São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2007

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Folhainvest

Ação da Bovespa exige foco do investidor

Para especialistas, grande desafio dos acionistas é como acompanhar o desempenho da Bolsa de SP agora como uma empresa

Analistas vêem tendência positiva, mas ressaltam que papéis são mais suscetíveis a turbulências externas do que os de outras empresas

FABRICIO VIEIRA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Após sua abertura de capital e a estréia das ações em pregão, a dúvida do investidor agora é: como avaliar a Bovespa como uma empresa? Analistas afirmam que, apesar de as projeções serem favoráveis, não é tarefa simples compreender por enquanto se a Bovespa Holding irá ter resultados satisfatórios ou mesmo mais atraentes que o de outras grandes companhias.
No começo deste ano, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) ainda era uma associação sem fins lucrativos, que tinha a finalidade de suprir o mercado com um local apropriado e um sistema onde se pudesse negociar ativos, principalmente ações.
Mas, atenta à tendência mundial, a Bovespa resolveu em 2006 dar início à sua desmutualização -processo que leva à abertura de capital das Bolsas de Valores. Com a estréia de suas ações no pregão de sexta-feira, a Bovespa Holding passou a ser uma das 434 companhias com papéis listados no mercado acionário brasileiro.
"A primeira coisa que se tem de olhar é o volume de negócios. A Bovespa vive de quê? Quanto mais volume de negócios e mais empresas abertas, melhores as perspectivas", avalia Lucy Sousa, presidente da Apimec/SP. "A aposta é de que a Bovespa vai zelar muito enquanto companhia aberta pelos custos e pela rentabilidade. Vai zelar com mais rigor ainda pelas suas margens [de lucro]."
O que as aberturas de capital de Bolsas pelo mundo mostram é que a operação costuma ser bem aceita no mercado (cerca de 70% das mais relevantes Bolsas do planeta já lançaram, ou estão próximas de lançar, suas ações em pregão).
A Bovespa iniciou seus negócios como uma das 15 maiores companhias do mercado de capitais brasileiro. A disparada de 52,13% das suas ações ordinárias no pregão inicial, na sexta-feira, mostra que muita gente que ficou de fora do IPO (lançamento público inicial de ações, na sigla em inglês) correu para comprar os papéis quando esses chegaram ao mercado.
Ninguém sabe estimar o fôlego para as ações da Bovespa continuarem em alta, negociadas acima dos R$ 30 -na sexta, fecharam vendidas a R$ 34,99. No primeiro prospecto feito pelos coordenadores da operação de IPO, colocou-se no preço estimado para as ações um piso de R$ 15,50. As ações estrearam vendidas a R$ 23.
"A tendência para a Bovespa [como empresa] é muito positiva, pois vai acompanhar o desenvolvimento do mercado de capitais. Especialmente porque se espera que o grau de investimento seja alcançado pelo país em 2008, o que poderia trazer mais capital externo para o mercado brasileiro", afirma o economista Alex Agostini, da consultoria Austin Rating.

Riscos
Porém, talvez mais do que qualquer empresa, a Bovespa está altamente suscetível às turbulências internacionais.
Em um momento de crise como o enfrentado pelos mercados mundiais, especialmente em agosto, a Bovespa Holding poderia ter maiores dificuldades para gerar receitas. Se os negócios encolherem, empresas deixarem de abrir capital e as ações como um todo se desvalorizarem, a nova companhia pode ter de enfrentar problemas extraordinários para se mostrar lucrativa e interessante para seus acionistas.
A Bovespa é a maior Bolsa de Valores da América Latina. Devido a seu tamanho e estrutura, especula-se que possa vir a ser alvo de aquisições pesadas, de grandes blocos, por parte de grupos e fundos internacionais. Como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) decidiu que haverá um teto de 15% na participação de um investidor no capital da Bovespa (ou da BM&F, quando esta abrir o seu capital), as Bolsas não devem ser assumidas por um novo controlador no futuro.

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