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Confiança volta, mas pode ter fôlego curto, dizem analistas
CRISTIANE BARBIERI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O acordo entre republicanos
e democratas para a aprovação
do pacote de US$ 700 bilhões
que tentará resgatar a confiança no mercado financeiro americano era necessário e deve
acalmar as Bolsas nesta semana, segundo economistas. Na
Ásia, a Bolsa de Tóquio abriu
hoje com alta de 0,47%.
"Será uma oportunidade de
resolver a crise de forma mais
regulada", afirma Júlio Sérgio
Gomes de Almeida, consultor
do Iedi (Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial). "Em economia, os
processos de limpeza ordenados podem ser dolorosos, mas
os desordenados são trágicos."
Para eles, porém, é possível
que a volta da confiança no
mercado financeiro dos EUA
tenha fôlego curto. Isso porque
será necessário discutir a dinâmica do uso dos US$ 700 bilhões, e a montanha-russa financeira deverá continuar até
que se tenha certeza da limpeza
dos títulos podres.
"No primeiro momento, as
Bolsas vão reagir positivamente, já que houve uma injeção de
ânimo de US$ 700 bilhões com
intenção de recuperar a credibilidade do mercado. Mas é
possível esperar por outras crises dentro dos mercados americano, europeu e japonês. O
plano de resgate é importante,
mas serão os próximos resultados de bancos e empresas que
vão dar o tom do mercado",
afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
Inicialmente, a expectativa
dos economistas com o pacote
é que sejam tirados dos bancos
dos EUA os títulos ruins para,
em seguida, adotar medidas
que dêem aos mutuários condições de pagamento de dívidas.
"O governo vai buscar medidas que permitam aos mutuários ter condições de pagamento", diz Almeida. "Como os títulos não valem nada, o reescalonamento poderá ajudar a dar
confiança ao mercado."
Para Silveira, no entanto, é
possível que a economia norte-americana não reaja até que se
tenha claro como será feito o
ajuste por democratas ou republicanos -quem ganhar a eleição presidencial em novembro.
"Seja de quem for o modelo
de ajuste, vai doer, pois a economia americana, que passou
da fase de liquidez farta, está
entrando em recessão", diz Silveira. "O novo governo vai ter
de gerenciar escassez de crédito, crescimento e emprego."
Alguns economistas, entretanto, acreditam que os momentos mais agudos da crise já
passaram. "Não se pode tomar
o que aconteceu nos últimos 15
dias como referência, seja para
o mercado financeiro ou o de
capitais", diz Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco
WestLB. "Foi uma crise aguda,
rara de ser vista, que gerou um
ambiente da mais profunda incerteza. A tendência é que não
haja volta à situação anterior de
stress, já que o mercado espera
uma sinalização de coordenação política em torno da crise."
Essa desconfiança dos mercados gerou no Brasil maior
restrição e controle de crédito
dos bancos às empresas nas últimas semanas. "Na medida em
que é tomada decisão do acordo
para o pacote, a confiança é estabelecida e os financiamentos
tendem a voltar", diz Alex
Agostini, economista-chefe da
Austin Ratings.
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