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Planalto pode criar rombo de R$ 4 bi à Caixa
Lula vetou artigos de MP que davam respaldo legal para encontro de contas feito entre agentes do mercado imobiliário
Para se livrar de esqueleto que ronda o balanço, a Caixa defendeu a inclusão do texto na MP, mas o Tesouro recomendou a Lula o veto
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O veto do presidente Lula a
um acordo aprovado pelo Congresso Nacional poderá gerar
prejuízo de cerca de R$ 4 bilhões para a Caixa Econômica
Federal por conta de negociações antigas feitas entre entidades que concediam financiamentos imobiliários e dois fundos ligados ao setor, segundo
estimativas iniciais.
A ideia dos artigos 13 e 14, incluídos na MP 460 durante a
tramitação do texto no Congresso, era dar respaldo legal
para um encontro de contas
feito, ainda no início da década
de 90, entre agentes que operavam no mercado imobiliário, a
própria Caixa, o FCVS (fundo
criado em 1967 para cobrir resíduos de financiamentos habitacionais) e o FGDLI (fundo
que garantia a liquidez do mercado nos anos 80).
Como havia uma cadeia de
dívidas e créditos envolvendo
essas instituições, elas assinaram contratos liquidando as
pendências. No caso da Caixa,
além de gestor, o banco era devedor do FCVS e usou créditos
recebidos dos demais agentes
para quitar sua dívida.
Os contratos previam também um ajuste por conta do diferencial de juros embutido nos
débitos e créditos de cada um e
estipulava um prazo para quitação, o que nunca foi cumprido. A área jurídica da Fazenda
questionou a legitimidade dos
acordos e o assunto permaneceu pendente até agora.
Segundo a Folha apurou, a
Caixa defendeu a inclusão, na
MP, do texto que legalizava o
encontro de contas e também
permitia a quitação definitiva
da parcela de juros. Tudo para
se livrar do esqueleto que ronda o balanço da instituição.
Mas o Tesouro, a quem caberia pagar a conta, foi contra essa negociação e recomendou ao
presidente Lula que vetasse
parcialmente o texto. Além de
não querer desembolsar cerca
de R$ 220 milhões que faltam
ser pagos para as empresas que
fizeram os empréstimos habitacionais na época, a ideia do
Tesouro era apenas legalizar o
acerto com a Caixa.
Na justificativa do veto, o
presidente destaca a recomendação da Fazenda de que o texto "não atende ao interesse público". O argumento é que o
impacto nas contas públicas
seria significativo, sobretudo,
se comparado com o dinheiro
que a União precisa para financiar o programa habitacional
Minha Casa, Minha Vida.
"Em vez de estímulo à economia ou subsídio a famílias de
menor renda, o valor assumido
pela União, pelo acréscimo das
dívidas do FCVS, seria todo
transferido aos agentes financeiros, sem nenhum benefício
aos mutuários".
A estratégia do governo tenta
preservar a parcela da dívida da
Caixa já dada como quitada. No
entanto, os próprios integrantes da equipe econômica admitem que o caminho seguido
não resolverá o problema.
O tema é complexo demais e
não foi resolvido com a aprovação parcial do texto original.
Na prática, segundo um técnico, ao deixar de fora o ajuste
dos juros, é como se o governo
reconhecesse apenas metade
dos contratos firmados.
O vice-presidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival,
diz que ainda não é possível
afirmar qual será o impacto financeiro. Ele confirma que a
Caixa gostaria de ter encerrado
a pendência com a MP, mas diz
que a instituição discutirá com
o governo como encaminhar o
assunto a partir de agora.
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