|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Uma revolução científica
Há uma revolução em andamento nas pesquisas científicas brasileiras, a partir do projeto Genoma, iniciado pela
Fundação de Apoio à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp). Genoma é o conjunto de
genes de um ser vivo.
O projeto juntou 30 laboratórios com uma meta em comum, cooperativa, de levantamento do mapa genético da
Xylella fastidiosa -o amarelinho da laranja. Criou-se um
instituto virtual, interligado
pela Internet, com cada laboratório desenvolvendo um pedaço do projeto dentro de uma
meta comum, controlada por
sistemas interligados.
Foi o projeto de conclusão
mais rápida e que mais permitiu aprendizado em toda a história da Fapesp.
Em pouco tempo, a idéia do
instituto virtual tornou-se vitoriosa e os conceitos trazidos
pelo Genoma estão se multiplicando com uma velocidade
fantástica. Hoje em dia, não
existe instituto de física, farmácia, bioquímica, no país,
onde não se encontre pesquisadores atraídos pelas estradas abertas pelo projeto. O vestibular para biotecnologia da
USP, neste ano, bateu todos os
recordes de procura.
A idéia original do projeto
foi de Fernando Reinach, do
Departamento de Bioquímica
da Universidade de São Paulo
(USP).
Reinach percebeu a oportunidade. Mas nenhuma idéia
vai para a frente se não contar
com o bom gerente, que surgiu
na figura de Andrew Simpson,
pesquisador inglês que, depois
de passar pela África, veio parar no Hospital do Câncer em
São Paulo, desenvolvendo trabalhos para a Ludwig Foundation.
O projeto acabou criando visibilidade internacional, sendo noticiado até pela "Nature", uma das publicações científicas mais prestigiadas do
mundo, e facilitando a vinda
de especialistas estrangeiros,
que passaram a acompanhar
seu desenvolvimento.
O que primeiro chamou a
atenção é que era o primeiro
patógeno vegetal a ser sequenciado. O segundo foi a criação
do Onça, um instituto virtual,
cujo nome foi uma piada tropical em relação ao Tiger, o
grande centro de sequenciamento genético.
O segundo tempo começa
agora. Até o dia 22 deste mês a
Fapesp recebeu propostas de
projetos funcionais a serem
desenvolvidos a partir das informações do Genoma, que
proponham avanços no entendimento da praga do amarelinho.
A lista de prioridades foi definida por um comitê internacional, que está acompanhando o projeto.
²
Pesquisador Simpson
Simpson é um pesquisador
inglês que passou pela África
para estudar moléstias tropicais, mas achou a matéria-prima brasileira mais rica.
O Brasil tem as condições
ideais para desenvolver-se na
área. Há abundância de pesquisadores, já que, mesmo em
períodos de crise, não houve
interrupções na concessão de
bolsas. E existem bons laboratórios. Faltava apenas um objetivo, capaz de juntar essas
potencialidades.
Na opinião de Simpson, é
muito difícil ser pesquisador
útil na universidade, ainda
dotada de visão muito antiga.
Além disso, não existe pesquisa no âmbito das empresas,
por falta de infra-estrutura e
porque as grandes empresas
ainda não desenvolveram o
conceito de pequena empresa
associada.
Agora, as pequenas empresas poderão aproveitar as informações contidas no projeto
e desenvolver estudos para encontrar a solução para o amarelinho. Quem encontrar primeiro estará rico, já que a praga atinge, hoje em dia, 30%
dos laranjais paulistas.
Outro avanço do projeto foi o
de criar a organização virtual.
Se se fosse pensar em centro
único, até hoje se estaria discutindo quem seria o diretor e
onde ele ficaria instalado.
²
E-mail: lnassif@uol.com.br
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|