São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PÚBLICO E PRIVADO

Para o líder tucano, presidente ataca empresários por não ter como justificar a atual taxa de juros

Serra qualifica de "ironia" as críticas de Lula

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do PSDB, José Serra, protestou ontem contra os ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos empresários. Segundo Serra, esses ataques são "uma ironia" e "uma forma conservadora típica de reagir aos problemas e aos críticos".
"É uma ironia o Lula chamar os empresários de chorões, quando o volume de crédito na economia no final do ano passado foi o menor desde a implantação do real [em 1994] e as taxas de juros disputam o primeiro lugar com a Turquia", disse Serra à Folha. Em dezembro de 2003, o volume de crédito era de 25,5% sobre o PIB, ante 23,8% em dezembro de 2002.
Refratário a entrevistas desde a derrota para Lula nas eleições de 2002, o tucano entrou na disputa entre governo e empresários do lado dos empresários: "Como ele [Lula] não tem como justificar a política de juros, prefere desqualificar os que discordam. É uma forma conservadora típica de reagir aos problemas e aos críticos, uma resposta clássica e recorrente de governos conservadores".
Economista, ex-ministro do Planejamento e depois da Saúde nos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-1999 e 1999-2003), Serra acrescentou: "Em matéria econômica, o governo Lula se encaixa maravilhosamente entre aqueles que preferem errar seguindo o receituário convencional a tentar acertar buscando novos caminhos".
Ele também acusou Lula de ter um "discurso duplo": "Vai a um fórum internacional e diz uma coisa, depois volta e diz outra, como se a opinião pública fosse segmentada", disse, em referência à participação de Lula no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e no Fórum Econômico Mundial, na Suíça, no ano passado.
Isso tudo, na opinião do presidente do PSDB, é resultado principalmente da "falta de um projeto, de um programa de governo": "Qual a política industrial? Qual a política agrária? Qual a política social? Qual a política de integração regional?".
Depois, especificou: "Aliás, trocaram o ministro da Ciência e Tecnologia, mas ninguém sabe até agora qual a política do governo para o setor, nem o ministro que sai [Roberto Amaral] nem o ministro que entra [Eduardo Campos]".
E acrescentou: "Se houve um programa de governo, só serviu para disputar a eleição de 2002. Já era, digamos, nacional-populista, mas, mesmo este, ele [Lula] deixou de lado e não trocou por nenhum outro".
Serra tem limitado suas críticas a artigos, discursos para o partido ou rápidas entrevistas coletivas depois de solenidades. Ontem, porém, decidiu falar mais. No final, justificou: "O que eu cobro não é o que se fez em um ano. O que eu cobro é que não se sabe nem sequer o que se pretende fazer. O governo Lula tem sido bem avaliado pelo que não fez, não pelo que fez".


Texto Anterior: Retomada?: Lessa diz temer sobra de recursos no BNDES por falta de projetos
Próximo Texto: Empresários não são chorões, afirma Fiesp
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.