São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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Filial brasileira captou US$ 700 mi em 2002

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Parmalat Participações, uma das holdings que controlam as operações do grupo italiano no país, captou cerca de US$ 700 milhões em 2002, por meio da emissão de títulos conversíveis em ações, no mercado internacional.
A informação foi obtida na Junta Comercial de São Paulo pelo comitê de fiscalização da Parmalat, nomeado no último dia 16 pelo juiz Carlos Henrique Abrão, da 42ª Vara Cível de São Paulo. A holding e sua controlada, a Parmalat Brasil S.A. Indústria de Alimentos, pediram concordata preventiva anteontem.
O comitê, entretanto, ainda não conseguiu descobrir o destino dado ao dinheiro captado. Não se sabe nem se os recursos chegaram a entrar nos cofres da empresa.
Segundo um dos integrantes do comitê, na Junta Comercial consta apenas a autorização do Conselho de Administração para a holding fazer a captação.
Nos documentos levantados até ontem pelo comitê, foi constatado que a Parmalat Participações registrou uma subscrição de R$ 3 bilhões em seu capital. Esse pode ter sido o destino do dinheiro, porém o comitê ainda não localizou documento que comprove a integralização (aporte na forma de bens e imóveis) do capital.
O que o comitê desconfia é que o dinheiro não chegou a entrar na empresa. "Há movimentações muito estranhas, a empresa capta recursos lá fora, registra no seu capital, mas não tem o capital", diz o juiz Abrão.
A holding Parmalat Participações, na verdade, resume-se à figura de Andrea Ventura, representante dos controladores italianos -a Parmalat SpA e a Parmalat Food Holdings (UK) Ltd.
É ele quem assina a ata da reunião dos sócios cotistas que decidiu, no dia 27, pedir concordata preventiva. Ventura é, também, diretor financeiro da Parmalat Brasil S.A. Indústria de Alimentos, a empresa operacional do grupo. Nas últimas semanas, ele esteve na Itália negociando os destinos da operação brasileira.

Intimação
O presidente da Parmalat Alimentos, Ricardo Gonçalves, recusou-se anteontem a receber a intimação de Abrão para prestar informações. O oficial de Justiça esteve em sua casa no final do dia, mas não foi recebido. "A reunião está mantida para amanhã [hoje] à tarde, vamos ver se ele desobedecerá à convocação", disse o juiz.
Abrão afirmou que "é grande a possibilidade de solvência [recuperação] da Parmalat Alimentos, desde que ela não esteja muito envolvida nos problemas da sua holding local". Segundo Abrão, parte do endividamento da holding, estimado em US$ 1,4 bilhão, tem o aval da Parmalat Alimentos.
A extensão dessas relações ainda será apurada pelo comitê fiscalizador, para definir até que ponto o lado operacional foi contaminado pelas dívidas da controladora. Para isso, já se cogita ampliar o raio de ação do comitê cujas investigações limitam-se às operações dos últimos 90 dias da Parmalat Alimentos.


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