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ANÁLISE
Ata mostra que BC exagerou na cautela ao manter Selic
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O banco Central mostrou, de
acordo com a ata da última
reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária), divulgada
ontem, que está trabalhando mais
com cautela do que com fatos
concretos no que se refere à inflação.
As justificativas para a interrupção da queda da taxa básica de juros (Selic) mostram que o BC ficou mais impressionado com as
possíveis intenções de reajuste de
preços do que com os aumentos
realmente verificados pelos índices de inflação.
Os dados de inflação já conhecidos mostram que ela caminha nos
trilhos, e as pressões vêm de fatores sazonais.
Dois itens preocupam o Banco
Central: a intenção das empresas
de aplicar reajustes nos preços de
seus produtos e uma pressão
maior no atacado.
A intenção de reajuste de preços
foi mostrada por uma sondagem
da Fundação Getúlio Vargas (a
Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação) e aponta
que 43% das empresas pesquisadas manifestam o propósito de
promover reajustes.
Entre a intenção dos empresários em reajustar e o aumento efetivo de preços há uma distância
muito grande, principalmente
neste momento em que a economia registra taxas recordes de desemprego e forte queda da renda,
como mostraram os dados divulgados pela Fundação Seade e pelo
Dieese na quarta-feira.
O segundo pilar de sustentação
da última decisão do Copom -a
sinalização de aumento de preços
no atacado- também não é sustentável. Os índices de preços no
atacado refletem os preços que os
empresários gostariam de ter,
mas não os que de fato conseguem.
As disputas de preços entre indústrias e supermercados têm
mostrado nos últimos anos que a
baixa renda dos consumidores
acaba sendo um fator importante
na formação final dos preços.
Nem sempre prevalecem as listas
do atacado.
A tendência de inflação é refletida melhor, neste momento, pelos
índices de preços ao consumidor
do que pelos índices de preços no
atacado.
Os IPCs mostram exatamente
os preços pagos pelos consumidores, já que não dá para barganhar valores no caixa dos supermercados.
Já no caso dos preços praticados
no atacado, essa barganha é possível.
Pressão sazonal
E os preços aos consumidores
não mostram nenhuma novidade
inflacionária. As pressões atuais
são sazonais -com destaque para os segmentos de alimentos e de
educação-, e não há pressões futuras já definidas.
A inflação para este mês deverá
ficar por volta de 0,7% em São
Paulo, segundo a Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas), uma taxa próxima à média
de 1999 a 2002. Em 2003, a alta foi
de 2,2%.
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