São Paulo, segunda-feira, 30 de abril de 2007

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Folhainvest

Estrangeiro impulsiona recordes da Bolsa

Entrada de capital externo estimula setor de capitais, mas tais recursos podem diminuir em caso de crise mundial, dizem analistas

Cenários externo e interno positivos elevam a atratividade da Bovespa; estrangeiros representam 34% dos negócios totais
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O investidor estrangeiro tem tido papel fundamental no atual virtuoso momento que a Bolsa de Valores de São Paulo atravessa, marcado por sucessivos recordes em várias frentes, como pontuação, volume negociado e quantidade de operações diárias inéditos.
Se, por um lado, a entrada de capital externo tem dado impulso à Bovespa, por outro, analistas lembram os riscos que uma crise internacional costuma trazer a esse movimento positivo, podendo afugentar esses recursos do mercado doméstico.
Uma confluência positiva dos cenários externo e interno tem elevado a atratividade do mercado acionário doméstico.
A economia brasileira atravessa um período de maior estabilidade, o que exclui do horizonte dos investidores muitos temores e incertezas. Na outra ponta, no entanto, há uma grande liquidez internacional -isso significa que há muito dinheiro em busca de retornos mais interessantes.
"Vemos o estrangeiro apostando em ações brasileiras e destinando investimentos que não são de curto prazo", afirma Roberto Nishikawa, diretor-presidente da Itaú Corretora. Atento a esse cenário, o Itaú tem atualmente representantes em Nova York, Londres e Hong Kong.
O movimento dos últimos dois anos levou os estrangeiros a voltarem a ser a categoria que mais realiza operações na Bovespa -posto que haviam perdido entre 2003 e 2004-, representando hoje cerca de 34% dos negócios totais feitos no mercado acionário.
No ano passado, entre compras e vendas, os estrangeiros movimentaram US$ 194,73 bilhões. Em 2005, ano do recorde de movimentação anterior, havia sido girado por esses mesmos investidores um total de US$ 107,58 bilhões.

Fundos de pensão
Os recursos externos que buscam as ações de companhias brasileiras costumam vir dos Estados Unidos e da Europa, pertencendo principalmente a aplicações destinadas a mercados emergentes e a fundos de pensão. A Ásia também começa a aparecer, com uma participação maior a cada dia, nos recursos que têm desembarcado por aqui.
Para o resultado da Bolsa paulista, a participação dos estrangeiros tem sido decisiva. Neste ano, em que a valorização acumulada pelo índice Ibovespa está em 10,7%, a diferença entre compras e vendas de ações feitas por esses investidores está positiva (até o dia 24) em R$ 1,57 bilhão -o que é equivalente a US$ 772 milhões.
Em 2002, ano marcado pela turbulência desencadeada pela tensão do período anterior às eleições presidenciais no Brasil, o Ibovespa registrou desvalorização de 17% e o saldo dos negócios com capital externo ficou negativo em R$ 1,75 bilhão (US$ 493 milhões, pela cotação do período). Ou seja, naquele ano de incertezas, os estrangeiros mais venderam do que compraram ações.
Outro exemplo: em 2003, quando a Bovespa teve considerável valorização de 97,3%, o balanço das operações feitas com capital externo foi positivo em volume recorde de R$ 7,49 bilhões (US$ 2,44 bilhões pelo câmbio médio do período).
As IPOs (sigla em inglês para Oferta Inicial Pública de Ações) também têm mostrado força e despertado o interesse dos estrangeiros.
Dos lançamentos de ações feitos nos últimos anos, a participação dos estrangeiros no total vendido tem um espantoso percentual médio de 70%.
"O forte interesse dos estrangeiros nas IPOs mostra que há uma busca por diversificação na hora em que decidem investir no Brasil", afirma Nishikawa, da Itaú Corretora.
Desde que as condições internacionais não sofram uma brusca mudança, a expectativa é a de que o Brasil alcance o "investment grade" (grau de investimento) em meados de 2008. A concretização do cenário vai abrir as portas para que mais algumas dezenas de bilhões de dólares ingressem na Bolsa de São Paulo.
Isso porque há fundos de pensão estrangeiros que têm normas que permitem que invistam apenas em emergentes que detêm o título de "investiment grade".
Ao conceder uma nota no nível de grau de investimento, as agências internacionais de classificação de risco, como a Standard & Poor's e a Moody's, avisam os investidores que aquele país carrega baixos riscos de dar calote em suas dívidas. Ou seja, estão entre os investimentos mais seguros.
Mas, como vários episódios já demonstraram, não basta ao Brasil estar bem-avaliado e com uma economia estável. Se o mundo entrar em um período de crise, os investidores podem liquidar ativos de emergentes para se abrigarem em papéis do Tesouro dos EUA -considerados os mais seguros do planeta.
"Não podemos esquecer que indicadores econômicos muito ruins nos EUA acabam fazendo com que os estrangeiros saiam da Bolsa", afirma Pedro Galdi, analista da corretora do banco Real ABN Amro.


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