|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENERGIA
País começa a considerar seriamente o combustível como alternativa à gasolina, mas deve privilegiar produção local
Em busca de etanol, EUA olham para Brasil
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
Quando a General Motors exibiu na semana passada seus novos carros flex-fuel nas ruas de
Manhattan, boa parte das pessoas
não devem ter entendido do que
se tratava -não há na cidade de
Nova York um posto que ofereça
álcool combustível. No país "viciado em petróleo", palavras do
presidente George W. Bush, muitos sequer ouviram falar do combustível E85, mistura de 85% etanol de milho e 15% gasolina.
Há cerca de 5 milhões de automóveis flex-fuel nos Estados Unidos, algo próximo a 2% da frota
nacional. Em todo país, apenas
600 postos oferecem E85, boa parte em Illinois e Minnesotta. Mas,
com o barril de petróleo flertando
com a marca dos $75 e o galão da
gasolina se aproximando dos $3,
muitos estão levando mais a sério
a meta lançada pelo governo de
tornar o etanol americano competitivo e reduzir o consumo de
gasolina em 30% até 2012.
Após o discurso de Bush sobre o
estado da União em janeiro, muitos voltaram os olhos ao Brasil.
"Os Estados Unidos são viciados
em petróleo, que é geralmente
importado de partes instáveis do
mundo. A melhor forma de quebrar esse vício é por meio da tecnologia", afirmou Bush, apontando para combustíveis alternativos. Em seguida olhos se voltaram
para a produção de etanol da cana
de açúcar no Brasil e diversos editoriais questionaram a comparativa falta de vontade política dos
EUA -sem comentar, porém, a
tortuosa trajetória do programa
de álcool iniciada nos anos 1970.
Na terça passada, Bush anunciou plano para conter a alta do
petróleo e destacou a opção etanol. "O que é interessante e os
americanos não percebem é que,
com um pouco mais de gasto, nós
podemos converter um automóvel regular em um chamado "flex
fuel". E esse veículo "flex fuel" pode
rodar com combustível feito 85%
de etanol. Incrível, não?", disse. O
que o presidente considera incrível é difícil de assimilar para a
maioria dos americanos.
No setor automobilístico, a GM
saiu na frente com o oferecimento
dos FFVs (veículos flex fuel) com
uma campanha nacional de popularização de um combustível
praticamente desconhecido.
Além da Ford, que também aumentou a produção, há carros
flex-fuel da Daimler-Chrysler,
Isuzu, Mazda, Mercedes, Mercury
e Nissan.
Neste ano, a GM planeja fabricar 400 mil FFVs. Já a Ford, 250
mil, em cinco modelos. Ambas
apóiam a opção flex-fuel com
mote nacionalista: a redução da
dependência externa de óleo.
No autoshow de Nova York na
semana passada, a campanha da
GM foi agressiva e se deparou
com nova-iorquinos por hora
surpresos, desconfiados ou frustrados com a proposta flex-fuel.
Sob o lema "Pense verde, vá de
amarelo", a GM exibiu o modelo
GM Tahoe decorado como uma
espiga de milho e um locutor rouco que explicava a proposta.
Produção interna
Segundo o representante da
GM, o público se interessa pela
proposta menos nociva ao ambiente e menos dependente do
petróleo internacional, mas muitos sequer imaginavam que milho
pudesse render um combustível.
Em dez minutos, foi necessário
explicar três vezes aos curiosos
que o tanque pode receber gasolina, etanol ou qualquer mistura
dos dois. Um consumidor, Rene
Richthofen, 60, olhava desconfiado: "Mas por que vou comprar
um carro se o combustível não está disponível ainda?".
Partidários da popularização do
etanol alardeiam a triplicação do
número de bombas de etanol nos
postos até o final do ano. Mas
uma das grandes perguntas continua sendo a capacidade de suprir
o mercado interno no formato
atual. O etanol produzido hoje no
país é insuficiente para abastecer
a demanda atual.
Importação do Brasil
A possibilidade de aumentar as
importações é desprezada. O programa americano é claro ao defender combustíveis alternativos
produzidos no país.
As associações do setor rejeitam
a hipótese de aumento da importação do álcool brasileiro ou a redução das tarifas impostas hoje.
"Primeiro, 7% do mercado interno de etanol (280 milhões de
galões) podem ser importados
sem impostos", disse Kristin
Brekke, diretora da American
Coalition for Ethanol.
"Segundo, relaxar a tarifa secundária seria subsidiar o etanol
brasileiro, que já é pesadamente
subsidiado. A tarifa serve para
contra-balancear o crédito de 51
centavos por galão pago para
quem realiza a mistura de etanol
na gasolina", completou.
O Departamento de Energia do
governo americano não quis comentar a possibilidade de remoção da barreira de 54 centavos por
galão e afirmou que cabe ao Congresso qualquer modificação da
regra, o que impactaria o incentivo oferecido à produção nacional.
Por enquanto, o governo financia a pesquisa de etanol e subsidia
fabricantes e vendedores. A GM,
por enquanto, oferece o flex-fuel
sem custo adicional. Difícil saber
se a moda vai pegar -um dos potenciais motoristas que visitava o
estande no autoshow exemplifica
a dificuldade: "O carro anda com
óleo de oliva?!".
Texto Anterior: Imposto de renda: Receita espera 1 mi de declarações atrasadas Próximo Texto: Artigo: Avanço do setor financeiro é ameaça para estabilidade Índice
|