São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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Brasil pedirá "ação concertada" contra a alta de alimentos

Proposta será feita na reunião conjunta, no mês que vem, entre G8, que reúne os mais ricos, e grupo de emergentes

Anfitrião, premiê japonês reduz expectativas de soluções para problemas da economia global, como o aumento dos combustíveis

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O governo brasileiro pretende propor aos seus pares do G5 e aos países que compõem o G8 uma "ação concertada" nos próximos meses para enfrentar a disparada de preços da alimentação, hoje o grande problema de âmbito planetário.
A proposta será feita na reunião conjunta, no dia 9, entre o clubão dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia (o G8) com os parceiros do Brasil no G5, que são China, Índia, México e África do Sul.
No mesmo dia 9, haverá ainda um encontro das MEs ("major economies" ou grandes economias), um grupo convocado pelo presidente dos Estados Unidos, George Walker Bush, no ano passado, para discutir a mudança climática, e formado por Austrália, Brasil, China, Índia, Indonésia, México, Coréia do Sul e África do Sul.
Essas três reuniões fazem parte da cúpula anual do G8, que se realizará neste ano na ilha de Hokkaido, no norte do Japão, entre 7 e 9 de julho.
O embaixador Everton Vargas, principal negociador técnico do Brasil para assuntos multilaterais, antecipa a discussão sobre inflação, mas diz que, "quanto ao escopo das decisões, se do G8 como grupo ou dos países individualmente, caberá aos líderes decidir lá".
A julgar pela avaliação que faz o anfitrião, o primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda, as chances de alguma resolução forte parecem remotas.
Segundo o "Japan Times", em recente entrevista, "Fukuda tratou de reduzir as expectativas em torno de soluções para os vários problemas que a economia global enfrenta, como a disparada de preços de alimentos e combustíveis, dizendo que a principal missão [da cúpula] é enviar mensagens apontando para soluções".
Parece muito pouco para a urgência que o tema da "agflação" ganhou. Ainda mais que uma cúpula anterior, a da segurança alimentar, convocada pela FAO (braço das Nações Unidas para a agricultura e a alimentação), terminou sem nem sequer enviar as "mensagens" agora desejadas pelo primeiro-ministro japonês.
Vargas insiste, no entanto, que "segurança alimentar e inflação são temas de 2008 e, obviamente, nem o G8 nem o G5 podem ficar alheios à agenda internacional".
O delegado brasileiro trabalha com gráficos -cobrindo o período 1970/2005- que mostram "paralelismo entre as tendências globais dos preços das commodities agrícolas e do petróleo. Preços altos de petróleo correspondem ao pico dos preços de commodities agrícolas e vice-versa".

Clima
A cúpula de Hokkaido tinha a mudança climática como eixo principal, ao ser anunciada pelo Japão, ao terminar o encontro anterior, na Alemanha. Mas, entre a reunião na Alemanha e a de Hokkaido, surgiu o fantasma da inflação, especialmente a de alimentos, e o G8 e seus satélites não podem ficar alheios ao tema.
O Brasil sugeriu, na mais recente reunião dos "sherpas", que a segurança alimentar fosse elevada a papel de destaque na agenda. "Sherpas" são os altos funcionários que negociam os documentos que os líderes assinam quando se encontram. É uma alusão aos guias do Himalaia, que preparam tudo para que os alpinistas possam chegar ilesos ao cume.
Se os líderes sairão de Hokkaido com o prestígio ileso ou não, é questão aberta. Depende da capacidade de dar um mínimo de respostas a um mundo francamente incomodado com o ressurgimento da inflação.
Mas o Brasil não quer que a disparada de preços sufoque o debate sobre mudança climática, até porque, diz Vargas, "mudança climática é uma questão de desenvolvimento. Tem um grande componente ambiental e social, mas, antes de tudo, lida com o perfil de crescimento que os países terão no futuro".
O embaixador lembra que recente relatório do painel que estuda as mudanças climáticas mostrou que, se não for feito nada, 30% da Amazônia virará savana até 2100. "Não há dinheiro no mundo que financie a adaptação a esse quadro", afirma o embaixador brasileiro.


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