São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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Além de subir juro contra inflação, governo tem de cortar gastos, afirmam especialistas

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Não basta manter uma política monetária rigorosa. A fim de controlar a inflação, o governo brasileiro precisa reduzir efetivamente os seus gastos, dizem especialistas. Mesmo que a alta de preços seja causada por um fator pontual -a disparada das commodities agrícolas e metálicas no mercado internacional-, caso não haja sobriedade do poder público, todos os setores da economia poderão acabar contaminados.
O Banco Central tem cumprido suas ameaças ao elevar a taxa básica de juros da economia. Passa, assim, uma mensagem bem clara para as empresas e o mercado financeiro. Porém, outras áreas da administração Luiz Inácio Lula da Silva mandam sinais diferentes.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou no final do mês passado que a meta de superávit primário -economia feita pelo governo para o pagamento de juros da dívida- passou de 3,8% para 4,3% do PIB (Produto Interno Bruto) ao ano. O aumento seria mais bem recebido se fosse feito a partir de um aperto no cinto real, e não obtido simplesmente pelo crescimento das receitas com tributos.
"Cortar despesas é difícil porque boa parte delas já está vinculada pela Constituição à educação, à saúde etc.", explica Carlos Thadeu de Freitas Filho, pesquisador do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e economista-chefe da corretora SLW. "A melhor maneira de ajustar as contas é fazer uma reforma tributária que melhore a qualidade dos impostos. Em algum momento, será inevitável, ainda, alguma redução de gastos sociais."
Atitudes como reajustar o Bolsa Família em 8%, como anunciado na semana passada, também confundem. "Isso acaba sendo mais uma indicação para os agentes [econômicos] de que a inflação neste ano será maior do que se previa", comenta Basiliki Litvac, economista da MCM Consultores.
"O grande temor dos analistas, neste momento, é o de que se instale algum tipo de indexação salarial. Não digo que não é justo, mas é inconveniente. Uma renda menor reduz o consumo e ajuda a segurar a inflação", destaca Freitas Filho.
Na opinião de Rodrigo Trotta, superintendente de tesouraria do banco Banif, já é considerado "fato consumado" entre os analistas que a inflação neste ano ficará acima do centro da meta, de 4,5%. "Agora, trata-se de moldar as expectativas para 2009. Para isso, a atitude do governo é fundamental."
Trotta diz acreditar que a velocidade de expansão do crédito -que tem impulsionado a demanda interna- deverá arrefecer, contribuindo para a acomodação dos preços. Alguns economistas chegam a defender maior controle e endurecimento das regras para a concessão de empréstimos, como a diminuição dos prazos. Porém, a maior parte dos especialistas continua apostando que o próprio mercado se encarregará de afinar as condições de acordo com a demanda.
Espera-se ainda que, depois de um período de crescimento forte, o apetite dos trabalhadores por consumo tende a diminuir -o seu desejo de adquirir bens terá sido saciado e a sua renda estará comprometida com os parcelamentos.


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