São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2001

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FINANÇAS

Banco Central aproveita enquete que faz no mercado para pedir explicações sobre a forte alta da moeda norte-americana

Dólar alto faz BC advertir mais de 10 bancos

ESTELA CAPARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A

O Banco Central reuniu na semana passada em Brasília e São Paulo diretores financeiros de mais de dez grandes bancos tanto estrangeiros como nacionais a fim de repreendê-los por operações consideradas "fora do manual" no mercado de câmbio
A Folha apurou, no entanto, que muitos outros bancos participaram da operação e também foram chamados para a conversa com o Banco Central. As operações não são ilegais e o próprio BC reconheceu isso no encontro com os banqueiros. O problema é que a pressão feita por essas instituições têm contribuído para a elevação do dólar em um momento delicado para o mercado de câmbio. As turbulências na Argentina e nos EUA e a crise política no Brasil vem fazendo empresários e investidores comprarem a moeda para se proteger de novas oscilações do dólar. Tanta procura fez com que a quantidade de moeda no mercado diminuísse, elevando ainda mais sua cotação. Aí é que está a preocupação do BC: a alta exagerada do dólar pode contaminar o preços de produtos importados e, por consequência, afetar a meta de inflação prevista para o ano de 4%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima.
Por tudo isso, o BC decidiu tomar uma atitude mais firme com alguns bancos.
Tanto em Brasília como em São Paulo as reuniões com as intituições financeiras foram comandadas pelos diretores Luiz Fernando Figueiredo e Tereza Grossi. Os dois pediram aos executivos que explicassem os negócios que suas mesas de operações realizavam no mercado de câmbio.
O que chamou a atenção do Banco Central foi o movimento desses bancos para pressionar a cotação média diária do dólar, a chamada Ptax. Essa média é a principal referência no fechamento de contratos comerciais e financeiros feitos pelos bancos ou seus clientes. Também serve de parâmetro no fechamento de balancetes no final de cada mês.

"Fora do manual"
Nesta semana, o BC recebeu relatórios de alguns bancos com o detalhamento das informações. Apesar de as operações não serem ilegais, o BC pediu aos bancos que não as fizessem mais.
A Folha apurou junto a alguns executivos desses bancos repreendidos pelo BC que eles não estavam influenciando a cotação da moeda americana em benefício próprio. O objetivo era proteger (fazer hedge) o patrimônio diante do risco de novas oscilações do dólar.
Os bancos alegam que há outro motivo para o nervosismo no câmbio nos últimos dias. Além de todas as crises, existe uma disputa no mercado futuro às vésperas dos vencimentos de contratos na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Isso porque uma parte dos investidores apostou na queda do dólar e uma outra na alta. Em razão dessa queda-de-braço, o mercado ficou bastante agitado nestes últimos dias.
O mercado avalia, no entanto, que tanto a iniciativa do BC de chamar os executivos dos bancos como a intervenção de sexta-feira passada, quando a autoridade monetária vendeu títulos cambiais e ainda ofereceu dólar, serviram para aliviar bastante ontem o mercado. Tanto que o dólar subiu menos ontem.
O BC não quer se manifestar oficialmente sobre as conversas que tem mantido com os bancos. Tampouco as instituições falam oficialmente. Mas espera-se que, depois de analisar os relatórios esta semana, o BC se manifeste sobre essas operações.
A Folha apurou que o BC não se sentiu plenamente satisfeito com as explicações dos bancos e que continua observando as operações no mercado de câmbio.
Os diretores do BC deverão convidar outros bancos -ou os mesmos- para pedir que eles não continuem realizando essas operações.


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