São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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Confiança volta, mas pode ter fôlego curto, dizem analistas

CRISTIANE BARBIERI
FÁTIMA FERNANDES

DA REPORTAGEM LOCAL

O acordo entre republicanos e democratas para a aprovação do pacote de US$ 700 bilhões que tentará resgatar a confiança no mercado financeiro americano era necessário e deve acalmar as Bolsas nesta semana, segundo economistas. Na Ásia, a Bolsa de Tóquio abriu hoje com alta de 0,47%.
"Será uma oportunidade de resolver a crise de forma mais regulada", afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). "Em economia, os processos de limpeza ordenados podem ser dolorosos, mas os desordenados são trágicos."
Para eles, porém, é possível que a volta da confiança no mercado financeiro dos EUA tenha fôlego curto. Isso porque será necessário discutir a dinâmica do uso dos US$ 700 bilhões, e a montanha-russa financeira deverá continuar até que se tenha certeza da limpeza dos títulos podres.
"No primeiro momento, as Bolsas vão reagir positivamente, já que houve uma injeção de ânimo de US$ 700 bilhões com intenção de recuperar a credibilidade do mercado. Mas é possível esperar por outras crises dentro dos mercados americano, europeu e japonês. O plano de resgate é importante, mas serão os próximos resultados de bancos e empresas que vão dar o tom do mercado", afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
Inicialmente, a expectativa dos economistas com o pacote é que sejam tirados dos bancos dos EUA os títulos ruins para, em seguida, adotar medidas que dêem aos mutuários condições de pagamento de dívidas.
"O governo vai buscar medidas que permitam aos mutuários ter condições de pagamento", diz Almeida. "Como os títulos não valem nada, o reescalonamento poderá ajudar a dar confiança ao mercado."
Para Silveira, no entanto, é possível que a economia norte-americana não reaja até que se tenha claro como será feito o ajuste por democratas ou republicanos -quem ganhar a eleição presidencial em novembro.
"Seja de quem for o modelo de ajuste, vai doer, pois a economia americana, que passou da fase de liquidez farta, está entrando em recessão", diz Silveira. "O novo governo vai ter de gerenciar escassez de crédito, crescimento e emprego."
Alguns economistas, entretanto, acreditam que os momentos mais agudos da crise já passaram. "Não se pode tomar o que aconteceu nos últimos 15 dias como referência, seja para o mercado financeiro ou o de capitais", diz Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB. "Foi uma crise aguda, rara de ser vista, que gerou um ambiente da mais profunda incerteza. A tendência é que não haja volta à situação anterior de stress, já que o mercado espera uma sinalização de coordenação política em torno da crise."
Essa desconfiança dos mercados gerou no Brasil maior restrição e controle de crédito dos bancos às empresas nas últimas semanas. "Na medida em que é tomada decisão do acordo para o pacote, a confiança é estabelecida e os financiamentos tendem a voltar", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.


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