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Novos prejuízos ameaçam a Parmalat
Parecer de auditores questiona continuidade da empresa, que diz ter sofrido com a crise e as mudanças no setor lácteo
Balanço de 2008, divulgado com cinco meses de atraso, mostra perdas de R$ 450 mi no ano; controladora fala em retomada dos negócios
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
As operações da Laep Investments, controladora da marca
Parmalat no Brasil, correm o
risco de serem descontinuadas.
Esta é a opinião da Ernst &
Young, que auditou o balanço
da empresa referente a 2008,
divulgado apenas ontem, com
cinco meses de atraso.
"A empresa e suas controladas têm sofrido contínuos prejuízos operacionais e apresentado deficiência de capital de
giro [...], fatores que geram dúvida quanto à possibilidade de
continuar em operação", escreveram os auditores independentes em parecer.
No ano passado, o prejuízo da
Laep foi de R$ 450 milhões, ante perdas de R$ 59 milhões, em
2007. O relatório afirma ainda
que a continuidade das atividades depende do sucesso do plano dos gestores para tirar a empresa da crise.
Segundo a Laep, uma série de
fatores levou à situação difícil.
No primeiro semestre de 2008,
por exemplo, o leite cru teve alta de 23,6% em relação ao mesmo período de 2007. Ao mesmo
tempo, o preço para o consumidor caiu, reduzindo os ganhos
da empresa.
"[Esse cenário foi] consequência direta da entrada de
novos grupos empresariais no
setor lácteo, o que provocou
queda ainda mais significativa
das margens", escreveu Marcus
Elias, presidente do conselho
de administração da Laep, em
e-mail à Folha.
Segundo ele, no ano passado,
novos grupos viram a possibilidade de consolidação e crescimento do setor, inclusive com
apoio de bancos oficiais. O
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), por exemplo, financiou
Perdigão, Bom Gosto, Nilza e
outros grupos. Já a Laep, por
incorporar a Parmalat, em processo de recuperação judicial,
não teve apoio e financiamento
dos bancos oficiais.
Com o início da crise financeira, a situação da Laep, que
vivia seu momento mais agressivo de expansão, se agravou.
Sem crédito, a empresa foi
obrigada a pagar quase todo
seu endividamento bancário à
época, num valor superior a R$
300 milhões. Eram esses empréstimos que financiavam
suas operações e sua expansão.
"Não tivemos outra alternativa senão reavaliar a nossa estratégia de consolidação", escreveu Elias. "Estamos promovendo uma reestruturação que
tornará a companhia mais ágil,
enxuta e com uma estrutura de
capital adequada."
A iniciativa de concentrar a
operação no Sudeste, onde estão 65% das vendas da Laep,
com a venda e o arrendamento
de fábricas em outras regiões,
também sofreu revezes. Mesmo tendo decidido pela venda
de ativos em setembro, os credores da recuperação judicial e
a "imprevisibilidade jurídica"
atrasaram a entrada de recursos na empresa.
Esses atrasos "provocaram
vultuosas perdas nos resultados operacionais e considerável redução no volume de vendas", segundo o relatório dos
administradores apresentado
ontem. Em outras palavras,
apesar de esperar implantar rapidamente a nova estratégia
para suas operações, a Laep
não conseguiu vender ativos e
teve perdas operacionais causadas pela falta de capital de giro. Também sofreu com a queda dos preços de seus ativos, "já
depreciados pelo cenário econômico restritivo".
"Podemos assegurar que não
existe nenhum plano de desmonte da empresa", escreveu
Elias. "Mas, sim, um plano de
reestruturação que prevê a recuperação plena dos negócios e
a reorganização de uma nova
companhia que seja competitiva no cenário que se instalou
no setor de lácteos."
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