir de 2002, com a expansão das operações realizadas pelo setor corporativo. No ano passado, as companhias dos países em desenvolvimento emitiram US$ 88 bilhões em bônus no exterior, o dobro dos US$ 43 bilhões lançados pelos governos dos mesmos países. "Desde 2002, 422 companhias de países em desenvolvimento emitiram bônus no mercado internacional, 348 das quais pela primeira vez", observa o relatório do Banco Mundial.
Até 2004, os títulos emitidos pelos governos superavam os do setor corporativo. Em 2005, a situação se inverteu, mas por pequena margem. Só no ano passado as empresas superaram os governos por uma grande diferença.
"Essas mudanças elevam as perspectivas de crescimento sustentável nos países em desenvolvimento e permitem que empresas menores tenham mais acesso ao mercado de capitais doméstico, em razão da menor concorrência das grandes companhias, que buscam financiamento no exterior", diz Mansoon Dailami, gerente de finanças internacionais do departamento do Banco Mundial que trata de perspectivas do desenvolvimento.
Com reservas internacionais em alta e boas condições macroeconômicas, países em desenvolvimento quitaram antecipadamente suas dívidas com organismos multilaterais. Em conseqüência, o fluxo de capital de fontes oficiais ficou negativo em US$ 75,8 bilhões em 2006, já que houve mais saída do que entrada de recursos. O Brasil, por exemplo, pagou US$ 2 bilhões ao Clube de Paris.
O Banco Mundial prevê que a média de crescimento dos emergentes vai cair de 7,3% em 2006 para cerca de 6% em 2009, quando todas as regiões deverão registrar desaceleração, apesar de continuar a ter altas taxas de expansão.


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: A Justiça carnavalizada do Brasil
Próximo Texto: Liquidez global é um dos fatores para expansão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.