São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REVIRAVOLTA

Em ata, diretoria do BC diz que situação atual recomenda cautela

Temor de volta da inflação levou BC a manter os juros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A preocupação com o aumento da inflação foi o motivo apresentado ontem pelo Banco Central para a manutenção da taxa de juros em 16,5% ao ano. Ainda que admita não ser possível dizer se a alta dos preços é ou não temporária, o BC diz que a atual situação recomenda maior "cautela" na condução da política monetária.
A explicação consta na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que, na semana passada, manteve inalterados os juros básicos da economia. A decisão foi criticada por empresários e políticos.
Em dezembro, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou alta de 0,52%, contra 0,34% registrado em novembro. O chamado núcleo de inflação -que desconsidera tarifas públicas e preços de alimentos- também subiu, de 0,40% para 0,63%. O documento diz que a alta "pode significar apenas um evento isolado, provocado por motivos sazonais ou extraordinários, ou prenunciar uma aceleração persistente da inflação".
O BC justifica sua cautela dizendo que as projeções para a inflação neste primeiro trimestre subiram, de 1,51% para 1,61%. Com isso, a margem de manobra para o cumprimento da meta deste ano se reduziria. A pesquisa feita pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) que apontava a intenção dos empresários em reajustar seus preços também é citada com um sinal de pressão inflacionária.
O documento diz que, se os juros permanecerem em 16,5% ao ano e se a cotação do dólar se estabilizar ao redor de R$ 2,84, a inflação de 2004 ficará abaixo dos 5,5% fixados pela meta (que prevê tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo).
Ainda assim, o BC afirma que "existe uma possibilidade concreta de que a inflação volte a se desviar da trajetória de metas". A projeção de inflação do BC para o ano não é citada. Uma das fontes de pressão seria a alta do preço dos combustíveis no mercado externo, que fez com que a estimativa de reajuste para o gás de cozinha subisse de 3,5% para 10%.
A manutenção dos juros em níveis elevados encarece o crédito, desestimulando o consumo e os investimentos. Nesse cenário, a economia tende a desacelerar, favorecendo o controle dos preços.
O economista Fernando Cardim, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de janeiro), defende que, quando identificada a possibilidade de aumento da inflação, o governo lance mão de outros instrumentos, além dos juros, para conter a alta dos preços.
Uma possibilidade, segundo ele, seria negociar com sindicatos e associações empresariais para que pressões inflacionárias não se transformem em reajustes excessivos de preços e salários. "Não há respostas simples ou seguras, mas a opção do governo tem sido pelo "status quo", e isso não oferece perspectivas muito brilhantes", diz Cardim.
A ata da reunião do Copom, porém, diz que a decisão de manter os juros não impedirá a retomada do crescimento prometida pelo governo para este ano. "Entendeu-se que a maior cautela na condução da política monetária neste momento não acarretaria riscos significativos para o processo de recuperação da atividade", diz o documento.


Texto Anterior: Meirelles manda mercado reler a ata
Próximo Texto: Opinião econômica: São Paulo, capital
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.