|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
O trabalho é nosso
BENJAMIN STEINBRUCH
Há 116 anos, milhares de
trabalhadores em greve foram às ruas em Chicago, nos Estados Unidos, para protestar contra as condições desumanas de
trabalho na já próspera indústria
americana. Uma das reivindicações era a redução da jornada de
13 horas para 8 horas por dia.
Movimentos trabalhistas não
eram muito comuns naquela época, e a polícia recebeu os manifestantes com extrema violência.
Houve prisões, muitos manifestantes foram feridos e alguns,
mortos.
Esse dia de protestos foi em 1º de
maio de 1886. Três anos depois,
num Congresso Socialista em Paris, foi instituído o Dia Mundial
do Trabalho, até hoje comemorado nessa data em quase todo o
mundo, seja capitalista ou socialista, exceto nos Estados Unidos,
onde é celebrado em 2 de setembro.
Amanhã, por conta dessas comemorações, é feriado no Brasil.
Não acho que o Dia do Trabalho
deveria ser comemorado trabalhando, como costumam dizer alguns. A data merece ser lembrada
por conta dos enormes avanços
nas relações trabalhistas ocorridas nesses 116 anos, inclusive no
Brasil.
Neste momento, porém, comemorações no Brasil não fazem
muito sentido. Embora os direitos
trabalhistas tenham sido quase
todos mantidos por aqui, nos últimos anos houve um absoluto desinteresse por algo que deveria ser
fundamental: a criação de novos
postos de trabalho.
Na semana passada, foi notícia
o desaparecimento de 103 mil empregos só na Grande São Paulo,
em um único mês -março. São
postos de trabalho que se vão, como já se foram milhões nos últimos anos, por causa de uma
orientação equivocada na qual
crescimento econômico e desenvolvimento representam mera
consequência de políticas fiscais e
monetárias e não objetivo básico.
Cerca de 2,1 milhões de jovens
ingressam anualmente no mercado de trabalho, sendo 250 mil
com diploma universitário. Para
essas pessoas, conseguir um emprego, qualquer que seja, mesmo
um estágio, é quase uma façanha.
Essas escassas oportunidades decorrem da passividade com que
os empreendedores foram tratados nesses anos de estabilização
econômica. O governo teve vergonha de apoiar setores nacionais
competitivos. Para não parecer
retrógrado nos tempos da globalização, abandonou as empresas
nacionais à sua própria sorte, sem
capital, sem crédito de longo prazo, expostas a juros exorbitantes e
a uma carga tributária elevadíssima.
A consequência disso foi a desnacionalização generalizada,
com empresas brasileiras sendo
vendidas ao capital estrangeiro,
um movimento que ainda não
terminou. Ao mesmo tempo, lá
fora, com crédito farto e barato,
as companhias concorrentes das
brasileiras ganhavam todas as
benesses oficiais.
Não temos muito a comemorar
no Dia do Trabalho porque milhões de nossos empregos foram
exportados. Quando os setores
competitivos brasileiros não são
incentivados, eles perdem mercado internacional e até nacional
para os concorrentes. Assim, os
empregos que poderiam ser criados aqui são criados lá fora.
O Brasil ainda dispõe de nichos
empresariais internacionalmente
competitivos. A indústria aeronáutica, com a liderança da Embraer, é um exemplo de que podemos concorrer com os estrangeiros também em áreas de alta tecnologia. Mas há vários outros setores, como celulose, siderurgia,
mineração, agronegócios, têxtil e
de calçados, que enfrentam e enfrentarão sem receios o desafio do
mercado externo se tiverem condições semelhantes às de seus concorrentes estrangeiros.
As autoridades do governo, com
honrosas exceções, reagem hoje
com um tom blasé às demandas
de estímulo à produção, ao crescimento econômico e à criação de
empregos. É lamentável que sejam assim insensíveis à importância do trabalho como elemento de combate à pobreza, de inserção social, de cidadania e de realização individual.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
Texto Anterior: Agora, leste do Estado recebe menos recursos Próximo Texto: Comércio global: Emergentes ampliam exportações Índice
|