São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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ANÁLISE

Ata mostra que BC exagerou na cautela ao manter Selic

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O banco Central mostrou, de acordo com a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada ontem, que está trabalhando mais com cautela do que com fatos concretos no que se refere à inflação.
As justificativas para a interrupção da queda da taxa básica de juros (Selic) mostram que o BC ficou mais impressionado com as possíveis intenções de reajuste de preços do que com os aumentos realmente verificados pelos índices de inflação.
Os dados de inflação já conhecidos mostram que ela caminha nos trilhos, e as pressões vêm de fatores sazonais.
Dois itens preocupam o Banco Central: a intenção das empresas de aplicar reajustes nos preços de seus produtos e uma pressão maior no atacado.
A intenção de reajuste de preços foi mostrada por uma sondagem da Fundação Getúlio Vargas (a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação) e aponta que 43% das empresas pesquisadas manifestam o propósito de promover reajustes.
Entre a intenção dos empresários em reajustar e o aumento efetivo de preços há uma distância muito grande, principalmente neste momento em que a economia registra taxas recordes de desemprego e forte queda da renda, como mostraram os dados divulgados pela Fundação Seade e pelo Dieese na quarta-feira.
O segundo pilar de sustentação da última decisão do Copom -a sinalização de aumento de preços no atacado- também não é sustentável. Os índices de preços no atacado refletem os preços que os empresários gostariam de ter, mas não os que de fato conseguem.
As disputas de preços entre indústrias e supermercados têm mostrado nos últimos anos que a baixa renda dos consumidores acaba sendo um fator importante na formação final dos preços. Nem sempre prevalecem as listas do atacado.
A tendência de inflação é refletida melhor, neste momento, pelos índices de preços ao consumidor do que pelos índices de preços no atacado.
Os IPCs mostram exatamente os preços pagos pelos consumidores, já que não dá para barganhar valores no caixa dos supermercados.
Já no caso dos preços praticados no atacado, essa barganha é possível.

Pressão sazonal
E os preços aos consumidores não mostram nenhuma novidade inflacionária. As pressões atuais são sazonais -com destaque para os segmentos de alimentos e de educação-, e não há pressões futuras já definidas.
A inflação para este mês deverá ficar por volta de 0,7% em São Paulo, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), uma taxa próxima à média de 1999 a 2002. Em 2003, a alta foi de 2,2%.


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