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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Lucro maior não garante recuperação econômica
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Diz a sabedoria convencional que o caminho para
uma empresa sair da crise é aumentar os lucros. Boa parte dos
modelos de crescimento econômico depende do reinvestimento dos lucros. Portanto, a notícia
de que os lucros das empresas
norte-americanas tiveram o
maior aumento dos últimos
dois anos no quarto trimestre de
2002 deveria ser um sinal de recuperação iminente da maior
economia do mundo.
Mas não basta obter mais lucros, é preciso saber em qual
contexto isso ocorre. Primeiro,
as estatísticas indicam agora um
aumento expressivo dos lucros,
mas a base de comparação (trimestre final de 2001) é muito
baixa (corresponde ao período
imediatamente posterior aos
ataques terroristas).
Mais importante, no entanto,
é examinar com detalhe a origem desse aumento dos lucros
(ou redução de perdas) em algumas das principais empresas.
Destacam-se os gastos dos consumidores em carros e bens duráveis, em especial móveis e
utensílios para residências (gasto estimulado pela redução nas
taxas de juros nos Estados Unidos). A outra fonte de lucros foi
a redução de gastos nas empresas por meio de milhares de demissões.
É óbvia a contradição entre
maior consumo e menor emprego. É uma combinação insustentável, pois não é possível
que os consumidores continuem comprando mais casas e
carros, mesmo com juros baixos, enquanto as empresas continuam demitindo (afinal, muitos consumidores são também
trabalhadores). E não parece
possível reduzir ainda mais os
juros. As taxas hipotecárias já
estão no menor nível em três décadas.
O fato é que se trata de um
ajuste negativo. Empresas cujos
lucros aumentam pelo corte de
empregos não vão reinvestir os
lucros. Sem retomada de investimentos na produção, não há
recuperação do crescimento
econômico, mesmo com juros
baixíssimos.
O aumento nos lucros resulta
ainda de medidas de racionalização que não contribuem para
reanimar a economia. No varejo, as vendas natalinas foram
ruins, mas os lojistas reduziram
suas encomendas e estoques.
Os lucros podem aumentar
porque as lojas terão menos
mercadoria para liquidar. Nos
setores produtores de bens de
capital e de equipamentos de informática, no entanto, a depressão continua (já são seis trimestres de queda nos investimentos).
Também se esgotou o movimento de fusões e aquisições
(queda de 28% em 2002, menor
nível de negócios desde 1998).
Nos últimos anos, esse tipo de
operação propiciou a muitas
empresas e instituições financeiras uma sobrevida (sem contar
as maracutaias). Mas alguns dos
principais bancos de investimento já fecharam as portas ou
estão perto disso. A queda de receita no setor, nos últimos dois
anos, foi de 40% (essas instituições perderam US$ 260 bilhões).
A sabedoria convencional sofre outro abalo diante desses dados. Dizem os conservadores
que somente a flexibilização do
mercado de trabalho (redução
no custo das demissões e eliminação de direitos trabalhistas e
previdenciários) pode criar as
bases para a recuperação da economia. É uma crítica comumente dirigida aos governos europeus, mas também está na agenda latino-americana e brasileira.
A maior e mais flexível economia do mundo mostra o contrário. O aumento de lucros com
base no corte de empregos é não
apenas inútil, mas pode dificultar a retomada do crescimento
econômico.
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