São Paulo, sábado, 29 de agosto de 2009

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Novos prejuízos ameaçam a Parmalat

Parecer de auditores questiona continuidade da empresa, que diz ter sofrido com a crise e as mudanças no setor lácteo

Balanço de 2008, divulgado com cinco meses de atraso, mostra perdas de R$ 450 mi no ano; controladora fala em retomada dos negócios


CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

As operações da Laep Investments, controladora da marca Parmalat no Brasil, correm o risco de serem descontinuadas. Esta é a opinião da Ernst & Young, que auditou o balanço da empresa referente a 2008, divulgado apenas ontem, com cinco meses de atraso.
"A empresa e suas controladas têm sofrido contínuos prejuízos operacionais e apresentado deficiência de capital de giro [...], fatores que geram dúvida quanto à possibilidade de continuar em operação", escreveram os auditores independentes em parecer.
No ano passado, o prejuízo da Laep foi de R$ 450 milhões, ante perdas de R$ 59 milhões, em 2007. O relatório afirma ainda que a continuidade das atividades depende do sucesso do plano dos gestores para tirar a empresa da crise.
Segundo a Laep, uma série de fatores levou à situação difícil. No primeiro semestre de 2008, por exemplo, o leite cru teve alta de 23,6% em relação ao mesmo período de 2007. Ao mesmo tempo, o preço para o consumidor caiu, reduzindo os ganhos da empresa.
"[Esse cenário foi] consequência direta da entrada de novos grupos empresariais no setor lácteo, o que provocou queda ainda mais significativa das margens", escreveu Marcus Elias, presidente do conselho de administração da Laep, em e-mail à Folha.
Segundo ele, no ano passado, novos grupos viram a possibilidade de consolidação e crescimento do setor, inclusive com apoio de bancos oficiais. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por exemplo, financiou Perdigão, Bom Gosto, Nilza e outros grupos. Já a Laep, por incorporar a Parmalat, em processo de recuperação judicial, não teve apoio e financiamento dos bancos oficiais.
Com o início da crise financeira, a situação da Laep, que vivia seu momento mais agressivo de expansão, se agravou. Sem crédito, a empresa foi obrigada a pagar quase todo seu endividamento bancário à época, num valor superior a R$ 300 milhões. Eram esses empréstimos que financiavam suas operações e sua expansão.
"Não tivemos outra alternativa senão reavaliar a nossa estratégia de consolidação", escreveu Elias. "Estamos promovendo uma reestruturação que tornará a companhia mais ágil, enxuta e com uma estrutura de capital adequada."
A iniciativa de concentrar a operação no Sudeste, onde estão 65% das vendas da Laep, com a venda e o arrendamento de fábricas em outras regiões, também sofreu revezes. Mesmo tendo decidido pela venda de ativos em setembro, os credores da recuperação judicial e a "imprevisibilidade jurídica" atrasaram a entrada de recursos na empresa.
Esses atrasos "provocaram vultuosas perdas nos resultados operacionais e considerável redução no volume de vendas", segundo o relatório dos administradores apresentado ontem. Em outras palavras, apesar de esperar implantar rapidamente a nova estratégia para suas operações, a Laep não conseguiu vender ativos e teve perdas operacionais causadas pela falta de capital de giro. Também sofreu com a queda dos preços de seus ativos, "já depreciados pelo cenário econômico restritivo".
"Podemos assegurar que não existe nenhum plano de desmonte da empresa", escreveu Elias. "Mas, sim, um plano de reestruturação que prevê a recuperação plena dos negócios e a reorganização de uma nova companhia que seja competitiva no cenário que se instalou no setor de lácteos."


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