São Paulo, sexta-feira, 29 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GM consegue acordo com maioria de seus credores

Novo entendimento abre caminho para processo de concordata administrado

Braço europeu da GM, a Opel agora enfrenta novas dificuldades para plano de resgate e causa rusgas entre Berlim e Washington

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Em nova reviravolta no caso, a General Motors anunciou ontem que finalmente obteve um acordo com a maioria de seus credores para a troca de dívidas no valor de US$ 27 bilhões por ações da nova companhia que surgirá do processo de reestruturação.
O acordo abre caminho para que a maior montadora dos EUA entre (assim como a Chrysler) em processo de concordata administrado. Isso deve gerar menos contenciosos e demandar menos tempo do que em reestruturações sem entendimento prévio.
A concordata da GM, que será a maior da história do setor industrial norte-americano, deve ser anunciada até segunda-feira, quando expira o prazo concedido pelo Departamento do Tesouro dos EUA para que a empresa encontre uma saída para suas dificuldades -e continue a receber suporte financeiro estatal.
Após três dias de negociações, a grande maioria dos credores concordou em trocar as dívidas por uma participação na "nova GM" que poderá chegar a 25%. Um dia antes, o acordo havia fracassado, com a oferta de apenas 10% da empresa em troca das dívidas.
Os credores têm ainda até amanhã para se opor ao acordo. Mas a empresa e o Tesouro já avisaram que, se não houver entendimento, os novos aportes de recursos do Estado na GM vão diluir a posição dos atuais acionistas -e tornar todo o processo de reestruturação imprevisível.
Em comunicado distribuído ontem, o comitê que representa os credores afirma que apoia o atual plano "como a melhor alternativa diante da atual dificuldade das circunstâncias".
Outros 10% da companhia ficarão com um fundo da UAW (United Auto Workers, que reúne os trabalhadores da empresa) em troca também de algumas dívidas e de concessões que levaram ao relaxamento de alguns direitos trabalhistas.
Ron Gettelfinger, presidente da UAW, afirmou que os funcionários da GM irão ratificar o acordo até o meio da tarde de hoje, mas descartou qualquer nova concessão.
Apesar do aumento da participação dos investidores privados no capital da nova empresa (livre de marcas deficitárias, como Pontiac, e saneada), o governo dos EUA será ainda o maior acionista da General Motors, com fatia de 65%.
Além dos quase US$ 20 bilhões já injetados pelo Tesouro na GM, o governo dos EUA poderá colocar mais US$ 50 bilhões na companhia para mantê-la à tona. Estatizada na prática, ainda não se sabe qual será o papel do governo nos negócios da empresa.


Opel na Europa
Enquanto o futuro da GM se desanuviou um pouco nos EUA, a situação da Opel (o braço europeu da montadora), que parecia solucionada, teve desdobramentos negativos ontem -causando até rusga política entre o governo alemão e o Tesouro norte-americano.
Na quarta-feira, a Alemanha (que concentra metade das operações da Opel na Europa) já havia concordado em injetar cerca de US$ 2 bilhões na Opel.
Ontem, Berlim acusou o Tesouro dos EUA de armar uma "emboscada" ao informar, "na última hora", que a empresa precisará de US$ 415 milhões adicionais. A Alemanha havia entendido que essa parte do dinheiro viria de Washington.
"Gostaria de ver um tom mais conciliatório da parte americana", disse o ministro da Economia alemão, Karl-Theodor zu Guttenberg. "O que ocorreu beira o absurdo."

Visteon
A fabricante americana de autopeças Visteon entrou com pedido de concordata ontem. A empresa -que foi subsidiária da Ford até o ano 2000-, receberá ajuda financeira da montadora, disse Tony Brown, responsável pelas compras globais da Ford, "já que [a Visteon] é um fornecedor importante".
A companhia possui instalações em 27 países e emprega cerca de 31 mil pessoas. De acordo com comunicado, nenhuma subsidiária ou joint venture fora dos EUA será atingida pela concordata.
No Brasil, a empresa possui unidades fabris em Camaçari (BA) e Manaus (AM) e um centro tecnológico em Guarulhos.


Texto Anterior: Última edição da "Gazeta" deve circular hoje
Próximo Texto: Com setor de luxo em crise, Lacroix entra com pedido de concordata
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.