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CONFLITO INTERNO
Relações da Fazenda com banco ficaram tensas com saída de Palocci
Bevilaqua lidera resistência do Banco Central a Mantega
SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A relação entre o Ministério da
Fazenda e o Banco Central funciona como fios desencapados:
qualquer atrito pode gerar um
curto-circuito. Guido Mantega
não comunga da tese conservadora da cúpula do BC, que trabalha
sempre com pé no freio quando
tem de decidir a trajetória dos juros no país. Do lado do BC, o foco
de resistência é muito mais o diretor de Política Econômica, Afonso
Bevilaqua, do que o próprio presidente, Henrique Meirelles.
Depois de ameaçar sair do cargo
pelo menos duas vezes nos últimos anos, Bevilaqua vinha negociando com Meirelles sua substituição desde o início de 2006.
Aproveitaria a já acertada saída de
Alexandre Schwartsman, diretor
de Assuntos Internacionais, e o
cenário relativamente tranqüilo
para fazer a transição.
Os diretores do BC foram a
campo em busca de nomes no
mercado financeiro para substituí-lo, mas as denúncias que derrubaram Antonio Palocci Filho
do comando da Fazenda atropelaram o plano original. E foram
necessárias algumas adaptações.
Segundo a Folha apurou, inicialmente Bevilaqua seria substituído por Mário Mesquita, do
ABN Amro, enquanto para o lugar de Schwartsman iria Paulo
Vieira da Cunha, ex-HSBC e professor da Universidade de Columbia. No entanto, com a nomeação
de Mantega para o lugar de Palocci, as avaliações dentro do governo foram que a saída de Bevilaqua
-que desde o início do governo
assumiu o papel de símbolo do
conservadorismo do Copom-
enfraqueceria o BC, dando espaço
para especulações sobre mudanças na política econômica. Era tudo o que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva não queria.
Para integrantes do governo,
Mantega, mais alinhado com as
posições desenvolvimentistas de
Dilma Rousseff (Casa Civil) do
que ao monetarismo do antecessor, precisaria de tempo para ganhar credibilidade no mercado.
Assim, a manutenção de Bevilaqua foi tentativa de indicar que a
política monetária é intocável.
No entanto, os convites a Mário
Mesquita e Paulo Vieira da Cunha
já tinham sido feitos. A solução foi
sacrificar o diretor de Normas,
Sérgio Darcy, e transferi-lo para a
presidência da Centrus, o fundo
de pensão dos funcionários do
BC. Para o lugar dele foi Alexandre Tombini, que estava na diretoria de Pesquisa Econômica. Para essa vaga irá Mesquita.
Resistência
Bevilaqua, por sua vez, ficou e
reforçou sua resistência às críticas
de excesso de conservadorismo
vindas da Fazenda e de ministros
como Dilma. Com a ida de Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro Nacional, para o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), saiu de cena seu maior
inimigo na área econômica.
Segundo interlocutores do governo, a posição do diretor é que,
se não foi demitido até hoje, depois de tantos bombardeios, então ele conduzirá seu trabalho como acha que deve ser. Mas também não está disposto a ficar apanhando gratuitamente nem admite ser desrespeitado. Por isso, a
cada discurso de Mantega considerado fora do tom, Meirelles age
para evitar que o atrito se amplie.
O problema é que, se Mantega
não tem tanta força política quanto Palocci, Meirelles também está
construindo uma nova relação
com o presidente Lula. Nas últimas semanas, ele convenceu o
presidente de que a queda mais
lenta dos juros não impedirá o
país de chegar ao auge da disputa
eleitoral com uma das taxas reais
mais baixas dos últimos tempos.
Para tentar se contrapor aos argumentos de que a expectativa de
inflação deste ano abaixo da meta
de 4,5% são a prova de que o BC
exagerou na dose de juros, Meirelles justificou que isso será corrigido porque o aumento dos gastos
públicos neste início de ano irá fazer a inflação subir um pouco,
atingindo o nível desejado.
Além do aumento do salário
mínimo, o governo corrigiu a tabela do IR (Imposto de Renda),
reajustou acima da inflação benefícios previdenciários com valor
acima de um salário mínimo e desonerou alguns setores produtivos. Todas as medidas representam aumento de dinheiro na mão
dos consumidores e empresários.
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