São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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Feijão e carne somem da merenda escolar, e material de construção está mais caro

ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO

A secretaria do Colégio Estadual Benedito Cunha Melo, vizinho ao Suvaco da Cobra, não se lembra mais quando foi a última vez em que feijão constou do cardápio da merenda dos seus 2.300 alunos. Nem carne.
No colégio BCM, como é chamado, muitos dos filhos dos moradores da região fazem a principal refeição do dia. É do ensino do colégio que também depende o futuro desses adolescentes.
Segundo Maria de Fátima Araújo, coordenadora da secretaria do colégio, a inflação de alguns itens levou a cozinha a abusar mais de produtos como salsichas, cuscuz ou mesmo dos sanduíches.
No BCM, há salas de aula que chegam a ter mais de 50 alunos. São 16 salas e 53 professores para atender três turnos dos ensinos fundamental e médio.
Na última vez em que a Folha foi ao local, há mais de um ano, as paredes davam choques por conta de infiltrações e fios desencapados em seu interior. Nas lousas, o giz produzia poucas marcas devido à umidade.
Maria de Fátima conta que o colégio passou por reforma de lá para cá, incluindo a troca de telhados e portas. "O problema é que os alunos não cuidam do que têm. Eles destroem tudo, até as maçanetas."
"Oficialmente" há 420 alunos no BCM cadastrados no Bolsa Família -e que têm uma freqüência média de comparecimento ao colégio de 85%.
Mas a secretaria do BCM estima que o número seja maior, já que muitas famílias acabam transferindo os filhos para lá antes de comunicar a coordenação do programa.
Caso de Francisca Santiago, 62. Na quarta-feira, ela foi ao BCM "atrás da papelada do Bolsa" de alguns dos seus 11 netos (ela teve sete filhos) para manter o benefício.
Apesar de ter dito que agendou o encontro para o dia, não deu certo. O colégio "emendou" a quarta-feira aos feriados do início da semana para a comemoração do São João -que foi só na terça-feira.
Francisca decidiu ir embora a pé "para não gastar a condução". "Tá tudo muito caro. Daqui a pouco sobe o ônibus."
Ela e 100% de outros entrevistados pela Folha continuam apoiando o governo Luiz Inácio Lula da Silva (a aprovação no Nordeste é a maior no país, de acordo com o Datafolha), mas se queixam da inflação -e não só a dos alimentos.
José Carlos Ferreira, 48, dono de uma loja de material de construção bem suprida e organizada em uma viela que leva ao Suvaco da Cobra, diz que o problema atual é o ferro e itens para novas edificações, como cimento, brita e tijolos.
"Deu uma escassez, e os preços subiram", diz o dono da Comercial Popular, onde 30% das vendas são feitas via parcelamento no cartão de crédito.
Questionado se gosta do governo Lula apesar desses problemas, afirma: "Votei duas vezes nele e votaria uma terceira, com toda a certeza". (FCZ)


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