São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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TRANSE

Mercado aguarda equipe de transição e reduz negócios; vencimento de "swap" pressiona moeda dos EUA, que vai a R$ 3,78

Dólar e risco sobem em dia de cautela

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

No dia seguinte à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dólar e risco Brasil fecharam o dia em alta. O risco-país, calculado pelo banco JP Morgan, subiu 1,9% e encerrou a 1.813 pontos.
A valorização da moeda americana foi de 1,34%, para R$ 3,78.
São dois os focos de atenção desta semana do mercado, após a confirmação da vitória de Lula: a divulgação dos primeiros nomes e medidas do governo petista e o vencimento de cerca de US$ 2 bilhões em "swaps" cambiais, na sexta-feira.
O mercado aguarda para hoje o anúncio de nomes que integrarão a equipe de transição do novo governo. Além disso espera por algumas sinalizações relacionadas à responsabilidade fiscal.
A expectativa fez as tesourarias de bancos optar pela cautela. Os maiores negociadores do mercado ontem foram empresas exportadoras e importadoras. As movimentações dos dois lados fizeram o dólar oscilar entre alta de 1,6% e queda de 1%. Ao fim do dia, o saldo do fluxo foi negativo, e a moeda subiu.
Pela manhã, as operações foram bastante reduzidas, por conta da expectativa para o primeiro pronunciamento de Lula, feito no início da tarde.
"O discurso foi bom, mas não trouxe nenhuma novidade. O PT precisa de crédito. Ainda há muitas dúvidas entre os investidores, em especial os internacionais, porque é um partido que assume pela primeira vez o governo", avalia Joaquin Kokudai, diretor de tesouraria do Lloyds TSB.
"Mas, com o tempo, a tendência é que as dúvidas diminuam", diz.
Clive Botelho, diretor da tesouraria do banco Santos, afirma que o dia foi de poucas notícias, e o fato de sexta-feira reunir os vencimentos de "swaps" e, também, do dólar na BM&F já pressiona as cotações.
"Esses vencimentos grandes trazem ansiedade para o mercado, que já se movimenta em função dessa data".
Os vencimentos cambiais de sexta-feira são decorrentes das rolagens feitas pelo Banco Central de dívida pública atrelada ao dólar neste mês.
Em outubro, venceram cerca de US$ 6 bilhões nesses papéis.
Devido às más condições do mercado, o BC não conseguiu renovar a totalidade dos papéis e o pouco que conseguiu foi renovado no curtíssimo prazo a taxas superiores a 50%.
Analistas avaliaram que a intenção era conseguir rolar os papéis a taxas menores, definido o novo presidente. Houve os que criticaram a decisão, pelo fato de ela resultar em grande concentração de vencimentos logo após a eleição.
Hoje o BC tentará iniciar a rolagem desses papéis. Segundo comunicado da instituição, serão ofertados 19 mil contratos com vencimento em 2 de dezembro e outros 5.000 com vencimento em dezembro de 2004.
Se o BC, mais uma vez, tiver dificuldades para concretizar a renovação, o mercado poderá forçar o dólar nos próximos dias para influenciar a formação do Ptax (preço médio do dólar, medido diariamente pelo BC), que balizará o resgate dos papéis.
Dessa forma, os detentores dos contratos conseguem elevar seus ganhos.
O mau desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo, que caiu 4,4%, e do C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, que teve baixa de 3,2%, também influiu negativamente o fechamento do dólar ontem.


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