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Brasil quer substituir dólar por real também no comércio com Índia
País negocia alternativa de moeda no comércio com China, Argentina e Uruguai
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BASILEIA
O presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, propôs ontem a seu colega da Índia iniciar estudos para
a implementação do comércio
nas moedas nacionais dos dois
países, em vez do dólar.
É o quarto país com que autoridades brasileiras discutem
a troca do dólar por suas próprias moedas: Argentina, China, Uruguai e agora Índia.
Com a Argentina, o processo
já se iniciou mas atinge, por enquanto, apenas 1% do volume
de trocas entre os dois países.
A Índia antes de qualquer
resposta quer se familiarizar
com o mecanismo, ao contrário
do que aconteceu com a China,
com quem Meirelles também
conversou sobre o assuntos,
mas no sábado.
Zhu Xiaochuan, o presidente
do Banco Central chinês, concordou em iniciar os estudos
concretos para o novo mecanismo cambial.
Meirelles diz que é prematuro falar em cronograma para o
início das operações comerciais em reais e iuanes, a moeda
chinesa, mas, com base na experiência de idêntica relação
Brasil/Argentina, acredita que
em menos de dois anos se poderá iniciar o processo de negociação bilateral.
Mercosul
Dois anos foi o tempo que levou para que Brasil e Argentina
implementassem o comércio
em suas próprias moedas. A experiência adquirida e o fato de a
China também estar comercializando com a Argentina nas
moedas nacionais torna razoável esperar um cronograma
mais acelerado.
Comerciar em moedas locais
tem a óbvia vantagem de, ao eliminar o dólar, cortar um fator
de volatilidade externo a Brasil
e China, no caso.
Hoje, um contrato de exportação tem que levar em conta a
relação real/iuan, que obviamente flutua, mas também a
flutuação do dólar entre cada
uma dessas moedas, num momento de grande volatilidade
da moeda norte-americana.
China
Meirelles distingue entre a
substituição do dólar no comércio bilateral e a substituição da moeda norte-americana
como referência global.
Xiaochuan é quem mais insiste em que é preciso encontrar um substituto para o dólar
neste segundo papel.
Meirelles, no entanto, alerta:
"Para que o dólar deixe de ser
usado como moeda reserva,
tem que haver outra moeda que
desempenhe esse papel".
O euro, quando foi lançado
em janeiro de 1999, parecia um
candidato óbvio, pelas dimensões da economia do conglomerado europeu, mas não
avançou o suficiente para se
impor como alternativa.
A hipótese mais falada hoje é
a de usar os Direitos Especiais
de Saque (padrão contábil do
Fundo Monetário Internacional, alicerçado em uma cesta de
moedas internacionais). Mas
há questões "nada triviais", diz
Meirelles, para que se chegue a
essa situação.
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