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LUÍS NASSIF
O mapa da burocracia
Vamos entender um
pouco mais a novela do
PPP (Perfil Profissiográfico
Profissional, documento exigido pelo INSS, como uma espécie de histórico de saúde de cada trabalhador), por meio da
visão de um engenheiro de segurança do trabalho, Antonio
Aurélio do Amaral. O engenheiro é crítico da "segurança
de papel" -os escritórios que,
em vez de ajudar na segurança
do trabalho, se limitam a viver
da burocracia. E acha que cabe
ao Estado fiscalizar e punir
quem tem atividade insalubre,
e às empresas, recorrer livremente à consultoria profissional para melhorar suas condições ambientais.
PPRA e PCMSO não são laudos, mas programas de ações
preventivas (PPRA) ou de controle médico (PCMSO), explica
ele. Ambos já existem há quase
dez anos e, no caso da maioria
das empresas, sua elaboração e
sua execução são muito simples.
Com o PCMSO ocorre o contrário: somente um médico pode elaborar esse programa e
cumpri-lo. Seu cumprimento
acaba se resumindo, na maioria dos casos, à execução de
exames médicos periódicos.
"Os funcionários que admitimos acham engraçado a forma
como acontece o tal "exame",
que consiste em responder a algumas perguntas, do tipo "tem
algum problema de saúde?", ou
ainda se o funcionário "toma
algum tipo de medicamento" e
coisas do tipo", narra o leitor
Ricardo Mourtada, dono de
um restaurante em Campinas.
O PPRA visa prevenir insalubridade. Já o PCMSO detecta
até problemas de ergonomia
que atingem trabalhadores de
escritório. Em cima desses dois
programas -legítimos em si,
diz Amaral-, a burocracia
inútil montou sua indústria.
Estabelecimentos simples como um condomínio residencial, em que um PPRA detalhista e cuidadoso se resumiria
a três ou quatro páginas (já incluídas as descrições do local e
as transcrições de dispositivos
legais), têm seu PPRA "recheado" com assuntos que não lhe
são pertinentes, tais como prevenção de acidentes, prevenção de incêndio, ergonomia,
instalações elétricas, legislação
municipal e farta transcrição
de leis e normas, conta Amaral. Uma verdadeira salada
mal escrita com volume de
uma "lista telefônica", diz.
Nas últimas semanas, o leitor
Airton Cerqueira Leite, síndico
do condomínio dos edifícios
Coral e Anaconda, no Butantã, em São Paulo, recebeu dezenas de malas-diretas de escritórios especializados em
saúde do trabalho, querendo
"vender" o produto PPP. Em
todas as malas-diretas, letras
garrafais salientando que o
não-cumprimento da norma
sujeitaria o condomínio a multas pesadas.
No caso de indústrias que
trabalham com matérias-primas que realmente requerem
cuidados de segurança, Amaral diz ter analisado PPRAs volumosos que nem sequer citavam o principal agente ambiental. "É a deturpação de um
instrumento capaz de reduzir
magnificamente a multidão de
encostados no INSS devido a
doenças profissionais e capaz
de "zerar" as aposentadorias especiais, tão onerosas para o
Brasil", diz.
Continuo nos próximos dias.
Mas solicito aos leitores que comecemos a mapear essa praga
da burocracia, que me enviem
e-mails com relatos de casos de
burocracia inúteis a que são
submetidos em sua vida profissional e pessoal.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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