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PÚBLICO E PRIVADO
Para o líder tucano, presidente ataca empresários por não ter como justificar a atual taxa de juros
Serra qualifica de "ironia" as críticas de Lula
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do PSDB, José Serra, protestou ontem contra os ataques do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva aos empresários. Segundo Serra, esses ataques são
"uma ironia" e "uma forma conservadora típica de reagir aos problemas e aos críticos".
"É uma ironia o Lula chamar os
empresários de chorões, quando
o volume de crédito na economia
no final do ano passado foi o menor desde a implantação do real
[em 1994] e as taxas de juros disputam o primeiro lugar com a
Turquia", disse Serra à Folha. Em
dezembro de 2003, o volume de
crédito era de 25,5% sobre o PIB,
ante 23,8% em dezembro de 2002.
Refratário a entrevistas desde a
derrota para Lula nas eleições de
2002, o tucano entrou na disputa
entre governo e empresários do
lado dos empresários: "Como ele
[Lula] não tem como justificar a
política de juros, prefere desqualificar os que discordam. É uma
forma conservadora típica de reagir aos problemas e aos críticos,
uma resposta clássica e recorrente
de governos conservadores".
Economista, ex-ministro do
Planejamento e depois da Saúde
nos governos Fernando Henrique
Cardoso (1995-1999 e 1999-2003),
Serra acrescentou: "Em matéria
econômica, o governo Lula se encaixa maravilhosamente entre
aqueles que preferem errar seguindo o receituário convencional a tentar acertar buscando novos caminhos".
Ele também acusou Lula de ter
um "discurso duplo": "Vai a um
fórum internacional e diz uma
coisa, depois volta e diz outra, como se a opinião pública fosse segmentada", disse, em referência à
participação de Lula no Fórum
Social Mundial, em Porto Alegre,
e no Fórum Econômico Mundial,
na Suíça, no ano passado.
Isso tudo, na opinião do presidente do PSDB, é resultado principalmente da "falta de um projeto, de um programa de governo":
"Qual a política industrial? Qual a
política agrária? Qual a política
social? Qual a política de integração regional?".
Depois, especificou: "Aliás, trocaram o ministro da Ciência e
Tecnologia, mas ninguém sabe
até agora qual a política do governo para o setor, nem o ministro
que sai [Roberto Amaral] nem o
ministro que entra [Eduardo
Campos]".
E acrescentou: "Se houve um
programa de governo, só serviu
para disputar a eleição de 2002. Já
era, digamos, nacional-populista,
mas, mesmo este, ele [Lula] deixou de lado e não trocou por nenhum outro".
Serra tem limitado suas críticas
a artigos, discursos para o partido
ou rápidas entrevistas coletivas
depois de solenidades. Ontem,
porém, decidiu falar mais. No final, justificou: "O que eu cobro
não é o que se fez em um ano. O
que eu cobro é que não se sabe
nem sequer o que se pretende fazer. O governo Lula tem sido bem
avaliado pelo que não fez, não pelo que fez".
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