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Folhainvest
Estrangeiro impulsiona recordes da Bolsa
Entrada de capital externo estimula setor de capitais, mas tais recursos podem diminuir em caso de crise mundial, dizem analistas
Cenários externo e interno positivos elevam a atratividade da Bovespa; estrangeiros representam 34% dos negócios totais
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O investidor estrangeiro tem
tido papel fundamental no
atual virtuoso momento que a
Bolsa de Valores de São Paulo
atravessa, marcado por sucessivos recordes em várias frentes, como pontuação, volume
negociado e quantidade de operações diárias inéditos.
Se, por um lado, a entrada de
capital externo tem dado impulso à Bovespa, por outro,
analistas lembram os riscos
que uma crise internacional
costuma trazer a esse movimento positivo, podendo afugentar esses recursos do mercado doméstico.
Uma confluência positiva
dos cenários externo e interno
tem elevado a atratividade do
mercado acionário doméstico.
A economia brasileira atravessa um período de maior estabilidade, o que exclui do horizonte dos investidores muitos
temores e incertezas. Na outra
ponta, no entanto, há uma
grande liquidez internacional
-isso significa que há muito dinheiro em busca de retornos
mais interessantes.
"Vemos o estrangeiro apostando em ações brasileiras e
destinando investimentos que
não são de curto prazo", afirma
Roberto Nishikawa, diretor-presidente da Itaú Corretora.
Atento a esse cenário, o Itaú
tem atualmente representantes em Nova York, Londres e
Hong Kong.
O movimento dos últimos
dois anos levou os estrangeiros
a voltarem a ser a categoria que
mais realiza operações na Bovespa -posto que haviam perdido entre 2003 e 2004-, representando hoje cerca de 34%
dos negócios totais feitos no
mercado acionário.
No ano passado, entre compras e vendas, os estrangeiros
movimentaram US$ 194,73 bilhões. Em 2005, ano do recorde
de movimentação anterior, havia sido girado por esses mesmos investidores um total de
US$ 107,58 bilhões.
Fundos de pensão
Os recursos externos que
buscam as ações de companhias brasileiras costumam vir
dos Estados Unidos e da Europa, pertencendo principalmente a aplicações destinadas a
mercados emergentes e a fundos de pensão. A Ásia também
começa a aparecer, com uma
participação maior a cada dia,
nos recursos que têm desembarcado por aqui.
Para o resultado da Bolsa
paulista, a participação dos estrangeiros tem sido decisiva.
Neste ano, em que a valorização acumulada pelo índice Ibovespa está em 10,7%, a diferença entre compras e vendas de
ações feitas por esses investidores está positiva (até o dia
24) em R$ 1,57 bilhão -o que é
equivalente a US$ 772 milhões.
Em 2002, ano marcado pela
turbulência desencadeada pela
tensão do período anterior às
eleições presidenciais no Brasil, o Ibovespa registrou desvalorização de 17% e o saldo dos
negócios com capital externo
ficou negativo em R$ 1,75 bilhão (US$ 493 milhões, pela cotação do período). Ou seja, naquele ano de incertezas, os estrangeiros mais venderam do
que compraram ações.
Outro exemplo: em 2003,
quando a Bovespa teve considerável valorização de 97,3%, o
balanço das operações feitas
com capital externo foi positivo
em volume recorde de R$ 7,49
bilhões (US$ 2,44 bilhões pelo
câmbio médio do período).
As IPOs (sigla em inglês para
Oferta Inicial Pública de Ações)
também têm mostrado força e
despertado o interesse dos estrangeiros.
Dos lançamentos de ações
feitos nos últimos anos, a participação dos estrangeiros no total vendido tem um espantoso
percentual médio de 70%.
"O forte interesse dos estrangeiros nas IPOs mostra que há
uma busca por diversificação
na hora em que decidem investir no Brasil", afirma Nishikawa, da Itaú Corretora.
Desde que as condições internacionais não sofram uma
brusca mudança, a expectativa
é a de que o Brasil alcance o "investment grade" (grau de investimento) em meados de
2008. A concretização do cenário vai abrir as portas para que
mais algumas dezenas de bilhões de dólares ingressem na
Bolsa de São Paulo.
Isso porque há fundos de
pensão estrangeiros que têm
normas que permitem que invistam apenas em emergentes
que detêm o título de "investiment grade".
Ao conceder uma nota no nível de grau de investimento, as
agências internacionais de
classificação de risco, como a
Standard & Poor's e a Moody's,
avisam os investidores que
aquele país carrega baixos riscos de dar calote em suas dívidas. Ou seja, estão entre os investimentos mais seguros.
Mas, como vários episódios
já demonstraram, não basta ao
Brasil estar bem-avaliado e
com uma economia estável. Se
o mundo entrar em um período
de crise, os investidores podem
liquidar ativos de emergentes
para se abrigarem em papéis do
Tesouro dos EUA -considerados os mais seguros do planeta.
"Não podemos esquecer que
indicadores econômicos muito
ruins nos EUA acabam fazendo
com que os estrangeiros saiam
da Bolsa", afirma Pedro Galdi,
analista da corretora do banco
Real ABN Amro.
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