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OPINIÃO ECONÔMICA
80, 100, 240 milhões de toneladas
BENJAMIN STEINBRUCH
²
Em abril deste ano, os ministros Francisco Turra (Agricultura) e Eliseu Padilha (Transportes) levaram ao presidente Fernando Henrique um estudo conjunto visando viabilizar a produção anual de até 340 milhões
de toneladas de grãos e de carne.
O detalhamento do projeto não
foi divulgado, mas a imprensa
registrou partes de um programa que visa, em prazo não divulgado, passar de 80 para 240
milhões de toneladas a produção brasileira de grãos e elevar a
100 milhões de toneladas a produção nacional de carnes.
Os objetivos, bastante ambiciosos, estão amparados em um
conjunto de estímulos aos produtores que inclui investimentos em infra-estrutura, ampliação de financiamentos, aumento da capacidade de armazenamento e frigorificação e melhorias nos sistemas de transporte,
especialmente no que toca a hidrovias e ferrovias.
O projeto dá prioridade especial às chamadas "fronteiras
agrícolas" de Estados como Tocantins, Mato Grosso, Amazonas, Pará e Maranhão, que já
dispõem de boas condições de
produção, mas enfrentam gargalos hoje intransponíveis no
que diz respeito ao transporte
das safras no rumo dos grandes
pólos de consumo doméstico e
dos pontos de embarque para os
mercados externos.
Os dois ministros (que serão
reempossados em 1º de janeiro)
evitaram declarações bombásticas, ao mesmo tempo em que insistiram na viabilidade dos planos, que não só atenderiam à
quase totalidade do consumo
interno do Brasil como gerariam excedentes competitivos
-em preço e qualidade- para
ampliar a participação agrícola
no programa nacional de exportações.
Mas é duro ver que, antes mesmo de se conhecer detalhes e
prazos para a triplicação da safra brasileiro de grãos, o país
continue patinando nos números do seu agronegócio e até
mesmo a meta de 100 milhões de
grãos, oficialmente prevista para o ano 2001, esteja sendo posta
em dúvida por motivos cada vez
mais difíceis de contestar.
A verdade é que o ministro da
Agricultura, por meio da Conab,
na semana passada, oficializou
suas previsões para a safra 98/99,
anunciando números superiores
a 83 milhões de toneladas de
grãos, que, se materializados, representarão o maior volume de
colheita jamais registrado no
país e traduzirão 7,8% de crescimento sobre a safra anterior de
97/98. As previsões foram respaldadas, dias depois, por uma consulta que o Banco do Brasil realizou nacionalmente com mais de
300 agrônomos e que chegou aos
mesmos números da Conab.
O tema do nosso potencial
agrícola e da necessidade de desenvolvermos o agronegócio em
nosso país não é novo para os leitores de meus artigos. Já registrei
que tem havido avanços na produtividade de alguns segmentos
da nossa agricultura e da nossa
pecuária, mas o volume geral
produzido cresce bem abaixo de
nossas potencialidades. Ao mesmo tempo, contemplamos grandes arrancadas de países que não
dispõem de terra nem de condições climáticas tão favoráveis
quanto as que temos no país. É o
caso, por exemplo, da Argentina.
Vamos torcer para se viabilizarem as previsões de 83 milhões de
toneladas para o período 98/99,
mas não podemos nos esquecer
que os vaticínios para a presente
safra não se confirmaram e os resultados foram bem menores que
os esperados.
Mas a hora é de avançar. A
produção agrícola do país, somada às atividades industriais e
de serviços ligadas ao chamado
agronegócio, já supera R$ 300 bilhões, o que corresponde a um
terço do nosso PNB (Produto Nacional Bruto) e quase um terço
do valor das nossas exportações,
ocupando idêntico percentual da
nossa força de trabalho, como
detalhei em artigo publicado em
setembro.
Já estão em andamento ações
na área do crédito agrícola, da
infra-estrutura, da armazenagem, do treinamento de mão-de-
obra, do aprimoramento da qualidade das sementes e das matrizes. O governo, inclusive, tem
acolhido, com realismo e humildade as sugestões que partem do
setor agrícola, lastreadas nas experiências dos que viabilizam a
produção e não apenas baseadas
nas hipóteses irrealistas que tantas vezes marcam os caminhos
apontados por burocratas e
"agricultores de gabinete".
Também já se alargou a consciência de que precisamos lutar
lá fora para impedir que continuem se ampliando as ações protecionistas dos países desenvolvidos que defendem publicamente
a abertura de mercados (inclusive o nosso) e, de outro lado, se
agarram a barreiras que, na prática, fecham ou estreitam as portas para nossas exportações.
Há também que expandir os
esforços destinados a estimular
os pequenos e médios produtores
-especialmente as unidades familiares-, de forma a que possam elevar a qualidade e a rentabilidade do que produzem,
ajudando a fixar as suas famílias
na terra, incorporando seus
membros à classe média e ao
mercado de consumo e colocando um freio na redução do número de empregos agrícolas que,
infelizmente, foram encolhidos
em pelo menos 5 milhões de ocupações nos últimos dez anos.
Os produtores brasileiros têm
se mostrado capazes de, rapidamente, adotar novas tecnologias
nas suas lavouras e nas suas criações. Eles também têm sido velozes na abertura de novas fronteiras como, por exemplo, a de produção de frutas, que no ano passado incorporou, só no Nordeste,
60 mil hectares à área destinada
à fruticultura, gerando, só aí,
mais 120 mil empregos.
Está na hora de agir. O novo
mandato presidencial se inaugura nesta semana com novos ministérios, novos secretários de Estado e alguns nomes novos que
ajudarão o presidente na sua luta para que se completem as reformas essenciais, se votem as
medidas previstas no ajuste fiscal e se dê nitidez às providências
destinadas a estimular a produção e promover a volta do desenvolvimento.
É a hora de chamar a atenção
do nosso mundo político e de toda a opinião pública para o
enorme potencial representado
pelo agronegócio em nosso país.
Uma atividade que, a par de gerar riquezas materiais, traduz os
seus avanços em conquistas sociais que o Brasil não pode mais
continuar adiando.
²
Benjamin Steinbruch, 45, empresário, graduado em administração de empresas e marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional,
da Metropolitana e da Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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