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ARTIGO
A reestruturação das finanças internacionais
FERNANDO FERRARI FILHO
LUIZ FERNANDO R. DE PAULA
²
A presente crise financeira mundial tem gerado um consenso em
torno da necessidade de reestruturação do sistema financeiro internacional, como condição imprescindível para que a economia
mundial possa voltar a experimentar períodos de expansão e prosperidade econômica. De fato, as instituições internacionais remanescentes do que restou do sistema de
Bretton Woods, entre as quais o
FMI, não têm mostrado capacidade de monitorar e solucionar a crise.
Se há um consenso em torno da
necessidade de reestruturar o sistema monetário-financeiro, não se
pode dizer o mesmo em relação
aos mecanismos que devem ser
implementados para eliminar as
instabilidades dos mercados financeiros e cambiais e, consequentemente, solucionar a crise
mundial.
Nesse particular, considerando
que a dinâmica da economia global está atualmente marcada pela
imprevisibilidade no comportamento das taxas de juros e de câmbio, reflexões acerca da análise
pioneira e inovadora de Keynes
podem ser de extrema utilidade
para a articulação de um novo sistema monetário-financeiro internacional, capaz de superar a atual
crise financeira e promover o crescimento econômico e o pleno emprego.
Keynes, há mais de 50 anos, por
ocasião da conferência de Bretton
Woods, propôs a criação de um
sistema monetário internacional
capaz de gerar, manter e distribuir
a liquidez internacional voltada
para a expansão da demanda agregada mundial. Para tanto, suas sugestões podem ser resumidas em
três proposições básicas: 1) criação
de um banco central mundial,
emissor de uma moeda própria,
como prestador de última instância; 2) regras monetárias e cambiais fixas, porém ajustáveis, previamente acordadas pelos países-membros do sistema monetário
internacional; e 3) regulação, por
parte dos bancos centrais nacionais, dos fluxos de capitais de curto
prazo, para evitar que estes pudessem desestabilizar as instituições
financeiras das economias.
Tendo como base essas proposições, a idéia central do que ficou
conhecido como "plano Keynes"
era tornar a moeda de reserva internacional -estável pelas regras
de taxas de juros e de câmbio conhecidas e regulada pelo banco
central mundial- um ativo não
passível de entesouramento e especulação por parte dos agentes
privados. Keynes preocupava-se,
assim, em criar mecanismos institucionais supranacionais que, ao
cercear o dinamismo instabilizador dos fluxos de capitais, pudessem reduzir as incertezas dos
agentes econômicos em relação às
suas decisões de gastos futuros.
Passadas cinco décadas, a grande
ironia do mundo globalizado, em
que vinha predominando o ideário
neoliberal, com sua fé inabalável
no livre funcionamento dos mercados e na livre mobilidade dos
fluxos de capitais, é que a compreensão dessa crise financeira internacional e sua solução passam,
essencialmente, pelas análises e
propostas de Keynes, por anos
contestadas pela ortodoxia econômica.
Mas o que pode ser feito para superar a atual crise? Indo ao encontro das proposições de Keynes, os
esforços devem estar centrados na
criação de uma unidade monetária
internacional única, que, ao exercer as suas funções de unidade de
conta, meio de troca e reserva de
valor, legitime as relações contratuais entre os agentes econômicos,
balizando, assim, o sistema de pagamentos internacionais.
Para tanto, é imprescindível que
o FMI (ou outra instituição) seja,
muito mais do que um mero "observador" da performance das políticas macroeconômicas de ajustamento de curto prazo, um prestamista internacional de última
instância para socorrer as economias nacionais que tenham dificuldades financeiras crônicas.
Também deve ter o poder de regular a liquidez internacional, centrada numa unidade monetária internacional única.
Para a redução das incertezas
inerentes à própria dinâmica da
economia capitalista global, é necessária, ainda, a adoção de regras
monetário-cambiais que evitem as
oscilações abruptas e inesperadas
das moedas nacionais conversíveis
em relação à moeda internacional
e mecanismos que desencorajem
os influxos de capitais especulativos, que fragilizam as políticas
econômicas nacionais.
Com base nessas idéias, entende-se que o sistema monetário internacional pode exercer de novo sua
influência para manter a estabilidade dos preços e ativos e regular
os ciclos econômicos. Espera-se
que, na essência, as divergências
de idéias e ações das nações não sejam impeditivas para que se tome
uma decisão em torno da necessidade de reestruturação do sistema
monetário-financeiro. Do contrário, parafraseando Keynes, "no
longo prazo todos estaremos mortos".
²
²
Fernando Ferrari Filho, 41, doutor em economia, é professor titular e diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
E-mail: ferrari@vortex.ufrgs.br
²
Luiz Fernando Rodrigues de Paula, 39, doutor
em economia, é professor-adjunto da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e coordenador do Núcleo de Finanças e Macroeconomia
da Universidade Cândido Mendes.
E-mail: lpaula@ax.apc.org
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