São Paulo, terça, 29 de dezembro de 1998

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LUÍS NASSIF
Uma revolução científica

Há uma revolução em andamento nas pesquisas científicas brasileiras, a partir do projeto Genoma, iniciado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Genoma é o conjunto de genes de um ser vivo.
O projeto juntou 30 laboratórios com uma meta em comum, cooperativa, de levantamento do mapa genético da Xylella fastidiosa -o amarelinho da laranja. Criou-se um instituto virtual, interligado pela Internet, com cada laboratório desenvolvendo um pedaço do projeto dentro de uma meta comum, controlada por sistemas interligados.
Foi o projeto de conclusão mais rápida e que mais permitiu aprendizado em toda a história da Fapesp.
Em pouco tempo, a idéia do instituto virtual tornou-se vitoriosa e os conceitos trazidos pelo Genoma estão se multiplicando com uma velocidade fantástica. Hoje em dia, não existe instituto de física, farmácia, bioquímica, no país, onde não se encontre pesquisadores atraídos pelas estradas abertas pelo projeto. O vestibular para biotecnologia da USP, neste ano, bateu todos os recordes de procura.
A idéia original do projeto foi de Fernando Reinach, do Departamento de Bioquímica da Universidade de São Paulo (USP).
Reinach percebeu a oportunidade. Mas nenhuma idéia vai para a frente se não contar com o bom gerente, que surgiu na figura de Andrew Simpson, pesquisador inglês que, depois de passar pela África, veio parar no Hospital do Câncer em São Paulo, desenvolvendo trabalhos para a Ludwig Foundation.
O projeto acabou criando visibilidade internacional, sendo noticiado até pela "Nature", uma das publicações científicas mais prestigiadas do mundo, e facilitando a vinda de especialistas estrangeiros, que passaram a acompanhar seu desenvolvimento.
O que primeiro chamou a atenção é que era o primeiro patógeno vegetal a ser sequenciado. O segundo foi a criação do Onça, um instituto virtual, cujo nome foi uma piada tropical em relação ao Tiger, o grande centro de sequenciamento genético.
O segundo tempo começa agora. Até o dia 22 deste mês a Fapesp recebeu propostas de projetos funcionais a serem desenvolvidos a partir das informações do Genoma, que proponham avanços no entendimento da praga do amarelinho.
A lista de prioridades foi definida por um comitê internacional, que está acompanhando o projeto.
² Pesquisador Simpson
Simpson é um pesquisador inglês que passou pela África para estudar moléstias tropicais, mas achou a matéria-prima brasileira mais rica.
O Brasil tem as condições ideais para desenvolver-se na área. Há abundância de pesquisadores, já que, mesmo em períodos de crise, não houve interrupções na concessão de bolsas. E existem bons laboratórios. Faltava apenas um objetivo, capaz de juntar essas potencialidades.
Na opinião de Simpson, é muito difícil ser pesquisador útil na universidade, ainda dotada de visão muito antiga. Além disso, não existe pesquisa no âmbito das empresas, por falta de infra-estrutura e porque as grandes empresas ainda não desenvolveram o conceito de pequena empresa associada.
Agora, as pequenas empresas poderão aproveitar as informações contidas no projeto e desenvolver estudos para encontrar a solução para o amarelinho. Quem encontrar primeiro estará rico, já que a praga atinge, hoje em dia, 30% dos laranjais paulistas.
Outro avanço do projeto foi o de criar a organização virtual. Se se fosse pensar em centro único, até hoje se estaria discutindo quem seria o diretor e onde ele ficaria instalado.
²


E-mail: lnassif@uol.com.br





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